Tênis tecnológicos da Nike serão aceitos com restrições na Olimpíada

Corredores de elite bateram recordes usando o calçado no ano passado

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The New York Times

O tênis Nike Vaporfly, calçado atlético preferido dos mais rápidos maratonistas do planeta e também causa de escrutínio por conta de seu efeito de melhora de desempenho, será permitida na Olimpíada de Tóquio, anunciou na sexta-feira a federação mundial de atletismo.

Os dirigentes evitaram decidir se o design único do calçado –que oferece solas muito acolchoadas e hastes de fibra de carbono que propelem os corredores– propicia vantagem desleal aos atletas que os calçam. Optaram,  em lugar disso, por adotar mudanças nas regras que segundo eles foram concebidas para “oferecer mais clareza aos atletas e fabricantes de calçados de todo o planeta, e proteger a integridade do esporte”.

Maratonistas calçados com a Nike Vaporfly durante a Maratona de Dubai
Maratonistas calçados com a Nike Vaporfly durante a Maratona de Dubai - Christopher Pike - 24.jan.20/Reuters

A federação internacional, World Athletics, anunciou que a partir de 30 de abril “qualquer calçado precisa ter sido disponibilizado no varejo (físico ou online) para compra pelos atletas por pelo menos quatro meses antes que possa ser usado em competições.

“Se um calçado não estiver disponível para todos, ele deve ser considerado como protótipo, e seu uso em competição não será permitido. Desde que essas regras sejam cumpridas, qualquer calçado que esteja disponível para todos, ainda que personalizado por motivos estéticos ou médicos para se adequar ao pé de um atleta específico, será permitido."

Nos últimos meses, corredores patrocinados pela Nike vêm testando novas versões dos calçados de alta tecnologia da empresa, que incluem uma haste de aço que ajuda a propelir o atleta.

A entressola do Vaporfly aparentemente confere 30% mais retorno de energia do que a maioria das espumas usadas em calçados de corrida desde a década de 1970. Um grupo de dirigentes revisou o design do calçado nos dois últimos meses.

Os calçados sofreram intenso escrutínio em outubro, depois que duas marcas históricas na maratona caíram em questão de dias, para atletas equipados com os calçados. Eliud Kipchoge, do Quênia, rompeu a barreira das duas horas em uma prova extraoficial, e Brigid Kosgei, também do Quênia, superou o recorde feminino da maratona por 81 segundos.

Os calçados também se tornaram populares entre atletas que não fazem parte da elite do esporte, e suas cores, matizes de verde ou rosa, são vistas com frequência nos pés dos amadores de mais alto desempenho.

Uma análise do The New York Times sobre maratonistas amadores demonstrou que os calçados de fato cumpriam a promessa da Nike de melhorar o desempenho em pelo menos 4%.

Nos últimos 13 meses, corredores que usam os calçados da Nike registraram os cinco tempos mais rápidos na história das maratonas. Outras empresas que fabricam calçados de competição estão tentando recuperar o atraso, com novos modelos, mas enfrentam obstáculos por conta de patentes.

A regra anterior da World Athletics determinava apenas que os calçados não deveriam conferir "vantagem desleal” e teriam que estar “razoavelmente disponíveis” para todos. As regras não explicavam de que maneira esses dois valores deveriam ser avaliados.

A federação vinha sofrendo forte pressão para que definisse uma regra sobre os tênis Vaporfly antes da olimpíada de Tóquio, na metade deste ano.

Antes que a decisão fosse anunciada, alguns atletas –especialmente aqueles que não são patrocinados pela Nike– expressaram preocupação por o modelo ter criado um desnível na competição, da mesma forma que trajes de natação de alta tecnologia fizeram antes que seu uso em competições fosse proibido.

“Querer limitar a tecnologia dos calçados não faz de você um inimigo da inovação”, escreveu a maratonista americana Sara Hall no Twitter. “Inovação é ótimo –até que crie um salto quântico no esporte. A natação fez a coisa certa quando isso aconteceu, para preservar o esporte. Espero que o atletismo também venha a fazê-lo."

Tradução de Paulo Migliacci

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