O empresário brasileiro André Zimmermann vive há cinco anos a menos de 500 metros do estádio Mestalla, em Valência, onde aconteceu, neste domingo (21), o jogo em que Vinicius Junior foi atacado pela torcida do time da cidade com ofensas e mímica racistas.
Zimmermann assistia a partida pela TV com seu filho de 5 anos, mas conseguia ouvir os gritos dos torcedores pela janela, devido à proximidade do estádio. Quando o jogo foi interrompido, seu filho perguntou do que se tratava. Ele não soube responder. Na manhã desta segunda, o brasileiro publicou um comovente relato em sua página no Facebook.
Abaixo, seu depoimento e seu post:
Hoje essa história foi o assunto da cidade. Levei meu filho à escola de manhã e todos os pais estavam lamentando o acontecido. No elevador aqui do prédio, a mesma coisa, todo mundo lamentando. Todos que moram aqui conseguem ouvir as torcidas no estádio. É normal.
O que me entristece é que Valência, na verdade, tem um histórico de acolhimento. Quando cheguei à cidade, em 2018, havia um barco de refugiados que havia sido recusado por várias cidades. A comunidade aqui se mobilizou para recebê-los. Valência é acolhedora. Aberta, Amigável.
Foi por isso que escrevei esse relato no Facebook:
Escolhi a cidade de Valência para morar e quero ficar aqui para sempre. Aqui somos felizes, eu e minha família, nos sentimos bem, nos sentimos acolhidos, gostamos das pessoas, das tradições, do ambiente.
Mas ontem, durante a partida entre Valência e Madrid, enquanto eu ouvia da minha casa, que fica ao lado do Mestalla, a torcida gritando "Mono, mono" para Vinicius Jr., isso me deu uma sensação muito ruim, fiquei triste, eu não queria estar aqui.
Estávamos assistindo o jogo na TV e meu filho de 5 anos me perguntou o que estava acontecendo, pois eles não estavam mais jogando futebol, e eu não sabia o que responder.
Por que eles deixam o futebol de lado e fazem esse tipo de coisa com uma pessoa? Por que todos os dias, em todos os jogos, em diferentes partes da Espanha, continuam a insultá-lo com cânticos racistas e ninguém faz nada, nem a LaLiga, nem seu próprio time, nem a imprensa, nem o povo.
Alguns tentam diminuir o que acontece, dizendo que são alguns idiotas que fazem isso. Não é verdade. Ontem, da minha sala, ouvi gritos de muita gente, de grande parte da torcida.
Outros tentam justificar a atitude, dizendo que Vinicius provoca os torcedores. É daí que tiro as palavras de Jürgen Klopp [treinador do Liverpool], que outro dia, ao ser questionado sobre o assunto, respondeu de forma direta e precisa: "Não há nada que justifique o racismo". Nada. E ponto.
Sei que o mundo está cheio de coisas ruins e tristes, mas tenho a ilusão de poder criar meu filho em um lugar onde haja o mínimo de respeito ao ser humano, onde o racismo ou a discriminação não seja tolerado. Onde os que o cometeram sejam punidos de forma exemplar, seja na rua, numa empresa ou num campo de futebol.
E para que as pessoas que são racistas tenham medo de sê-lo e de sair por aí se expressando livremente.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.