Salvadorenhos não esquecem a maior goleada da história da Copa do Mundo

Em 1982, seleção levou 10 a 1 da Hungria e voltou para casa como pária

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São Paulo

Duas imagens jamais saíram da cabeça de Mario "Macora" Castillo. A torcida invadindo o aeroporto de San Salvador para se despedir dos jogadores que viajariam para a Copa do Mundo. E a raiva com que foram recebidos na volta após o torneio.

"Nós viajamos como heróis e voltamos como párias", disse o zagueiro à Folha em 2014.

O húngaro Nyilasi (de vermelho) tenta passar por Ventura (número 6) e Rivas, de El Salvador, na partida entre as duas seleções na Copa de 1982
O húngaro Nyilasi (de vermelho) tenta passar por Ventura (número 6) e Rivas, de El Salvador, na partida entre as duas seleções na Copa de 1982 - DPA Picture-Alliance via AFP

Ninguém esperava muito de El Salvador no Mundial de 1982. A equipe havia participado de apenas um torneio anterior, o de 1970, no México. Dos três jogos na fase de grupos na Espanha, dois resultados foram respeitáveis: derrotas por 1 a 0 para a Bélgica e 2 a 0 diante da Argentina, então campeã do mundo.

Problema foi a estreia.

"É horrível. A sensação é que você traiu sua pátria e os seus torcedores. Eu não gosto de lembrar", afirmou o lateral Jaime "Chelona" Rodríguez há oito anos.

Na primeira partida, El Salvador sofreu a maior goleada da história da Copa do Mundo: 10 a 1 para a Hungria.

Até hoje a seleção não voltou a se qualificar para a competição e não estará no Qatar no próximo mês. Isso apenas aumenta o desgosto dos integrantes daquela equipe. A imagem da goleada humilhante perdura.

"Às vezes você vive um momento que entra para a história, mas está do lado errado", completou Rodríguez.

Ao ser questionado sobre quanto tempo leva para uma lembrança como essa ser apagado da memória dos torcedores, o lateral riu.

"Apagar? Não tem como. Eu lembro quase todos os dias. Nenhum dos atletas que estiveram em campo vai esquecer jamais."

O placar passa a impressão de um massacre. E foi, mas por apenas 45 minutos. No intervalo, a Hungria ganhava por 3 a 0. Já um score dilatado, mas não uma humilhação. No segundo tempo, os europeus marcaram mais sete vezes.

"Não tenho explicação para o que aconteceu. O time se perdeu em campo", disse o técnico Maurício Rodríguez.

El Salvador no começo da década de 80 era um país convulsionado pela guerra civil.

Logo depois à eliminação começaram a chegar ao conhecimento da imprensa os problemas que os convocados tiveram na preparação para a Copa e na viagem para a Espanha.

Dois atletas tiveram de ser cortados porque dirigentes ficaram com as passagens aéreas destinadas a eles. As camisas de treinos eram surradas. Para ajudar, a Adidas doou bolas, chuteiras e outros materiais de segunda mão.

"A gente esperou a vida inteira pela chance de jogar uma Copa do Mundo e acontece uma coisa dessas… Eu tenho orgulho do que fizemos, da classificação obtida e até do futebol que mostramos na Espanha, a não ser o segundo tempo contra a Hungria. Não há explicação para o que ocorreu", lamentava, décadas depois, Mario Castillo.

As duas vagas a que a Concacaf (a confederação que engloba o Caribe e as américas Central e do Norte) ficaram com Honduras e El Salvador, os dois primeiros colocados do torneio qualificatório de 1981.

Honduras seria uma das sensações do Mundial. Seu goleiro Arzul se tornaria um dos personagens mais cults da história do torneio. Depois de empatar com Espanha e Irlanda do Norte, o time chegou à última rodada com chances de classificação e esteve perto de obtê-la diante da Iugoslávia. Acabou derrotada por um gol de pênalti aos 43 minutos do 2º tempo.

Desempenho bem diferente do salvadorenho. Algo que também machucou os atletas do time que sofreu a maior goleada já registrada nas Copas.

"Nós enfrentamos Honduras, fora de casa, em 1981, e empatamos em 0 a 0. Pouco depois eles entram para a história por uma boa campanha e nós por termos sofrido uma goleada", constatou Chelona Rodríguez.

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