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Julio Cezar Fetter

Equipes olímpicas brasileiras ainda excluem mulheres do posto de treinadora

O voleibol, por exemplo, dono de 5 ouros, nunca teve uma mulher à beira da quadra olímpica

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Julio Cezar Fetter

mestrando em Educação na FEUSP, integra o Grupo de Estudos Olímpicos

A delegação feminina brasileira nos Jogos de Tóquio chegou a ficar perto de superar, numericamente, a delegação masculina, nos dando ares de otimismo e esperança, afinal estamos chegando à igualdade de gênero. Com um bloqueio seco, interrompo essa jogada para afirmar que estamos ainda distantes dessa igualdade.

As oportunidades dentro das quadras, pistas e campos para atletas mulheres e homens parecem estar se equilibrando, ao menos em números. O próprio Comitê Olímpico Internacional se prepara para uma relação de atletas com quase 49% de mulheres.

Encontrar uma treinadora nas equipes brasileiras, todavia, será um fato raro, especialmente em modalidades de equipe. No futebol feminino temos a sueca Pia Sundhage e suas entrevistas bem-humoradas, grande destaque, algo que mais nos parece uma conquista das atletas, já que esse fato não se repete em nenhuma outra modalidade coletiva. Todas as demais comissões técnicas são lideradas por homens, seja nos campos ou quadras.

O voleibol brasileiro, por exemplo, dono de cinco ouros olímpicos, entre tantas outras medalhas de todas as cores, nunca teve uma mulher à beira da quadra olímpica. Aliás, nem ao menos temos uma treinadora na principal competição no Brasil, a Superliga masculina e feminina.

Como uma jogadora na função de líbero, parece que as mulheres podem apenas ocupar parte do jogo, devendo sair de quadra em determinadas posições. Ali, em pé, ao lado da equipe, dando instruções, decidindo estratégias, cobrando atletas, posta-se como um lugar ainda masculino.

Ao mesmo tempo, é bom lembrar, temos muitas treinadoras nas quadras brasileiras, como Irma Conrado, uma das pioneiras no Brasil, capaz de fazer refletir e aprender em uma conversa de cinco minutos. Mas, no alto rendimento, há uma grande ausência. Questiono-me as razões dessa lacuna.

Já tivemos a Isabel do vôlei, hoje conhecida como a mãe da Carol Solberg, quebrando mil barreiras como mulher, mãe, atleta, treinadora… Esteve presente em uma final de Superliga, com a jovem Fabi Alvim na sua equipe. Sem falar das Marias Helenas, que formaram e conquistaram no nosso basquete feminino, modalidade que nem foi a Tóquio.

Divago sobre a mulher treinadora aos olhos dos outros, como são encaradas suas instruções e cobranças, tão naturais a técnicos homens. Seria, novamente, a maternidade um pretexto, raso, para afastá-las desse lugar, posto que já deveríamos ter superado o fato de filho ser responsabilidade da mãe?

Talvez os estereótipos de organização e passividade que empurram nossas mulheres para outros cargos. Ou, ainda, o que mais o esporte pode estar escondendo?

Agora em Tóquio, Kumi Nakada, treinadora da seleção japonesa, e Lang Ping, treinadora da seleção chinesa, podem ser fonte de inspiração. Além de conquistar o ouro comandando a seleção chinesa nos Jogos Olímpicos do Rio, Lang Ping também é campeã olímpica como atleta. E campeãs olímpicas nós temos aos montes.

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