Descrição de chapéu Tóquio 2020

Sátila fica em último, mas sai das Olimpíadas como 1ª brasileira finalista na canoagem

Atleta mineira diz que sabe da importância de seu feito, apesar de estar decepcionada com resultado

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Tóquio

A brasileira Ana Sátila, 25, encerrou sua participação nas Olimpíadas de Tóquio sem conquistar uma medalha na canoagem. Mas há marcas a celebrar.

A mineira de Iturama se tornou a primeira brasileira finalista na canoagem em Jogos, um feito singular para o Brasil na modalidade slalom.

Sátila entra para a história também por ter disputado a primeira competição olímpica da categoria C1 (canoa individual), que estreou nesta edição.

Após a final, a brasileira disse saber da importância de sua façanha e que estava preparada mental e fisicamente para a disputa. Reconheceu, contudo, ter cometido erros técnicos.

Ainda citou problemas na preparação para os Jogos, como a falta de treinador até três meses antes da competição. Ela exaltou a atuação do namorado, o francês Mathieu Desnos, também atleta de canoagem, que assumiu a missão de ser seu técnico. "Ele foi incrível."

A brasileira chegou confiante para a final, após se classificar em terceiro na semifinal.

Na briga pela medalha, ela cometeu erros, foi penalizada e terminou no último lugar entre as dez finalistas, com o tempo de 164.71 segundos.

A australiana Jessica Fox levou o ouro, seguida de Mallory Franklin, da Grã-Bretanha, e de Andrea Herzog, da Alemanha. Mesmo sem as penalidades, Sátila não subiria no pódio. Ficaria na quarta colocação.

"Estou muito triste, muito decepcionada, estava me sentindo tão bem antes da final. Lutei muito. A penalidade que tive foi tentando, de verdade, alcançar uma medalha, porque já sabia que estava longe do melhor tempo", disse.

"Estou entre as dez dos Jogos Olímpicos, tenho que revisar e aprender e entender o que fiz de errado. Infelizmente é muito triste", disse.

Sóbria após um desempenho que considerou insatisfatório, Sátila destacou que "foi muito legal" ter representado o Brasil na final em Tóquio.

A atleta disse ainda que venceu "desafios gigantes" até o Japão. "Para essa final estava me sentindo muito bem mentalmente, muito feliz, leve na largada. Me senti muito bem na água. Infelizmente veio o toque [na baliza]", disse sobre um dos erros.

Ao ser questionada sobre a desistência da ginasta americana Simone Biles em disputar uma etapa olímpica, Sátila disse que se sentia em dia com sua saúde mental, mas destacou a pressão que os atletas sofrem nas competições.

"Você acaba colocando o peso do mundo inteiro nas suas costas, quando na verdade você tem que conseguir ser livre, feliz, sem pensar em nada. O tempo vai passando, muitas experiências ruins, você aprende e vai tentando lidar a cada dia. Aqui foi muito difícil, a gente sofre com essa pressão o tempo todo."

A final em Tóquio é o ápice de uma trajetória que passou pela estreia nos Jogos de Londres, em 2012, com apenas 16 anos, e a maior decepção da carreira, nas Olimpíadas no Rio, em 2016, quando foi eliminada após um erro na descida. Nas duas vezes, ela competiu na modalidade K1 (caiaque).

Na canoagem slalom, o atleta rema em canoa ou caiaque por percurso em corredeira definido por balizas. Vence quem atingir o melhor tempo, evitando penalidades.

Maior referência do país na modalidade, Sátila disse em entrevista à Folha, no dia 11, que desembarcou no país asiático "mais confiante do que nunca".

Além de duas Olimpíadas, ela acumula quatro medalhas em Pan-Americanos e um ouro inédito em uma etapa da Copa do Mundo, no ano passado.

A falta de medalha se somou ao choro da desclassificação na última terça-feira (27), na categoria K1, quando ela não conseguiu passar da semifinal. Foi na C1 que Sátila obteve resultados mais expressivos até aqui. Era sua principal aposta em Tóquio.

A brasileira havia se classificado em quarto lugar na classificatória de quarta-feira (28) e chegou confiante ao centro Kasai de canoagem de que poderia, enfim, levar uma medalha.

Sátila ainda enfrentou os contratempos do adiamento dos Jogos de 2020 para 2021 em razão da pandemia da Covid-19.

No período, com a ajuda do namorado-treinador e da irmã Omira, ela montou, com recursos próprios, uma academia improvisada dentro de casa, em Foz do Iguaçu (PR), durante a crise sanitária.

Há exatos nove anos, então com apenas 16 anos, ela encontrou a reportagem da Folha na Vila Olímpica de Londres e relatou a angústia que sentia pela distância dos pais durante aquelas Olimpíadas. Era então a mais jovem integrante da delegação brasileira.

Em Londres, a adolescente foi tutelada pelo treinador, o italiano Ettore Vivaldi. Sua saída, após os Jogos do Rio, foi um baque para a brasileira, que sempre o chamou de “segundo pai”. Vivaldi é apontado como um dos maiores responsáveis pela evolução da canoagem no Brasil.

Nascida em Iturama (MG), Sátila cresceu em Primavera do Leste (MT), onde deu as primeiras remadas na canoagem.

Como mostrou a reportagem no ano passado, após os erros no Rio, sua reinvenção como atleta passou por uma transformação mental e, também, de local de treinos.

No fim de 2017, ela deixou Foz do Iguaçu, onde estava o então principal complexo de treinamentos da América do Sul, para praticar na pista utilizada na última edição das Olimpíadas, em Deodoro, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Durante esse período, foram recorrentes as conversas com a psicóloga Sâmia Hallage, a quem atribui papel fundamental para manter o foco na carreira.

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