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Colombiano preparou Salah para estar entre os melhores do mundo

Ex-meia Jaime Pabón fez trabalho personalizado para atacante egípcio marcar mais gols

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São Paulo

A primeira coisa que Jaime Pabón reparou foi na respiração de Mohamed Salah, 29. O atacante chegava à área apressado e parecia impaciente antes de finalizar. Depois analisou suas posições em campo. O egípcio não fazia a rota mais rápida até o gol.

Um dos mais mortais e prolíficos artilheiros do futebol mundial na atualidade, Salah teve problemas para fazer gols no passado. Foi quando apareceu Pabón. O ex-armador colombiano começou a trabalhar com o então jogador da Roma no final de 2016.

"Era fácil perceber que o talento dele era excepcional. Era algo que lhe vinha de forma natural. Mas havia aspectos de seu jogo que poderiam ser melhorados. Foi por isso que trabalhamos juntos", explica o treinador de 54 anos, vice-campeão da Libertadores de 1995 com o Atlético Nacional em final perdida para o Grêmio.

O jogador Mohamed Salah sorri e comemora gol com os dois braços levantados; ele veste o uniforme vermelho do Liverpool
Mohamed Salah, do Liverpool, comemora após marcar gol contra o Arsenal, pela Premier League - Li Ying - 21.nov.2021/Xinhua

Pabón se mudou para Roma no final de 2016 e começou a trabalhar com Salah em atividades individuais, três ou quatro vezes por semana. Assistiu a horas de vídeos do atacante em partidas. Montou treinos específicos para aspectos em que acreditava poder haver evolução no desempenho do atleta.

O colombiano não quer chamar para si os méritos pelo crescimento do egípcio. Afirma que o maior deles foi o empenho do artilheiro e seu talento natural. Mas os números mostram uma mudança.

Na temporada 2015/2016, a última antes do início do trabalho com seu preparador particular, Salah fez 15 gols em 42 jogos (média de 0,35). Na de 2017/2018, a primeira completa após ter Pabón ao seu lado, foram 44 em 52 partidas (0,84), já pelo Liverpool.

Durante anos, ele foi visto como um bom talento do futebol africano, mas nada espetacular. Contratado pelo Chelsea em 2014, não vingou em sua passagem pelo Reino Unido e foi emprestado para Fiorentina e Roma (que depois o compraria).

A partir de sua chegada ao Liverpool, explodiu. Foi terceiro colocado em 2018 na eleição de melhor do mundo da Fifa e é um dos 11 finalistas na eleição da atual temporada. O vencedor será anunciado em 17 de janeiro. Também foi o principal nome da equipe inglesa em 2020, quando o clube quebrou jejum de 30 anos sem ser campeão nacional.

"Se me dissessem para escolher qualquer jogador como melhor do planeta, seria Salah", disse o atacante Alan Shearer, maior goleador da história da Premier League, a versão moderna do Campeonato Inglês, iniciada em 1992.

Os caminhos de Pabón e Salah se cruzaram graças a Francisco Maturana, o responsável por comandar a Colômbia nas Copas de 1990 e 1994. Quando trabalhava na Arábia Saudita, ele conheceu o empresário de Salah, Remy Abbas Issa. Em um jantar, o agente comentou que seu cliente tinha enorme potencial a ser explorado, mas precisava de alguém que o aperfeiçoasse.

Maturana recomendou Pabón, que havia sido seu atleta no Atlético Nacional e tinha se especializado em trabalhos customizados para atacantes. Salah aceitou mergulhar nas recomendações do seu novo preparador.

"Quando estava de frente para o goleiro, Salah era apressado. Fizemos exercícios de respiração também para melhorar isso", explica o colombiano.

"Ele tinha afobação para finalizar, não esperava o momento certo. A velocidade com a qual entrava na área era a mesma que finalizava. Não a reduzia. Construímos trabalho para que ele percebesse qual o melhor ângulo para dificultar a defesa do goleiro", acrescenta.

Pabón se preocupa com as explicações. Não quer passar a imagem de que ele ensinou Mohamed Salah a fazer gols. Não se trata disso. Apenas quer dizer que todos podem melhorar no futebol se fizerem atividades específicas. Sempre há espaço para evoluir.

Mais importante do que ver onde ele poderia melhorar, era convencê-lo da necessidade. O colombiano achava que poderia haver um problema de ego, mas isso jamais ocorreu, assegura.

"Salah é um rapaz que vive para o futebol. Nunca tive qualquer problema com ele. Sempre aceitou muito bem tudo o que conversamos. Fizemos uma análise detalhada do posicionamento que tinha em campo, as distâncias que percorria, o momento para finalizar ao gol... Estatísticas mostraram a posição ideal para receber passes em melhores condições para marcar", explica.

Jaime Pabón ao lado do egípcio Mohamed Salah, com quem trabalhou por dois anos
Jaime Pabón ao lado do egípcio Mohamed Salah, com quem trabalhou por dois anos - Jaime Pabón/Arquivo pessoal

A experiência com o egípcio fez com que o preparador começasse a trabalhar com atacantes de outras equipes na Colômbia e em países sul-americanos. Fez trabalho semelhante com Santos Borré, campeão da Libertadores de 2018 com o River Plate e hoje no Eintracht Frankfurt.

O preparador colombiano percebeu que o trabalho com Salah estava realizado quando ele foi para o Liverpool, em 2017. Decidiram se separar no início do ano seguinte. Na sua avaliação, tratava-se do clube ideal, com o melhor técnico (o alemão Jurgen Klopp) e no momento perfeito na carreira do atacante.

A impressão de que todas as peças se encaixavam foi confirmada, e Mohamed Salah poderá ser eleito o melhor do mundo no próximo mês.

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