Príncipe herdeiro é nomeado premiê da Arábia Saudita pelo pai e acelera transição

Acusado de ser mandante de assassinato de jornalista, Mohammed bin Salman já governava país na prática

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Riad | AFP e Reuters

Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita conhecido pela sigla MbS, foi nomeado primeiro-ministro do país nesta terça-feira (27) —o cargo é tradicionalmente ocupado pelo rei.

A nomeação foi publicada em um decreto assinado pelo rei Salman, pai do príncipe, sem que o documento especificasse motivos para a reforma. Em outro decreto, o monarca apontou o irmão mais novo de MbS, príncipe Khalid bin Salman, como novo ministro da Defesa. As demais pastas do regime não sofreram alterações.

Nomear o príncipe herdeiro como primeiro-ministro é uma decisão pouco comum, mas não inédita. O mesmo movimento aconteceu na década de 1950 com o príncipe Faisal.

O príncipe saudita Mohammed bin Salman em encontro de negócios em Riad - Fayez Nureldine - 23.out.18/AFP

Com a escolha de MbS para o cargo de chefe do governo, o monarca dá prosseguimento à transferência gradual de poder no maior exportador de petróleo do mundo. O príncipe herdeiro, na prática, já governava a Arábia Saudita, embora ainda não tivesse formalmente o cargo que ganhou nesta terça. Aos 37 anos, supervisiona as áreas de petróleo, defesa, a política econômica e a segurança interna do país.

Como ministro da Defesa, cargo que ocupava até esta terça, ele supervisionou as atividades militares de seu país no Iêmen, onde o governo local, apoiado pelos sauditas, luta contra rebeldes aliados do Irã. A guerra no país do Oriente Médio já foi definida como a crise humanitária mais grave do mundo.

O rei saudita permanecerá como chefe de Estado e seguirá comandando as reuniões das quais participa, disse o comunicado.

O monarca tornou-se governante em 2015 depois de passar mais de dois anos e meio como príncipe herdeiro. Com 86 anos, foi hospitalizado várias vezes nos últimos tempos, inclusive neste ano, quando passou uma semana no hospital para uma série de exames. Quando seu pai morrer, aliás, MbS deverá se tornar o rei mais novo da história saudita.

Desde que chegou ao poder em 2017, MbS mudou radicalmente a Arábia Saudita, liderando esforços para diversificar a economia da dependência do petróleo, permitindo que as mulheres dirigissem e restringindo o poder dos clérigos sobre a sociedade.

Essas reformas com avanços civis pontuais, no entanto, vieram junto de forte repressão à dissidência —ativistas, membros da realeza, defensores dos direitos das mulheres e empresários foram presos. Além disso, sua reputação foi manchada com o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado do reinado em Istambul, em 2018.

O episódio prejudicou as relações do país com os EUA, um importante aliado, e outros parceiros ocidentais. Crítico do regime saudita, Khashoggi escrevia uma coluna para o jornal americano The Washington Post. Investigações das Nações Unidas e dos EUA apontaram para a responsabilidade do príncipe no mando do crime.

Em julho deste ano, porém, Washington tentou restabelecer a aliança histórica com Riad em uma viagem do presidente americano, Joe Biden, ao reinado. Em sua reunião com MbS, o democrata disse ter confrontado o príncipe sobre o assassinato de Khashoggi e que acreditava que ele era pessoalmente responsável pela morte do jornalista.

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