Técnico da Arábia Saudita fracassou em clubes e fez seu nome em seleções africanas

Campeão continental por Zâmbia e Costa do Marfim, francês Hervé Renard arquitetou primeira grande zebra da Copa

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Maceió

Hervé Renard foi o arquiteto da surpreendente vitória por 2 a 1 da Arábia Saudita sobre a Argentina, de virada. Um resultado que se coloca na lista das grandes zebras da história da Copa do Mundo e renova a esperança no processo de evolução do futebol o país.

O francês de 54 anos é responsável por parte desse projeto e conduz uma equipe renovada, integralmente composta de atletas que jogam na liga nacional saudita. Al-Dawsari, responsável pelo gol que definiu o placar, está no Al-Hilal desde as categorias de base, com breve passagem pelo Valencia, da Espanha, onde atuou em somente uma oportunidade.

Hervé Renard gesticula no surpreendente triunfo da Arábia Saudita - Cao Can/Xinhua

Já o técnico não conseguiu alcançar o sucesso em seu próprio país. Como jogador na França, não foi longe e tem como memórias mais marcantes as pessoas que conheceu nas categorias de base do Cannes: o lendário técnico Arsène Wenger e o craque Zinédine Zidane, vitorioso dentro e fora das quatro linhas.

Renard inicialmente se afastou do futebol depois ter pendurado as chuteiras. Abriu uma empresa de coleta de lixo na França até que veio o convite para ser auxiliar técnico em Gana. Evoluiu em trabalhos na França, na Inglaterra, no Vietnã e na Argélia. Seu nome cresceu no comando da Zâmbia.

Em 2012, ele conquistou o título da Copa Africana das Nações, o primeiro do país, em cima da Costa do Marfim, que era liderada pelo atacante Didier Drogba. Renard resolveu testar o mercado e foi para o Sochaux, da França, mas o trabalho se encerrou com o rebaixamento para a segunda divisão.

Seu novo sucesso veio com a Costa do Marfim, onde também conquistou a Copa Africana de Nações, em 2015. Chamaram-no de "mago branco", pelo seu aspecto físico e por sempre usar camisas brancas e calças azuis. Foi pelo visual que lhe apelidaram de sósia de Nikolaj Coster Waldau, que à época interpretava Jaime Lannister, na série "Game of Thrones".

Renard resolveu treinar outra equipe francesa, o Lille, mas o desempenho ruim se repetiu, e ele foi demitido durante a temporada. Treinou o Marrocos na Copa do Mundo de 2018 e está na Arábia Saudita desde 2019. Ele ajudou na classificação à edição deste ano do torneio e teve o contrato ampliado para 2027.

O príncipe Mohammed bin Salman tem o projeto de tornar a Arábia Saudita uma potência futebolística. Renard é parte disso e tem boa relação com Salman, o primeiro na linha de sucessão ao trono, ocupado por seu pai, também Salman, de 86 anos.

Nomeado premiê pelo pai e conhecido pela sigla MbS, o príncipe de 37 anos já é o governante de fato e promoveu avanços civis no país, mas também é o responsável por forte repressão aos dissidentes. Sua reputação foi abalada com o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado do reinado em Istambul, em 2018.

"Quando decidi treinar esta equipe, há três anos, encontrei todo o apoio", disse Renard após a vitória sobre a Argentina. "Temos um grande presidente da federação e também o Ministério do Esporte. Quando nos encontramos com o príncipe (Mohammed bin Salman), ele não nos pressionou, e isso é maravilhoso. Ser pressionado não funciona com frequência."

O resultado, de acordo com a imprensa saudita, fez com que quarta-feira (23) se torne um feriado nacional em todos os setores.

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