Não será surpresa se a Croácia ganhar do Brasil, diz o brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva

Ex-jogador que defendeu seleção croata em Copa afirma que é preciso ter respeito com times de menor expressão

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Maceió

O brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva não se surpreenderia se o elenco capitaneado por Modric conseguisse a vaga às semifinais em cima do Brasil na Copa do Mundo do Qatar. Os times se enfrentam nesta sexta-feira (9), às 12h.

Segundo ele, é preciso ter cautela com a seleção europeia e especialmente o que se pensa de times de menor expressão em competições como a Copa do Mundo. Da Silva citou até preconceito com jogadores de times como o Marrocos, Croácia e Japão.

"Quando Croácia e Marrocos empataram na estreia, todo mundo achou que fosse o pior jogo da Copa. Agora, estão as duas seleções aí nas quartas de final, com chances de passar. São times que se construíram para isso. Eu vi mais críticas aos japoneses por terem perdido os pênaltis do que elogios ao Livakovic por ter defendido. Já no jogo entre Marrocos e Espanha, não foram os espanhóis que perderam os pênaltis, mas sim o goleiro de Marrocos que pegou. Você vê a diferença? Nessa fase da Copa, não se joga bonito, se joga para se classificar. É preciso ter respeito com seleções menores", disse.

Eduardo da Silva defendeu a seleção croata de 2004 a 2014 - eduardofficial no Instagram

Com fortes raízes na Croácia, onde morou durante oito anos, Eduardo da Silva reconhece que a cultura futebolística do país é algo que vem se fortalecendo. Desde 1998, quando disputou a sua primeira Copa, o país chegou a um 3º lugar (naquele ano) e ao vice-campeonato em 2018, mas ficou fora da edição da África do Sul, em 2010.

"O Brasil é o favorito para ganhar o jogo e a Copa, claro, mas a competição começa para a Croácia agora. Não jogou bem contra o Japão, mas continua sendo um time forte. Tem o coração da equipe, que é o Modric, os pulmões, que são o Kovacic e o Brozovic, além do Perisic, que é um cara sempre constante para o lado bom. Ainda cito aqui o Gvardiol, de só 20 anos, que vem fazendo bons jogos, e o Livakovic, que é uma segurança se a partida for para os pênaltis. Não me surpreende se vencerem o Brasil", analisou.

A mentalidade da Croácia é também o que o ex-jogador vê como um possível diferencial entre a geração croata e a geração belga, que saiu da Copa do Mundo eliminada e com rachas no elenco se tornando públicos.

"É o tipo de coisa que a Croácia não permite. Rebic e Kalinic são exemplos disso. A mensagem é clara: problemas externos não podem tomar conta do grupo. O grupo tem que estar fechado no objetivo. Essa mentalidade se mantém em todas as circunstâncias. Já era assim na minha época, por exemplo", conta.

Eduardo se aposentou do futebol em 2019. Ele viajou para a Croácia em 1999, após ser observado por olheiros do Dínamo Zagreb, aos 16 anos. Passou por Arsenal (ING), Shakhtar Donetski (UCR), Flamengo, Athletico Paranaense e Lérgia Varsóvia (POL). Aos 39 anos, trabalha como intermediário, levando jovens brasileiros à Europa, para fazer o movimento que ele fez.

Você vê uma diferença de tratamento entre as seleções maiores e menores?
Quando Croácia e Marrocos empataram na estreia, todo mundo achou que fosse o pior jogo da Copa. Agora, estão as duas seleções aí nas quartas de final, com chances de passar. São times que se construíram para isso. Fica uma sensação de preconceito com a Croácia por conta do empate com o Japão, por não ter jogado bem. Foi a seleção que chegou à final em 2018, que estava bem cotada até antes do torneio, e agora parece que não tem valor. Eu vi mais críticas aos japoneses por terem perdido os pênaltis do que elogios ao Livakovic por ter defendido. É mérito dele. A Croácia sempre fez bons goleiros e em 2018 também disputou pênaltis para chegar à final.

Já no jogo contra Marrocos e Espanha, não foram os espanhóis que perderam os pênaltis, mas sim o goleiro de Marrocos que pegou. Você vê a diferença? Nessa fase da Copa, não se joga bonito, se joga para se classificar. É preciso ter respeito com seleções menores. É preciso olhar para as questões específicas desse time. O futebol hoje é coletivo e tem, sim, seus favoritos, mas há uma igualdade quando se chega numa fase de mata-mata.

Por que a geração croata é diferente da geração belga?
A Bélgica escancarou os problemas no elenco nessa Copa do Mundo, com discussões e até declarações públicas dos atletas. É o tipo de coisa que a Croácia não permite. Rebic [não foi convocado] e Kalinic [cortado durante a Copa de 2018 porque se recusou a entrar em campo] são exemplos disso. A mensagem é clara: problemas externos não podem tomar conta do grupo. O grupo tem que estar fechado no objetivo. Essa mentalidade se mantém em todas as circunstâncias. Já era assim na minha época.

A Croácia é um país pequeno, assim como a Bélgica, e tem uma escola tática muito forte. Forma jogadores bons em todas as posições do campo e agora vem investindo em ter mais campos de futebol. Eles sabem que caras como Modric, Rakitic, Brozovic, Perisic e outros não vão estar para sempre, então precisam que novos atletas surjam. Estão abrindo o caminho para isso.

Eduardo e Mandzukic se abraçam em jogo da Copa do Mundo de 2014 contra Camarões - Murad Sezer - 18.jun.2014/Reuters

É surpresa se a Croácia vencer o Brasil?
Para mim, que vivi o país, não é. Eu acredito que o Brasil vai criar mais chances durante o jogo porque tem um jogo de pontas muito forte, mas a Croácia também vai conseguir chegar bem ao ataque. Se o Brasil não converter suas chances, provavelmente vai se complicar durante a partida, porque os croatas são assertivos.

Para mim, o Brasil é muito forte na defesa, com o Alisson e os quatro que jogam mais perto dele, além do Casemiro. No ataque, tem o Vinicius Junior, o melhor jogador do time na Copa para mim, Neymar, Raphinha com fome de gol, Richarlison que pode resolver, além do Paquetá mais atrás, então é um time muito qualificado.

O Brasil é o favorito para ganhar o jogo e a Copa, claro, mas a competição começa para a Croácia agora. Não jogou bem contra o Japão, mas continua sendo um time forte. Tem o coração da equipe, que é o Modric, os pulmões, que são o Kovacic e o Brozovic, além do Perisic, que é um cara sempre constante para o lado bom. Ainda cito aqui o Gvardiol, de só 20 anos, que vem fazendo bons jogos, e o Livakovic, que é uma segurança se a partida for para os pênaltis. Não me surpreende se vencerem o Brasil.

A Croácia recebe críticas por não ter um atacante como Suker. É justo?
Eu acho que isso cai um pouco na falta de uma análise específica do time. O técnico vem rodando bem o time, especialmente nesse setor, e tem dois estilos de atacante. Os mais pesados, que fazem um bom pivô e seguram mais a bola, como o Kramaric, Livaja e Bruno Petkovic, e jogadores mais rápidos, como o Budimir e o Orsic. Eles são usados de diferentes formas, a depender do jogo, e nem todos eles precisam brilhar para que o time ganhe. O futebol é coletivo. Veja só o Giroud. Foi campeão em 2018 e não fez gol. O Kane, que foi artilheiro na Rússia, está com uma função de passador, abrindo espaços. O jogo neste ano está sendo dos pontas. É melhor ser campeão ou fazer 10 gols e perder?

Essa Copa está tendo um alto número de lesões e algumas são sérias. Em 2008, você passou por um momento difícil. Como foi para se recuperar?
A lesão sempre é difícil pelo aspecto mental do jogador. Infelizmente, no meu caso, eu passei a ser visto como um 'carro quebrado', porque minha lesão foi séria. Eu passei quase um ano para voltar a jogar e dois anos para me recuperar mentalmente, para sentir confiança no meu corpo. Só que o futebol e o meio do futebol são diferentes, então eles tendem a confiar menos nos atletas que têm um problema sério. Lances que eu errava antes de me machucar se tornaram grandes problemas ou críticas. Gols que eu fazia antes de me machucar viraram lances de sorte, não de mérito. Esse, para mim, é o problema e é o que eu acho que os jogadores precisam superar.

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