Jogadores da seleção já se revoltaram contra CBF às vésperas de uma Copa

Em 1990, atletas protestaram por melhor premiação após entidade fechar patrocínio milionário

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São Paulo

Se hoje o ambiente da seleção é de tensão entre jogadores e a direção da CBF em razão da realização da Copa América no Brasil, no passado já foi também, mas por um motivo bem diferente.

Em 1990, às vésperas da Copa do Mundo daquele ano, que seria disputada na Itália, o estopim da crise foi o que normalmente seria uma corriqueira foto com todo o elenco perfilado, lado a lado.

Na imagem, registrada ainda no Rio de Janeiro, alguns jogadores estão com a mão no lado esquerdo do peito, o que inicialmente foi interpretado como um gesto patriota. No entanto, o movimento era para encobrir o logotipo da marca de refrigerantes Pepsi, patrocinadora da seleção.

Jogadores brasileiros cobrem o logotipo da Pepsi, patrocinadora oficial da seleção, ao posarem para fotos na concentração para a Copa de 1990, em Teresópolis
Jogadores brasileiros cobrem o logotipo da Pepsi, patrocinadora oficial da seleção, ao posarem para fotos na concentração para a Copa de 1990, em Teresópolis - Luiz Carlos David - 9.mai.1990/Folhapress

“Ainda em Teresópolis, na preparação na Granja Comary, os atletas se insurgiram contra a CBF”, diz um texto da Folha publicado em 2002 e que recorda o acontecido. Os atletas teriam, também, tampado a marca com um esparadrapo.

A disputa era em razão do alto valor pago pelo patrocinador à CBF, à época, 1 milhão de dólares.

“Os convocados queriam maior participação no direito de arena —receberiam US$ 200 mil. Teixeira acionou J. Hawilla para apagar o incêndio. O dono da Traffic, que havia viabilizado o acordo com a Pepsi, conseguiu mais US$ 100 mil”, continua o texto.

Hawilla, que então era um dos mais poderosos homens relacionados ao futebol, anos mais tarde seria um dos principais delatores no escândalo de corrupção da Fifa. Ele morreu em 2018, aos 74 anos.

Depois, na Itália, houve nova insatisfação do elenco, desta vez com a premiação paga caso o país vencesse aquela Copa.

Se hoje o volante Casemiro desponta como um porta-voz dos jogadores brasileiros, insatisfeitos com o presidente da CBF, Rogério Caboclo e com a realização da Copa América no país, em 1990 também um volante foi o líder dos atletas.

Foi Alemão, que na opinião do ex-presidente da confederação, Ricardo Teixeira, se preocupava demais com a premiação paga e pouco com os adversários em campo.

"O que aconteceu em 90 com a premiação foi horrível. Eu estava começando e não sabia muito bem como lidar com a situação. Mas serviu de lição. Depois da Itália, nunca mais o assunto premiação foi discutido. A CBF dá o valor e pronto", afirmou Teixeira à Folha sobre o episódio.

Como dá a indicar a declaração, a queda de braço foi vencida pelos jogadores, mas a Copa, não —o Brasil caiu nas oitavas de final, para a Argentina.

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