Maioria de homens não eclipsa presença de mulheres na torcida do Qatar

Torcedoras, muitas com hijab, cantavam, carregavam bandeiras e respondiam aos estímulos do campo

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Al Khor

Um olhar sobre a torcida do anfitrião da Copa do Mundo 2022 no jogo de estreia na noite deste domingo (15), no Qatar, revela um perfil já esperado dos torcedores: são majoritariamente homens. Mas as mulheres, embora em menor quantidade, também apareceram para torcer.

O país, de maioria islâmica e com um regime autocrático, é conhecido por ter regras e leis restritivas em relação às mulheres. Seu histórico de violação de direitos humanos quando o assunto são elas ou outros grupos minorizados, como a população LGBTQIA+, levantou dúvidas se o evento realmente aconteceria no país árabe quando foi anunciado, em 2010.

Chegou 2022, e a primeira partida entre Qatar e Equador aconteceu no estádio Al Bayt, em Al Khor. O jogo ocorreu após a cerimônia de abertura, que tentou varrer para baixo do tapete problemas de direitos humanos com discurso de diversidade e inclusão.

Mulher islâmica assiste a jogo entre Qatar e Equador - Gabriela Biló/Folhapress

Grande parte das mulheres da torcida qatariana era quase sempre vista acompanhadas de homens ou em grandes grupos de amigas.

Durante a partida, uma pequena parcela de torcedores qataris fez festa constante na arquibancada. Entre esses, as mulheres praticamente nem apareciam. Era um grupo organizado com algumas centenas de pessoas batucando tambores enquanto entoavam gritos em árabes. Vestiam uma camiseta do Qatar em tom de vinho e tinham fôlego interminável.

Há poucos metros dali, a esmagadora maioria continuava sendo de homens, mas os trajes eram tradicionais islâmicos. As companhias, porém, variavam entre femininas e masculinas. As mulheres, muitas delas com hijab, desta vez compunham de forma mais expressiva a torcida.

O comportamento comedido nos gestos não se refletia nos gritos. Não eram altivos, mas existiam.

Embora não entoassem os cantos da torcida organizada, carregavam suas bandeiras e respondiam aos estímulos do campo. Quando percebiam que haviam excedido um pouco a comemoração, voltavam para uma posição discreta, distante da postura que usualmente compõem os quadros nas arquibancadas dos jogos de futebol.

O Qatar foi o primeiro anfitrião da história dos Mundiais a perder o primeiro jogo. O 2 a 0 fez com que os fãs do time saíssem da partida antes que o jogo terminasse. As qatarianas deixaram o estádio Al Bayt em momentos diferentes. Algumas pareciam frustradas com o resultado, outras altivas com a experiência.

A presença de mulheres em jogos desafia uma das principais críticas em relação ao regime qatariano, que é visto como restritivo aos direitos e comportamento das mulheres.

No país, de maioria islâmica, os códigos de vestimenta indicam que mulheres andem com roupas que não deixem os ombros à mostra e não vistam nada acima dos joelhos.

As moradoras permanecem sob guarda dos homens de suas famílias –normalmente pai, irmãos, tios e avôs– e precisam de sua autorização para estudar fora com bolsas governamentais, se casar e receber tratamento alguns tratamentos reprodutivos, segundo a Anistia Interacional.

Para especialistas, o Qatar é conhecido por ser um país islâmico como menos proibitivo às mulheres do que outras nações.

As restrições, porém, também se estendem a estrangeiras. Se uma mulher que não é casada engravidar, mesmo em trânsito, ela pode ser presa ou deportada. Uma gestante que não é casada e dá a luz no país também pode enfrentar as mesmas consequências.

Outro tema que era um ponto de tensão para o regime é sua política punitiva com homossexuais. Declarações recentes de lideranças intensificaram a necessidade do país de dar um aceno a comunidade internacional de que o país estaria disposto a receber o grupo LGBTQIA+ durante a Copa.

O regime qatariano considera o ser gay crime passível de pena de morte, mas, em setembro, o emir Tamim bin Hamad Al Thani disse que torcedores homossexuais de todo o mundo eram bem-vindos "sem discriminação" ao país, em uma tentativa de apaziguar temores de ativistas.

Meses depois, porém, o ex-jogador da seleção do Qatar e embaixador da Copa Khalid Salman chamou a homossexualidade de "dano mental". Ele acrescentou ainda que ser gay é um "haram", pecado proibido no islã.

Ao contrário das mulheres, não houve manifestações que deixassem clara a presença de membros da comunidade, local ou internacional, nos jogos.

Desde o anúncio da Copa no Qatar, em 2010, ativistas feministas e LGBTQIA+ pedem boicote ao evento devido as constantes violações que o regime promove.

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