Andrew Parsons, presidente do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC), acusa o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley, de tentar intimidá-lo durante o processo eleitoral da entidade nacional.
Parsons é uma das 49 pessoas com direito a voto na assembleia do COB por ser um dos membros brasileiros do Comitê Olímpico Internacional. Ele declarou apoio a Rafael Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis e um dos adversários de Wanderley, que concorrerá à reeleição no dia 7 de outubro.
Segundo Parsons, a tentativa de intimidação se deu justamente por se aliar a Westrupp, que tem como candidato a vice o ex-jogador de vôlei de praia Emanuel Rego.
Nos últimos dias, o dirigente do IPC enviou uma mensagem de áudio ao Conselho de Administração do COB relatando que Wanderley, ao saber que ele havia subscrito (uma maneira de formalizar apoio) a chapa adversária, teria preparado uma carta para enviar ao COI questionando a sua conduta na assembleia.
“Acho que é um fato grave, que merece apuração, e vou representar [uma reclamação] junto ao Conselho de Ética do COB. Não acho que como membro da assembleia eu possa ser pressionado dessa forma”, afirmou Parsons à Folha. A reportagem teve acesso ao conteúdo do áudio enviado por ele.
Parsons diz ter ligado ao mandatário do COB para esclarecer a situação, uma vez que o estatuto da entidade prevê a possibilidade da subscrição para todos os membros da assembleia.
Segundo o relato dele, Wanderley declarou em tom de ameaça que ainda não havia enviado a mensagem ao COI, mas que ela estava pronta para ser disparada a qualquer momento.
“Eu pensei que os tempos de intimidação no movimento olímpico do Brasil eram coisa do passado. Ele [Wanderley] já tinha dito em outra ocasião que eu, como membro do COI, não deveria me manifestar, e na época eu disse que tinha uma opinião diferente e ficou por isso mesmo. Desta vez, não. Ele me disse na ligação que a carta estava pronta para ser enviada, e eu disse que ele estava tentando me intimidar”, afirmou Parsons.
Ele relata ainda que já avisou ao responsável do COI pelas relações com os comitês nacionais que a entidade talvez receba uma mensagem a respeito do episódio. “O fato de dizer que a carta está pronta, como quem diz ‘está pronta para ser enviada caso você continue nessa direção', para mim, é muito grave."
Procurado pela reportagem, Paulo Wanderley afirmou ter ficado surpreso e que consultará o COI sobre a conduta de Parsons. O dirigente também alegou não ter feito acusações ou tentado intimidar o chefe do IPC.
“Não é comum que a entidade máxima do Movimento Olímpico interfira na política interna dos comitês olímpicos nacionais. Por isso vou questionar o COI se essa é uma posição isolada e independente de seu representante no país ou se de fato espelha a opinião do COI", disse o presidente do COB à Folha.
“Poderia dizer que fazer representações e acusações infundadas, perante o Conselho de Ética ou no Conselho de Administração do COB e na imprensa, com tom acima do decoro exigido de um representante do COI, é sim uma tentativa de intimidação do sr. Andrew, e não o contrário. Posso afirmar que esta eleição, após décadas, só foi possível graças às mudanças de estatuto realizada em minha gestão”, completou Wanderley.
A disputa à presidência é a primeira do COB com mais de um candidato inscrito desde 1979. A entidade foi chefiada por Carlos Arthur Nuzman de 1995 a 2017, quando este foi preso preventivamente, acusado de compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. Foi então que Paulo Wanderley, seu vice e ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô, assumiu o cargo.
No atual pleito, além de Westrupp e Wanderley, concorre o presidente da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM), Helio Meirelles Cardoso.
Inicialmente, o ex-presidente do Conselho de Ética do COB, o advogado Alberto Murray Neto, também era candidato, mas ele deixou a disputa após seu vice, Mauro Silva, presidente da Confederação Brasileira de Boxe, manifestar desejo de não concorrer mais, um dia após o fim do prazo para inscrição de chapas.
O colégio eleitoral é composto por 12 integrantes da Comissão de Atletas do COB, 35 representantes das confederações olímpicas, além dos dois integrantes brasileiros do COI –o ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman e Parsons.
“Ser membro do COI me credencia a ser membro do COB, mas sou um membro pessoa física. Não represento ninguém a nao ser a mim mesmo, então as ilações que ele tentou criar não têm fundamento. Foi uma tentativa de criar um constrangimento e inibir minha participacao ativa no processo eleitoral. Simplesmente subscrevi uma chapa, como diversos outros membro da assembleia”, declarou o presidente do IPC.
Íntegra da resposta de Paulo Wanderley Teixeira à Folha
"Recebi com surpresa a notícia de que o Sr. Andrew Parsons, representante dos interesses do COI no Brasil, queira representar contra o Presidente do Comitê Olímpico do Brasil no Conselho de Ética.
Não é comum que a entidade máxima do Movimento Olímpico interfira na política interna dos Comitês Olímpicos Nacionais. Por isso vou questionar o COI se esta é uma posição isolada e independente de seu representante no país ou se de fato espelha a opinião do COI.
Segundo o artigo 16, item 1.4. da Carta Olímpica, “Os membros do COI representam e promovem os interesses do COI e do Movimento Olímpico em seus países e nas organizações do Movimento Olímpico em que atuam.”
Por sua vez o mesmo artigo 16, item 1.5. menciona que “Os membros do COI não aceitarão de governos, organizações ou outras partes qualquer mandato ou instrução que possa interferir na liberdade de ação e voto.”
Assim, de fato, gostaria de esclarecer minha dúvida junto ao COI, se o órgão está tomando parte na política interna de um CON, pois, segundo a Carta Olímpica, o Sr. Andrew representa o COI aqui no Brasil e aqui no COB.
Ao contrário do que coloca o Sr Andrew Parsons, a carta ao COI não é uma acusação, é apenas uma consulta
Poderia dizer que fazer representações e acusações infundadas, perante o Conselho de Ética ou no Conselho de Administração do COB e na imprensa, com tom acima do decoro exigido de um representante do COI é sim uma tentativa de intimidação do sr Andrew, e não o contrário. Posso afirmar que esta eleição, após décadas, só foi possível graças às mudanças de estatuto realizada em minha gestão. Torço para que este processo se mantenha limpo e em alto nível, como o COB merece."
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