Descrição de chapéu The New York Times

Mulher com câncer incurável correu principais maratonas do mundo

Americana Renee Seman traçou objetivo após ser diagnosticada com doença terminal

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Sandra E. Garcia
Nova York | The New York Times

Quando Renee Seman descobriu que tinha câncer de mama em estágio 4, em 2014, estabeleceu uma meta para si mesma: dedicar o tempo que lhe restava a correr maratonas. Seis delas, na verdade: Nova York, Chicago, Boston, Berlim, Tóquio e Londres.

Juntas, elas formam o circuito Abbott World Marathon Majors, uma coleção das maratonas mais prestigiosas do planeta. Desde 2006, apenas 6,5 mil pessoas completaram todas as seis, informaram os organizadores; uma delas é Seman, que concluiu a última de suas provas, a Maratona de Londres, em abril de 2019.

Renee Seman com as medalhas das maratonas que correu antes de morrer
Renee Seman com as medalhas das maratonas que correu antes de morrer - David Seman/The new York Times

“Ela sabia que a doença era incurável desde o momento do diagnóstico e estava determinada a aproveitar ao máximo o seu tempo”, disse David Seman, 48, o marido de Renee, sobre a situação de saúde de sua mulher. “Isso parece ter concentrado seu foco e dedicação."

Renee Seman, que de acordo com seu marido morreu em 29 de janeiro, correu as seis maratonas depois de ter sua doença diagnosticada, atraindo a atenção e o apoio dos maratonistas e de sobreviventes do câncer.

Uma reportagem sobre ela foi publicada pela revista Runner’s World pouco antes da Maratona de Londres, no ano passado. Além do marido, Renee deixou a filha Diane, 6. Eles vivem em Long Island, em Nova York.

Não é incomum que pacientes de doenças terminais façam listas de objetivos finais que gostariam de atingir antes de morrer, disse Melissa Ring, diretora de fiscalização e de questões regulatórias na Organização Nacional de Casas de Repouso e Cuidados Paliativos dos Estados Unidos.

“As pessoas rememoram suas vidas quando surge aquele choque inicial de um diagnóstico irreversível”, disse Ring, que tem mais de 20 anos de experiência no tratamento de pacientes terminais.

“Algumas pessoas contemplam como extrair o máximo daquilo que elas têm e buscam descobrir como obter a melhor qualidade de vida possível no tempo que lhes resta. Em outros casos, elas se concentram nas coisas que deixaram inacabadas e ainda desejam fazer.”

Seman começou a correr como forma de se manter saudável, antes do nascimento de sua filha, disse seu marido. Ela começou com provas de cinco e dez quilômetros e estava treinando para uma meia-maratona em Boston ao receber seu diagnóstico, segundo disse à Runner’s World.

Depois de descobrir que tinha câncer, conta David Seman, sua mulher só pensava em duas coisas: passar o máximo de tempo possível com a filha e conquistar a medalha Six Stars Finishers, que a Abbott World Marathon Majors confere a quem concluir as seis provas.

“Ela falava sobre correr essas maratonas em todo o mundo”, disse. “Imaginava que talvez pudesse fazê-lo. Sua concentração era muito intensa. Foi realmente maravilhoso."

Pouco mais de um ano depois, em novembro de 2015, Renee Seman disputou sua primeira maratona, em Nova York.

“Era algo que eu sempre desejei fazer”, afirmou Seman à Runner’s World. “E comecei a pensar que, se aquilo era algo que eu sempre tinha desejado fazer, precisava fazê-lo já. Depois de me inscrever, fiquei chocada, sem acreditar no que tinha feito. Fiquei estupefata."

Depois vieram as maratonas de Chicago, em 2016; Boston, em 2017; e Berlim, em 2018.

Em 2019, Seman correu suas duas últimas maratonas, em Tóquio e Londres, separadas por um intervalo de oito semanas. Isso exigiu que ela treinasse o máximo possível, mesmo que estivesse fazendo quimioterapia.

Mas Seman não desistiu nem entrou em pânico. Em lugar disso, depois da maratona de Berlim, começou a treinar sob a orientação de Daphne Matalene, 46, técnica de corredores.

“Mesmo que você seja muito saudável e esteja muito treinado, a coisa ainda é muito sacrificada”, disse Matalene, que já correu cinco das seis maratonas. “Renee não se deixou abater por isso. O objetivo dela não era vencer. Não era nem mesmo superar seu melhor tempo”.

Matalene desenvolveu um regime de treinamento que se encaixava no cronograma de tratamento de Seman. Ela corria alguns quilômetros sem se sacrificar muito, pela manhã, e fazia quimioterapia à tarde. Dias depois, quando se recuperava da sessão de tratamento, fazia corridas longas, de 19 a 25 quilômetros.

Muitos corredores que tentam concluir as seis maratonas estão enfrentando problemas de saúde, ou tomaram sustos recentemente por motivos de saúde, disse Lorna Campbell, porta-voz da Abbott World Marathon Majors.

“Renee é uma dentre muitos corredores que disputaram as provas enquanto enfrentavam adversidades”, disse Campbell, acrescentando que muitas pessoas corriam maratonas enquanto enfrentavam doenças como o mal de Parkinson, câncer, depressão e outros problemas de saúde.

“Correr é um instrumento que lhes propicia uma distração”, acrescentou.

Seman parece ter conseguido manter uma concentração muito intensa em seu treinamento. Antes de sua prova final, em abril, os médicos perceberam que ela sempre parecia mais animada quando podia correr.

“Ela sabia que não estaria por aqui por muito mais tempo, mas mesmo assim não pretendia simplesmente desistir”, disse David Seman, acrescentando que “o câncer a derrotou, mas ela nunca parou de tentar e manteve a determinação”. “Ela queria que sua filha visse uma pessoa batalhadora e disposta a fazer coisas difíceis, e não uma pessoa doente."

Tradução de Paulo Migliacci

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