Leila Pereira escancara brigas na liga de clubes e divergência com o Flamengo

Dirigentes reconhecem internamente erro em cláusula de unanimidade para mudança no estatuto

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São Paulo

O documento circulou pelos aplicativos de WhatsApp dos presidentes de times das séries A e B do Campeonato Brasileiro. Era cópia do estatuto da Libra (Liga do Futebol Brasileiro), grupo de 18 clubes que quer formar a liga de clubes no país.

O pedido não era para que o documento fosse lido. A questão era quem havia criado o arquivo de Word. Tratava-se de advogado ligado ao Flamengo. Era uma forma de dizer que a equipe da Gávea controlava o que acontecia na entidade que pretende organizar o torneio nacional a partir de 2025.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, em entrevista à Folha em abril do ano passado
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, em entrevista à Folha em abril do ano passado - Karime Xavier-6.abr.22/Folhapress

Os cartolas descartaram a informação. O estatuto da Libra era um documento colaborativo e pouco importava quem o havia iniciado. Ele estava passando por transformações graças a sugestões de todos os envolvidos.

Durante meses a estratégia de pessoas ligadas à LFF (Liga Forte Futebol), organização que tem outros 26 clubes das três principais divisões, foi apontar o poder de Flamengo e Corinthians, especialmente do rubro-negro carioca, e a vantagem financeira que eles teriam com a fórmula proposta pela Libra.

Mesmo integrantes da Libra reconheciam isso e, com o passar do tempo, demonstraram incômodo com o comportamento de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo. Ele obstruía a maioria das propostas que poderiam levar a um consenso com a Forte Futebol usando o poder de veto aprovado pelos próprios filiados: qualquer mudança estatutária deve ser aprovada por unanimidade.

De maneira interna, a maior contestadora do suposto poder do Flamengo era a mandatária do Palmeiras, Leila Pereira. Ela decidiu, a partir da semana passada, que o melhor era tornar seu descontentamento público.

"Eu não entendo porque os demais clubes não se manifestam como eu me manifestei. Se for para dois clubes comandarem a liga, eu prefiro deixar como está hoje, sob a organização da CBF", disse ela neste domingo (16), em entrevista à Rádio 365.

Dias antes, já havia reclamado que o Flamengo tentava impor sua vontade para ter mais dinheiro do que os demais, ao lado do Corinthians.

"O que coloquei é o sentimento de vários clubes que estão na Libra. Não vou participar mais de reuniões para não se decidir nada. Luto para que os presidentes deixem a vaidade de lado e pensem no ecossistema", completou.

A Folha tentou entrar em contato com Rodolfo Landim, mas ele não atendeu ao telefone e nem respondeu a mensagem enviada pela reportagem.

O problema é a divisão de dinheiro. A Libra tem proposta de R$ 4,8 bilhões da Mubadala, fundo de investimento ligado à família real dos Emirados Árabes. A LFF assinou documento de R$ 4,85 bilhões da Serengeti, norte-americana. Nos dois casos, o valor integral só é válido se contar com os 40 times que vão compor as séries A e B em 2025. Caso isso não aconteça, a oferta cai para menos da metade.

Até 2024, os direitos de televisionamento pertencem ao Grupo Globo.

Em reunião realizada em fevereiro, os integrantes da Libra buscaram um consenso para apresentar nova oferta à LFF. Até agora, não houve acordo.

O grupo aceita colocar um limite máximo de 3,4 vezes para a diferença entre o time de maior e menor arrecadação. Também mudou o critério de engajamento (um dos itens de remuneração) para levar em consideração apenas a audiência média dos jogos.

São duas reivindicações feitas pela LFF e que, no entender dos cartolas da Libra, emperravam as negociações. Eles também acham que a oferta da Serengeti do Futebol Forte não é para valer e que o fundo não tem os R$ 4,85 bilhões.

Depois de um período de transição de cinco anos, chegaria-se também à fórmula 45-30-25, sendo 45% dos recursos repartidos em partes iguais, 30% pela classificação no campeonato e 25% pela média de audiência. Este é, no momento, o nó que amarra as conversas.

Rodolfo Landim, presidente do Flamengo (centro), recebe cheque de premiação de campeão da Libertadores de 2022
Rodolfo Landim, presidente do Flamengo (centro), recebe cheque de premiação de campeão da Libertadores de 2022 - Santiago Arcos-29.out.22/Reuters

Seria metade de uma década em que Flamengo e Corinthians manteriam uma vantagem que poderia chegar a R$ 150 milhões sobre a concorrência porque teriam, a partir de 2025, como valor mínimo a receber, aquilo que embolsaram em 2024. Para membros da LFF, isso é manter o cenário atual e ampliar o abismo financeiro.

Há clubes na Libra que concordam com essa visão, mas não conseguem fazer os clubes beneficiados mudarem de ideia por causa da cláusula de unanimidade. Ela possibilita a Landim, dono do comportamento que tem irritado os colegas, por postergar decisões e tentar vencer pelo cansaço, vetar qualquer alteração.

Os cartolas reconhecem que a inclusão desta cláusula foi um erro.

Tratou-se de uma tentativa de acelerar as discussões para formação da liga e forçar as agremiações do LFF a se juntarem à Libra. Nas palavras de um presidente, era estratégia de assinar agora para discutir o resto depois.

Após reunião em fevereiro, a Libra disse estar perto de mudar a questão da unanimidade. A reação de presidentes do Futebol Forte ouvidos pela reportagem é de só acreditar nisso quando o papel estiver assinado.

VEJA OS 18 CLUBES QUE FAZEM PARTE DA LIBRA:

Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória.

VEJA OS 26 CLUBES QUE FAZEM PARTE DA LFF:

ABC (RN), Athletico, Atlético Mineiro, América-MG, Atlético Goianiense, Avaí (SC), Brusque (SC), Chapecoense (SC), Coritiba (PR), Ceará, Criciúma (SC), CRB (AL), CSA (AL), Cuiabá (MT), Figueirense (SC), Fluminense (RJ), Fortaleza (CE), Goiás (GO), Internacional (RS), Juventude (RS), Londrina (PR), Náutico (PE), Operário (PR), Sport (PE), Vila Nova (GO) e Tombense.

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