Zagueiro do Brasil, Diego Carlos fez 1º teste descalço e trabalhou desde criança

Convocado para as Olimpíadas, jogador de 28 anos sempre batalhou para chegar longe

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Maceió

No primeiro teste para se tornar jogador de futebol, o zagueiro da seleção olímpica de futebol Diego Carlos estava descalço. Acostumado a jogar nas ruas de Barra Bonita, em São Paulo, o zagueiro não se acanhou em fazer o teste sem chuteiras, pois simplesmente não tinha o dinheiro para comprar um par. Hoje, ele está jogando as Olimpíadas de Tóquio-2020.

Com os pés desprotegidos, Diego tinha chances de se machucar em divididas contra os adversários e, por isso, não poderia continuar o teste. O menino de 14 anos se surpreendeu com a atitude do técnico.

"Ele tirou a própria chuteira e me deu para eu continuar jogando", conta Diego à Folha. "Eu fiquei com o time, mas aí surgiu outro problema: tinha que pagar uma mensalidade de R$ 10 e eu não tinha. O técnico falou com os meninos do time e eles aceitaram que eu ficasse sem pagar".

A seleção brasileira entra em campo contra a Costa do Marfim neste domingo (25), às 5h30 (Brasília), com transmissão da TV Globo, SporTV e BandSports.

Diego Carlos em treinamento da seleção olímpica de futebol
Diego Carlos, zagueiro da seleção olímpica de futebol, trabalhou na lavoura quando criança - Marco Galvão/CBF - 07.jul.2021

O jogo será disputado no Estádio Internacional de Yokohama, onde o Brasil venceu a Alemanha na primeira rodada por 4 a 2. A Costa do Marfim venceu a Arábia Saudita por 2 a 1. Os dois melhores colocados de cada grupo passam à próxima fase.

Três anos antes do teste na escolinha, e embora já sonhasse em ser jogador desde mais novo, Diego ouviu dos pais um pedido que aceitou na hora: pela necessidade, eles precisavam de ajuda para pagar as contas de casa. Coube ao garoto cortar cana na lavoura, fazer a colheita de frutos e até vender sorvetes.

"Meus pais me deram o melhor que tinham e eu também sentia essa gratidão de devolver a eles. Onde tinha uma possibilidade de ganhar um dinheirinho, eu ia. Já fiz muito bico", conta.

"Carpi terreno ou o que precisassem de mim. Arrumei um serviço depois, numa loja que preparava gabinetes e gaiolas de passarinho. Trabalhava cedo, saía à tarde, ia para o treino, voltava para casa, tomava banho e ia para a escola. Chegava só na hora de descansar."

Mesmo com toda a vida atarefada em razão do trabalho precoce, Diego Carlos conseguiu uma oportunidade no América de São José de Rio Preto. Faria uma avaliação de cinco dias, mas ficou 15 no período de testes e dois anos no total com o clube. De lá, foi para o Desportivo Brasil e as coisas passaram a melhorar. Teve até que mudar de posição em campo.

"Eu jogava de atacante antes, às vezes de volante, daí tive que ir para a zaga. Foi a primeira vez que joguei tão defensivamente. Foi até uma confusão para eu jogar na zaga (risos). Imagina, saí do ataque, do meio, e fui para a defesa. Meus pais não queriam que eu fosse e eu até disse a eles que não iria, mas no time eu falei que aceitava. Eu era bem mais magro, mas o pessoal já me chamava de várias coisas, tipo Homem de Ferro, Pedra, porque eu era maior do que os jogadores."

Diego Carlos marca Lionel Messi em partida válida pela Copa do Rei
Diego Carlos marca Lionel Messi em partida válida pela Copa do Rei - Josep Lago/AFP - 03.mar.2021

Do Desportivo Brasil, o zagueiro foi para o São Paulo. Passou seis meses na base, em Cotia, e seis meses com o profissional, mas não foi aproveitado pelo clube. Por ser uma das últimas opções na zaga, decidiu que deveria tentar a sorte em outro lugar. Enquanto aguardava a janela europeia, treinou sozinho e passou rapidamente por dois clubes.

Com a janela, se transferiu para o Estoril, de Portugal. Até achou que teria chances de jogar pelo clube, mas foi avisado logo no segundo dia de que teria de ser emprestado para o Porto B, onde atuou por uma temporada.

Ao retornar para o Estoril, já tinha vaga como titular do time. Quando saiu do Brasil, no entanto, Diego tinha 21 anos e uma esposa grávida que ficou no país.

"Só fui ver meu filho com três meses de nascido, para falar a verdade. Minha esposa ficou no Brasil porque não tinha condições de manter nós dois em Portugal. Nós decidimos que seria melhor que ela ficasse e eu mandasse o dinheiro para ela se manter por aqui. Meu filho nasceu no fim da temporada e eu o vi nas férias daquele ano quando vim ao Brasil".

Do Estoril, Diego foi para o Nantes, onde ganhou mais espaço e experiência. Foram três temporadas no clube, com 108 jogos disputados. Após o período, o zagueiro foi para a Espanha, onde defende o Sevilla desde 2019.

Logo na primeira temporada, Diego Carlos conquistou a Europa League e fez o gol do título –uma bicicleta desviada no meio do caminho por Lukaku, da Inter de Milão, o que fez com que o lance fosse registrado como gol contra.

"Sempre fui muito focado no que eu queria. Hoje eu tenho um resultado muito positivo, já que estou defendendo a seleção brasileira, vou participar destas Olimpíadas e espero que nós consigamos trazer o ouro. Eu tenho um grande combustível que vem desde os meus pais, da minha esposa, dos meus filhos. Foi uma surpresa estar aqui, não esperava tanto, mas ainda bem que veio a convocação", completa o defensor, que hoje escolhe as chuteiras que quer usar.

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