Descrição de chapéu Tóquio 2020 skate

Não tem racha, tem gente que se gosta e não se gosta, diz presidente da confederação de skate

Eduardo Musa diz ficar 'zero incomodado' quando duas pessoas não se relacionam e quer transformar modalidade no segundo esporte do Brasil

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Tóquio

O skate deve terminar as Olimpíadas como queridinho dos brasileiros. Nas pistas, Kelvin Hoefler garantiu a primeira medalha no Japão, e Rayssa Leal, 13, virou a atleta do país mais jovem a subir num pódio em uma edição dos Jogos. Presidente da CBSk (Confederação Brasileira de Skate), Eduardo Musa, 48, faz planos ousados: transformar o skate no segundo esporte do Brasil.

As conquistas, no entanto, trouxeram à tona atritos e polêmicas entre os atletas. Kelvin rompeu relações com a entidade semanas antes de viajar ao Japão, como mostrou a Folha. Na concentração para o evento, ele e Pâmela Rosa se isolaram do restante da equipe.

Do outro lado, Leticia Bufoni fez pouco caso da medalha de prata do colega e foi a primeira a mostrar que algo ali dentro não ia bem. Em entrevista à Folha, Musa, que é ex-braço direito de Neymar, admite os problemas internos, diz que há pessoas que se gostam e outras que não se gostam, mas que todos viajaram sabendo exatamente qual era a situação e o papel de cada um.

As disputam da categoria park fecham a programação da estreia olímpica do skate na próxima semana.

Homem em frente a aros olímpicos
Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skate - Julio Detefon/CBSk

Como o sr. avalia os resultados do street? É um resultado espetacular. Vir para uma Olimpíada com seis nomes do skate na posição e no momento da carreira em que eles estão permite sonhar. Sonhava com mais coisa? Sim. Era possível? Era. Mas não posso ignorar que o resultado é espetacular.

O que o resultado significou para o país? Falo há muito tempo que a confederação tinha que estar preparada para um boom do skate após as Olimpíadas. Acho que vai acabar se confirmando uma explosão para os próximos anos, e meu objetivo é que, de forma institucional, o skate se torne o segundo esporte do Brasil.

Como chegar a isso? Para a massificação, nosso ponto central é a qualidade de pistas públicas no Brasil. Nosso problema hoje não é quantidade, é qualidade. Tem muita prefeitura fazendo qualquer tipo de pista, e aí o prefeito depois reclama que a pista está vazia.

Quando viu Rayssa pela primeira vez, o que chamou a sua atenção na personalidade dela? Confesso que, da primeira vez, vi uma menina bem alegre, mas não tinha percebido ainda quem era a Rayssa. Na primeira viagem com o grupo vi que tinha alguma coisa diferente. Raciocínio, postura.

É uma criança, uma menina, me chama de tio, mas ela sabe o que está acontecendo. Até em perguntas indelicadas sobre dinheiro, quanto ela ganha, ela tirou de letra. As imagens da final, se você apagar o Tóquio-2020, parecia que ela estava numa pista com as amigas. Isso me faz acreditar que, se a família e a confederação conseguirem trabalhar direito, teremos um futuro brilhante para a Rayssa.

Foi um racha o que existiu entre o Kelvin e a Pâmela e o restante da seleção? De jeito nenhum. A gente está num ambiente de competição. Óbvio que no nosso grupo tem pessoas que se gostam ou não se gostam. Se o problema tivesse acontecido na seleção, eu até poderia aceitar [a palavra] "racha", mas veio todo mundo sabendo o que ia acontecer. Não era um segredo. Eles se conhecem, cada um no seu canto, convivem, bom dia, boa tarde, boa noite e é isso que dá.

O sr. acha que tudo bem atletas da mesma seleção não se falarem? Tudo bem. Todo mundo decolou sabendo disso, sem problema nenhum. Inclusive se não quiser falar comigo ou com a Tati, chefe de equipe, não tem problema. Temos um combinado: ir para o treino, fazer fisioterapia, recuperação. Fez isso, é um acordo profissional entre a gente. Se pudermos ter um ambiente melhor, lindo. Fico zero incomodado quando duas pessoas não se relacionam.

A Folha mostrou que Kelvin rompeu com a confederação porque houve veto à ida da esposa dele ao Japão, como treinadora. Uma reportagem do UOL diz que o problema do atrito também teve relação com o fato de Letícia Bufoni ter sido a única liberada para os X Games às vésperas da viagem. Por que só ela foi? Porque ela quis.

Houve algum veto da confederação à participação da Pâmela ou do Kelvin? Não, zero.

Mas houve um pedido deles em algum momento? Não. A gente embarcou dos EUA para cá no dia 17 [de julho]. No dia anterior, não lembro se foi o Kelvin ou a Ana, esposa dele, quem perguntou se ele poderia alterar a data da viagem dele. A gente explicou os problemas: activity plan [plano em que todos que entraram em Tóquio tiveram que detalhar seu cronograma], exames de Covid de 96 e 48 horas e remarcação [da passagem]. Eles falaram "pô, a gente gostaria de ficar, porque aí talvez o Kelvin fosse aos X Games". E zero problema. Tudo virou um caldeirão só quando não deveria. O vídeo da Leticia não tem nada a ver com os X Games. É um problema dos dois. Não sei o motivo e nem quero saber.

Como foi o processo para a Leticia ir aos X Games? Ela começou a conversar com a gente um pouco antes. Conversamos com ela, com o empresário dela, nos posicionamos que a gente achava que ela estava fazendo a programação errada. A primeira vez que eu soube que existia essa possibilidade foi no dia 4 de julho. Nos EUA a gente conversou novamente, ela disse "obrigado, entendo, mas vou". E, do mesmo jeito que não tenho poder para liberar, não tenho para vetar. Nosso único poder é no momento de marcação de passagem. Tanto que ela bancou a passagem dela.

Os pais do Kelvin reclamaram da confederação. Por qual motivo o senhor atribui a reclamação? Estou há quatro anos como presidente da confederação e não conheço nem o tom de voz do pai nem da mãe dele. Todos os nossos contatos foram com a Ana e com o Kelvin. Então, sinceramente, não sei.

O senhor conversou com o Kelvin sobre isso? Bastante. Estamos resolvendo internamente. Quando ele ficou bravo com a impossibilidade de a Ana Paula vir, ele se afastou. Uma coisa que foi muito legal é que dois dias antes da competição batemos um papão. A gente continua discordando, mas o relacionamento voltou a ser cordial, algo que para mim é o que interessa.

E ele desbloqueou a confederação nas redes sociais... Claro que eu sabia [do bloqueio], mas confesso que quando cheguei aqui me esqueci. Não me atentei, não toquei nesse assunto, mas depois resolvemos e vida que segue.

Por que a Pâmela e o Kelvin não são orientados pelos técnicos da seleção? Escolha deles. Não tem outro motivo. Sempre estivemos à disposição. Tanto é que a Pâmela incluiu o nosso fisioterapeuta nos agradecimentos dela. A seleção sempre atendeu os dois do mesmo jeito. Como falei, a gente chegou aqui com absolutamente tudo combinado. Tava todo mundo sabendo do seu papel, do seu espaço.

Mas isso não causa desconforto? Não. Se eu fosse pai, marido ou empresário de uma delas, eu queria que elas tivessem a orientação do Mancha [técnico da seleção de street], que para mim é disparado o melhor técnico do mundo. Sabe o Bernardinho no vôlei? O Mancha é vezes cem. Mas existe essa questão de confiança, desses dois skatistas, com as pessoas que estão ao lado deles. No caso da Rayssa, em que a mãe é essa técnica, ela entendeu que o Mancha poderia ajudar. Então, pode parecer estranho se comparar com esportes tradicionais. Foi assim no Mundial de Roma, foi assim em outros eventos. Para nós não é estranho.

O senhor diz que o Kelvin não reclamou dos X Games quando ele falou sobre ir. Mas na conversa que vocês tiveram, ele falou algo? Falou, falou sim. Que ele se incomodou com isso.

Ele colocou que o veto à mulher dele e aos X Games foram os problemas que levaram ao rompimento das relações? Não vamos misturar as situações. Ele se afastou porque a esposa não veio. Até porque a coisa com a Leticia foi perto do embarque para cá. Ele acha que… Eu prefiro que ele fale por ele, porque eu posso colocar uma palavra errada na boca dele, e eu não quero. Mas ele disse que se incomodou. Eu expliquei o nosso ponto.

E por que vocês vetaram a esposa? A gente recebeu do COB quatro credenciais para oficiais. A minha credencial veio pela federação internacional. E a gente tem seis atletas para quatro oficiais. Se eu tivesse que escolher um para cada skatista, iam faltar duas, e não ia ter, por exemplo, para o fisioterapeuta que salvou o Kelvin do problema no ombro. Ele mesmo diz, não sou eu, que [o fisioterapeuta] colocou a Pâmela no jogo também.

A Pâmela teve dois funcionários do COB que a acompanharam durante as Olimpíadas, e isso causou mal estar no grupo, segundo relatos que nos fizeram. Por que só ela teve isso, e os outros não? Essa é uma pergunta que vocês têm que fazer ao COB. O COB sempre atendeu muito bem a confederação, e nós entendemos que sempre demos todo o apoio a todos os 22 skatistas da seleção. No primeiro dia vimos uma pessoa do COB por lá, para fazer interface com o empresário dela. Desde o afastamento da Pâmela, na mesma época do Kelvin, e pelo mesmo motivo [de não poder levar uma pessoa para o Japão], ela fazia tratamento com a psicóloga da confederação.

Mas eles resolveram não fazer mais, porque eles resolveram se afastar por completo da confederação. E, por isso, o COB colocou à disposição uma psicóloga para ela. Isso, em um primeiro momento, chamou a atenção e criou um desgaste, pois não sabíamos que essa estrutura paralela estaria nas Olimpíadas, mas depois que a gente percebeu que ia ser assim, e qualquer movimento contrário de nossa parte a essa estrutura paralela poderia ser prejudicial para todo mundo, a gente focou a confederação e foi tudo bem.

O senhor não está há tanto tempo no cargo de presidente, mas já passou por diversos episódios na modalidade. Quais são os seus planos? Meus planos para o futuro… Eu sou um apaixonado pelo esporte, apaixonado por competição. Tenho mandato até 2024, estou muito feliz aqui no skate. Vou começar agora, pós-Olimpíadas, a planejar o ciclo para Paris e a pensar na minha vida profissional também, que ficou um pouco de lado. Vou planejar para ver o que posso fazer conciliando com a presidência da confederação.

O que poderia ter sido melhor nessa estreia do skate nas Olimpíadas? Eu vou propor que a competição seja em dois dias. Acho que isso não muda o custo e o resultado técnico é melhor. A final teria sido num nível ainda mais alto do que foi. Estou conversando nos bastidores para isso.

Neymar é página virada na sua vida? Estou há seis anos [fora]. Continuo fã. Continuo como torcedor. Como profissional, página viradaça.

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