Descrição de chapéu surfe

Medina diz que objetivo era ser tri como Pelé, Senna e Fanning

Campeão mundial afirma à Folha que não imaginava Brasil como potência do surfe

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São Paulo

O tricampeonato mundial de Gabriel Medina, 27, coroa uma temporada histórica do surfe brasileiro.

O Brasil tem quatro surfistas entre os melhores do mundo: o próprio Medina, Filipe Toledo (2º), Italo Ferreira (3º) e Tatiana Weston-Webb (vice-campeã no feminino). O país é dono de cinco dos sete últimos títulos mundiais no masculino, além do ouro na estreia do esporte nas Olimpíadas, com Italo.

"A gente não imaginava um dia se tornar uma potência mundial do surfe. Quando eu estava começando, lá atrás, lembro que a gente comemorava um nono lugar, ser quinto era absurdo!", diz ele à Folha.

Gabriel Medina comemora o título de campeão mundial de surfe de 2021
Gabriel Medina comemora o título de campeão mundial de surfe de 2021 - WSL

Apesar dos bons resultados, o brasileiro admite que foi uma temporada atípica. Trocou de treinador, viveu polêmicas com o Comitê Olímpico do Brasil por conta de sua esposa Yasmin Brunet, depois perdeu uma etapa do Mundial por não ter se vacinado —alguns temas que ele prefere não comentar. Terminou com o tricampeonato.

"Desde que eu me tornei pela primeira vez campeão [em 2014], o próximo objetivo era ser tri, como as minhas referências, Ayrton Senna, Pelé e Mick Fanning [surfista australiano, campeão em 2007, 2009 e 2017 e que escapou de um ataque de tubarão em 2015]", afirma.

À Folha, Medina também mostrou preocupação com a situação da Confederação Brasileira de Surfe e com o trabalho de base no esporte. Admitiu que os atletas podem fazer mais para melhorar a situação e afirmou estar disposto a dialogar em prol das próximas gerações do surfe brasileiro.

Você teve uma temporada conturbada, apesar dos bons resultados. Foi seu primeiro ano sem o Charles, seu padrasto e antigo treinador, o primeiro casado com a Yasmin Brunet. Aconteceram polêmicas nas Olimpíadas e tudo isso durante uma pandemia. Agora, terminando com o título mundial, que balanço você faz da sua temporada? Contando tudo, foi um ano atípico. É muito difícil você se manter equilibrado constantemente, tanto física quanto mentalmente. Em performance foi meu melhor ano, fiz praticamente todas as finais e terminei com o título. E foi um ano de grandes mudanças. Eu comecei a trabalhar com o [treinador] Andy King, um cara que conheci pelo Mick Fanning, e isso tem me ajudado bastante dentro e fora da água. Foi também um ano que viajei com a minha mulher [a modelo Yasmin Brunet]. Acho que serviu para amadurecimento, saber que eu sei me virar, fazer minhas coisas, pegar essa responsabilidade do meu dia a dia.

Eu gosto de desafios, mas esse ano eu fui testado de várias formas. O que eu tiro de melhor disso é que eu consegui ser paciente, calmo, ter essa frieza para concentrar no maior objetivo, independentemente das adversidades e problemas pessoais que vivi.

Como foi para você o período pós-Olimpíadas? Óbvio que eu queria estar na final das Olimpíadas com o Italo, eu me preparei bastante, fiz o que pude, mas cada campeonato, quando você vence ou perde, a partir daquele momento é começar tudo de novo sempre pensando positivo. Até depois das Olimpíadas, quando eu perdi na piscina, são momentos tristes que você agradece a oportunidade e sabe que um dia tudo isso vai fazer sentido. Ontem, para mim, tudo fez sentido. Temos que viver o processo da vida, e na vida não são só vitórias. Na verdade, nas derrotas é quando você mais aprende.

O resultado é detalhe, óbvio que eu amo vencer, é a melhor sensação para um esportista, mas temos que saber lidar com a derrota, justa ou injusta.

Você considera o título mundial uma redenção após as Olimpíadas? Acho que uma coisa é uma coisa, outra é outra coisa. O título mundial sempre foi meu objetivo profissional, desde que eu me tornei pela primeira vez campeão [em 2014]. O próximo objetivo era ser tri, como as minhas referências, Ayrton Senna, Pelé e Mick Fanning. Caras grandes que eu admiro. E eu queria alcançar esses números deles [todos três vezes campeões mundiais em seus esportes].

O Brasil conseguiu o ouro olímpico com o Italo, colocou quatro dos seis melhores surfistas do mundo considerando homens e mulheres e terminou com o seu tricampeonato. O que o ano de 2021 representa para o surfe brasileiro? A gente não imaginava um dia se tornar uma potência mundial do surfe. Quando eu estava começando, lá atrás, lembro que a gente comemorava um nono lugar, ser quinto era absurdo! Claro, agora [ser potência] exige ainda mais de nós, porque hoje ser segundo colocado não é suficiente, o povo braileiro é rígido nisso Mas estou feliz de fazer parte desse time de brasileiros. E claro, somos muito gratos à geração anterior, é um trabalho de anos. Não sei porque foi a nossa geração que “vingou”, mas foi trabalho de anos, de muitos que tentaram e prepararam esse momento. E a nova geração que está vindo, que tenha mais Medinas, Italos, Filipes…

Como fazer para manter o Brasil no topo do surfe? Como eu tive inspirações, exemplos que quis seguir, acho que essa é a força do esporte, ele incentiva e te dá uma direção, uma motivação. É muito engraçado ver a molecada [mais nova] olhando, perguntando, eles são curiosos e nós servimos de exemplo. Ver um moleque falar que quer ser campeão mundial, ter esse sonho é muito bom para o nosso país

A Confederação Brasileira de Surfe vive dias turbulentos, com um presidente que teve sua eleição contestada, mas que conseguiu vencer a batalha na Justiça. Entre os surfistas brasileiros, vocês comentam esse assunto? Qual o seu entendimento sobre ele? Na verdade, a gente não conversa muito [sobre isso]. Claro, sempre fico sabendo das notícias. Ao meu ver, pelo esporte como está hoje, para quem vive essa rotina [do surfe], não está rolando muita oportunidade, essa é a grande real. Na minha época, eu tive várias oportunidades de competições e campeonatos para alimentar esse meu lado competitivo e ter a chance de saber se era o que eu queria pra minha vida mesmo. E vejo hoje que o trabalho com a base está meio ruim.

Mas é algo que a gente não conversa, para ser sincero. Acho até que deveríamos falar mais. Claro que não é a nossa obrigação, na verdade somos atletas e a gente durante o ano foca no título, evento por evento, então mal ficamos em casa. Mas é algo que poderíamos dar mais atenção. E apesar de eu ter essa opinião, estou aqui para conversar e procurar o melhor para a nova geração.

O que vocês atletas podem fazer sobre essa situação que você descreveu? Acho que a união é a primeira das coisas. Nos unir e ver se temos voz. Porque eu não sei exatamente como funciona essa parte política. Mas estou disposto, com o Italo, o Filipe, nas poucas oportunidades que tivemos de conversar sobre. Sempre nos interessamos em ajudar. E se eu puder ajudar de alguma forma, estou disposto, desde que do lado certo, pelo melhor do surfe.

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