Descrição de chapéu Tóquio 2020 surfe

Obstáculos inesperados para conquista do ouro em Tóquio refletem trajetória de Italo

Desafios impostos por prancha e tufão lembram outra conquista do surfista brasileiro no Japão

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Chiba (Japão)

O Japão une Italo Ferreira ao inesperado e à glória. Nesta terça-feira (27), o surfista brasileiro medalhista de ouro nas Olimpíadas de Tóquio viu sua prancha partir ao meio logo na primeira manobra que tentou executar durante a final contra Kanoa Igarashi, na praia de Tsurigasaki.

Após voltar para a beira do mar e receber uma nova de sua equipe, ele conseguiu pegar outras 11 ondas e conquistar duas boas notas que lhe permitiram superar o japonês com tranquilidade.

“Competição é sempre um desafio. A gente sabe que vai entrar e fazer o melhor, mas no meio do caminho tem diversas barreiras a superar. Tem que acreditar até o final”, afirmou Italo.

No caso dele, parece mesmo sempre haver uma barreira extra a superar. Principalmente se for no Japão.

Em 2019, Italo participou dos Jogos Mundiais de Surfe, pré-requisito para disputar as Olimpíadas, numa outra praia do país, Kisakihama. Ele, no entanto, chegou à competição quando a bateria de estreia já havia começado. Quatro dias antes, seu passaporte havia sido furtado nos EUA, e o atraso causado pelos trâmites para conseguir um novo documento e também por um tufão adiou seu voo.

Quando enfim chegou à cidade-sede da competição, que felizmente atrasou em uma hora, o atleta precisou largar as malas e correr para a praia. Pegou a prancha emprestada do colega Filipe Toledo, vestiu a lycra e se lançou ao mar com a bermuda jeans que estava vestindo, a oito minutos do fim da bateria. O potiguar não só venceu aquela disputa como dias depois sagrou-se campeão do evento.

Corta para 2021, quando Italo chegou ao Japão bem antes de estrear nas Olimpíadas. Suas pranchas, por outro lado, demoraram um pouco mais, pois foram extraviadas no caminho. Outras semelhança entre as histórias é que ambas tiveram um tufão envolvido. Desta vez, uma tempestade tropical que se formou no país asiático foi responsável por aumentar o tamanho das ondas do mar de Tsurigasaki nos últimos dias.

A expectativa inicial era por ondas pequenas, mas elas chegaram a quase 2 metros nesta terça (27), devido às condições meteorológicas. Italo tinha 12 pranchas consigo, quase todas pensadas e fabricadas para o que esperava encontrar. Sem aquela que quebrou e num mar bem maior do que o imaginado, o jeito foi se virar com o que estava à mão.

Detalhe da prancha quebrada, que Italo precisou trocar logo no início da final
Detalhe da prancha quebrada, que Italo precisou trocar logo no início da final - Du Yu/Xinhua

“Já tivemos várias experiências de quebras de prancha em situações de campeonatos, mas essa foi bem nervosa. Ele tinha 12 pranchas e sabíamos que conseguiria surfar com qualquer uma”, afirmou à Folha Adriano Teco, que junto com o irmão, Tico, fabrica as pranchas do campeão olímpico no Brasil.

Superado obstáculo inicial, o último campeão mundial de surfe, em 2019, recuperou-se e derrotou com ampla superioridade (15.14 a 6.60) o japonês Igarashi, algoz de Gabriel Medina nas semifinais e que evitou um confronto nacional na decisão.

Esses desafios pontuais superados por Italo não se comparam com a sua trajetória de vida rumo à elite do esporte e às maiores conquistas que um surfista pode almejar. Natural de Baía Formosa (RN), cidade com cerca de 9.000 habitantes, ele começou a surfar aos 8 anos de idade.

Como não tinha prancha à época, pegava emprestada do seu pai, vendedor de peixe, a tampa quadrada de isopor que usava para proteger as mercadorias. Pouco antes do título mundial de 2019, quando já estava no Havaí para competir, o atleta perdeu a avó. Desde então, todas as conquistas são dedicadas a ela.

Quando Italo saiu da água como o primeiro medalhista de ouro do Brasil em Tóquio, foi carregado e festejado pelos poucos membros da delegação brasileira, em imagem bem diferente daquela usual nas comemorações de títulos de surfe. Seus gritos podiam ser ouvidos de longe devido à ausência de público.

Nesse momento, o céu em Tsurigasaki estava novamente tomado por nuvens carregadas, mas ainda com um resto de sol e um arco-íris que se formou. Diante desse cenário, o hino brasileiro foi executado pela primeira vez em Tóquio, e Italo deu um mortal para comemorar na saída do pódio.

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