Garota da terra de Mequinho mira título mundial de xadrez

Maria Tischler, 8, é campeã sul-americana em sua categoria e integra geração de prodígios brasileiros

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São Paulo

A gaúcha Maria Tischler, 8, diz que ainda está se acostumando a dar entrevistas, mas responde com desenvoltura a perguntas sobre sua rápida ascensão no xadrez.

Cinco meses depois de entrar no circuito oficial, ela já era campeã brasileira entre as meninas de até oito anos. Seis meses mais tarde, em dezembro do ano passado, tornou-se campeã sul-americana na mesma categoria, no Paraguai.

Seu próximo desafio é o Mundial escolar, que será realizado em abril, na Grécia. Não há de ser fácil, mas Maria nunca olha por esse ângulo. "Eu sempre vou para vencer. Acho que, se não é para vencer, é melhor nem ir", afirma.

menina de 8 anos num mesa de xadrez, segurando uma boneca
Maria Tischler durante o Pan-Americano de xadrez, no Uruguai, em 2022 - Arquivo pessoal

Sua primeira participação em um campeonato ocorreu no Floripa Open, em janeiro passado. Era a única menina entre os 14 enxadristas de seis a oito anos. Ficou em quarto lugar.

Agora, exatamente um ano depois da estreia, foi competir em Florianópolis de novo, mas desta vez em categorias acima da sua. Queria enfrentar adversários mais velhos, para acumular experiência de olho no Mundial.

Viajou, como sempre, acompanhada dos pais, a servidora pública Tiana Tischler, 44, e o magistrado Eduardo Vandré Lema Garcia, 54, recém-promovido a desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª região.

"É um pouco tenso, mas a gente curte todo o envolvimento, curte acompanhar as partidas", diz Eduardo. "Ela já ficou três horas e 40 minutos em um jogo. A gente fica na ansiedade, e só passa quando vem o resultado."

Eduardo gosta de xadrez desde pequeno. Começou a jogar no final dos anos 1970, entusiasmado com Henrique Costa Mecking, o Mequinho, um garoto-prodígio que encarava os melhores do mundo.

Quando Maria tinha quatro anos, Eduardo começou a lhe ensinar xadrez. A garota não demorou a se empolgar.

"Gostei da estratégia, dos planos. Eu adoro planejar, então meio que combina com minha personalidade", afirma Maria, porto-alegrense que desde os dois anos mora em Santa Cruz do Sul, cidade gaúcha onde nasceu Mequinho.

Em pouco tempo, percebendo o talento de Maria, Eduardo criou uma rotina de treinos. Há cerca de dez meses, decidiu investir em um professor de elite –não necessariamente para a filha seguir carreira nos tabuleiros.

"Eu acho que a gente tem que dar o melhor. Ela vai ter que responder a essa pergunta lá adiante. Enquanto não aparece o momento dessa decisão, é importante que ela dê o melhor. O título é para sempre", diz Eduardo.

São três horas diárias, de segunda a sexta, divididas entre exercícios com o pai e aulas particulares com André Diamant, 32, que é grande mestre internacional (espécie de faixa preta do xadrez).

"Ela me impressionou desde a primeira partida que joguei com ela", diz Diamant, campeão brasileiro em 2008. "Foi estranho, porque o nível dela não combinava com uma pessoa de sete anos. Era muito alto."

Maria não reclama da carga de treinos. Ao contrário. Ela adora e ainda acha tempo para outras atividades, como dança e piano. Também brinca de boneca e até carrega uma para os torneios. Às vezes, perde aulas na escola, o Colégio Mauá, mas seu boletim continua exemplar. Por causa do xadrez, tem bolsa de 50%.

"Eu vou me dedicar o máximo que puder enquanto gostar. Meus pais sempre me dizem que, quando eu parar de gostar, não vou precisar mais jogar", diz Maria, caçula de uma novíssima geração brasileira de enxadristas.

NOVA GERAÇÃO DO XADREZ

Lucas Flesch, 8, por exemplo, é apenas dois meses mais velho do que Maria. Nascido em Florianópolis, também estreou no circuito no ano passado e já conquistou, na sua faixa etária, o Campeonato Brasileiro e o Sul-Americano.

Outro acumulador de títulos é o paulistano Tobias de Oliveira, 8, três meses mais velho do que Maria. Acostumado a levantar troféus desde os cinco anos, venceu em 2022, entre outros, em sua categoria, o Brasileiro escolar e o Sul-Americano de blitz (partidas com cerca de seis minutos).

Com 11 anos, Olavo, irmão de Tobias, também começou cedo. Já foi campeão brasileiro escolar e, no ano passado, campeão sul-americano.

Mathias Casalaspro, 10, é outra promessa do xadrez brasileiro. Paulistano, disputa torneios desde setembro de 2019. Já participou de 202 competições, das quais 67 eram internacionais. No ano passado, conquistou, entre outros, o Brasileiro e o Sul-Americano de blitz para crianças de até dez anos.

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