Descrição de chapéu basquete

NBA vê regras burladas mais uma vez e sofre para evitar acordos pré-arranjados

Com prazo para negociações flagrantemente ignorado novamente, liga de basquete vive situação constrangedora

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São Paulo

Começou às 18h do último dia 2 o período em que a NBA permite o contato entre times e jogadores para a negociação de contratos. Às 18h01, o agente de Lonzo Ball anunciou um complexo acordo segundo o qual o armador assinaria com o New Orleans Pelicans e seria enviado ao Chicago Bulls em uma troca.

Por envolverem múltiplos atletas e equipes, tratativas desse tipo –chamadas de “sign-and-trade”, ou “assina e troca”– costumam levar tempo considerável, certamente mais de um minuto. E a confirmação da transação pelo próprio empresário do jogador logo no início da janela voltou a colocar a direção da liga norte-americana de basquete em posição constrangedora.

Não há como negar um flagrante desrespeito às regras estipuladas, em um caso que não é isolado nem uma novidade de 2021. Os dirigentes da NBA fracassam há anos na tentativa de inibir os acordos costurados antes do momento regulamentar e vêm aumentando a penalização estipulada, porém a fiscalização é praticamente impossível.

Lonzo Ball (à esq.) e Kyle Lowry (à dir.) têm a negociação de seus recém-assinados contratos com Bulls e Heat investigada pela NBA - Kim Klement - 20.dez.20/USA Today Sports

A liga só consegue tomar alguma atitude em situações caricatas, como a de Ball, por isso anunciou uma investigação sobre a transferência. Divulgou também que está apurando as condições em que se deu a chegada de Kyle Lowry ao Miami Heat, um “sign-and-trade” ainda mais complexo, concluído minutos após a abertura da janela.

Não se espera que os negócios sejam desfeitos, mas existe a expectativa de punições financeiramente mais severas do que a registrada no ano passado, quando um “assina e troca” vazou antes do período oficial de negociações. Na ocasião, a NBA vetou a ida de Bogdan Bogdanovic ao Milwaukee Bucks e multou a equipe em US$ 50 mil (R$ 260 mil, na cotação da época).

Era o cumprimento da promessa feita pelo principal dirigente da liga, o comissário Adam Silver, que tinha assumido o compromisso de tomar atitudes a respeito da questão. Em 2019, depois de ver dezenas de contratos anunciados nas duas primeiras horas de negociação, ele se percebeu obrigado a implantar medidas mais austeras.

“Temos que garantir que estamos criando uma cultura de ‘compliance’. Nossos times precisam saber que estão competindo em um campo de jogo nivelado e que não estarão em desvantagem aderindo às regras”, afirmou Silver, que aumentou para US$ 10 milhões (R$ 52 milhões) a pena máxima para contatos ilegais.

Àquela altura, estava claro para as equipes, jogar de acordo com as regras significava ficar para trás. O Los Angeles Lakers, após seguidos fracassos em quadra e insucessos nas negociações com os grandes craques, demitiu em 2017 o gerente-geral Mitch Kupchak, tratado com deboche nos círculos da NBA porque era basicamente o único a atuar de acordo com a regulamentação.

Desde a saída de Kupchak, os Lakers assinaram com LeBron James, orquestraram uma troca por Anthony Davis –que, sob contrato com os Pelicans, exigiu uma transferência e avisou que o time roxo e amarelo seria seu destino– e voltaram a ser campeões. Agora, acabam de fechar outro negócio de impacto, a chegada de Russell Westbrook.

Múltiplas reportagens nos Estados Unidos descreveram um jantar no qual Westbrook, ainda ligado ao Washington Wizards, discutiu com LeBron e Davis como funcionaria o time com os três. O papo é tecnicamente ilegal, mas a NBA decidiu que patrulhar conversas entre atletas é ainda mais difícil do que restringir o movimento de dirigentes e resolveu deixar para lá.

Diante de tão notórias violações, levanta-se a questão: por que a liga insiste em um calendário de fiscalização inviável e não abraça a negociação livre, assim que acaba a temporada? A ideia, respondem os cartolas, é estabelecer um ambiente competitivo, de curta duração, no qual franquias de mercados menores possam brigar com agremiações mais poderosas.

Na prática, porém, o que deveria ser o sinal de início do período de negociações acaba sendo o alarme do fim. Assim que se abre a janela de transferências, os principais acordos já estão sacramentados. Algo que até Mitch Kupchak, alvo de piada em seu tempo de Lakers, entendeu na direção do Charlotte Hornets.

Questionado a respeito da época em que era sarcasticamente chamado de “o último homem honesto”, Kupchak apenas sorri, ciente de que não pode falar abertamente sobre o assunto. Ninguém pode. Mas as primeiras 48 horas oficiais de negociação de novos contratos da NBA, na semana passada, tiveram 120 acertos, que somam mais de US$ 3 bilhões (R$ 15,6 bilhões).

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