A partir de camisa de Caniggia, argentino construiu maior museu de futebol do mundo

Legends: The Home of Football, em Madri, tem uniformes, telões, cinema 4D e experiências de realidade virtual

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Madri

Madri inaugurou recentemente o maior museu já feito sobre o futebol. Trata-se do Legends: The Home of Football, um espaço de 4.200 metros quadrados divididos em sete andares de um prédio na praça do Sol, marco zero da capital espanhola.

E tudo começou com o gol do argentino Claudio Caniggia contra o Brasil, na Copa do Mundo de 1990.

Com experiências imersivas, cinema 4D, dezenas de vídeos, loja no térreo e restaurante temático na cobertura, o Legends tem como principal atração os uniformes usados pelos atletas em algumas das partidas mais importantes da história.

Sala do museu Legends: The Home of Football, em Madri - Divulgação

A sala Joias da Coroa, por exemplo, exibe a camisa usada por Garrincha na final da Copa do Mundo de 1958. Também estão em exposição o uniforme com o qual o holandês Marco van Basten marcou decisivo golaço de voleio contra a União Soviética na final da Eurocopa de 1988, o usado pelo italiano Paolo Rossi para eliminar o Brasil na Copa de 1982, aquele com o qual o argentino Maradona ganhou contra a Alemanha a Copa de 1986 e o que esteve no corpo de Lothar Matthäus quando a Alemanha retomou o título mundial, em 1990. E, claro, o de Caniggia.

"Nenhuma das camisetas expostas é réplica. A condição para estejam aqui é justamente que tenham sido usadas pelos craques nas partidas descritas", conta o argentino Marcelo Ordás, o criador do museu.

Há uma exceção. A de um dos jogadores mortos no acidente de avião que levava a Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana de 2016, na Colômbia. A camiseta, ele conta, tem uma parte queimada nas costas, mas não se pode ver esse detalhe, em respeito aos familiares que cederam a peça.

Talvez a maior diferença entre esse e outros museus futebolísticos seja sua abrangência. O Legends não se fecha em uma seleção, time ou campeonato. A Fifa (Federação Internacional de Futebol), por exemplo, possui um museu de 3.000 metros quadrados em Zurique, mas seu foco são as competições organizadas pela entidade, como as Copas do Mundo.

No Legends, há Copa do Mundo, Champions League, Copa Libertadores, Copa América, Copa Africana, Eurocopa, e por aí vai, cada competição tendo um espaço exclusivo, com os uniformes intercalados por telas exibindo os gols de cada final.

O Maracanazo de 1950 ganhou uma sala própria, onde, além dos uniformes, duas grandes telas exibem os gols e as falas das autoridades do Rio de Janeiro antes da partida.

Sala sobre o Maracanazo no museu Legends, em Madri - Divulgação

Para colocar o Legends de pé, Ordás vendeu porcentagens da empresa para três grandes instituições, a Fifa, a Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) e LaLiga (organizadora do Campeonato Espanhol).

E também fez acordos com a Conmebol (Confederação Sul-Americana de futebol) e o COI (Comitê Olímpico Internacional), oferecendo produtos oficiais de todos eles em sua loja. Uma camiseta réplica dos uniformes custa ali € 69,95 (R$ 367), e as bolas, de € 17 a € 30 (R$ 89 a R$ 158). Já o ingresso para adulto custa € 21,30 (R$ 112) no site oficial, e € 16,20 (R$ 85) para crianças de 4 a 13 anos.

O custo do museu, inaugurado no meio do ano, ficou em € 10 milhões (R$ 52,5 milhões). E foi só o primeiro. No último mês, o Legends inaugurou a segunda unidade, em Riad, na Arábia Saudita, e há planos em andamento para Buenos Aires, Tóquio e Miami.

Marcelo Ordás conta que possui 6.100 peças da "maior paixão humana", como ele se refere ao futebol. E apenas uma pequena parcela está em exposição hoje: 550 no museu de Madri e 250 no da capital saudita.

Bola e chuteiras de 1954 exibidas no Legend, em Madri - Divulgação

Ao recordar os primórdios de sua coleção, Ordás se empolga e conta de forma detalhada como seu pai o levou para um jogo da Argentina na Copa de 1978 e para outro na de 1986. Mas foi em 1990, na Itália, que sua vida mudou, e de forma muito entrelaçada com a seleção brasileira.

Foi quando Maradona lançou Caniggia, e a Argentina despachou o Brasil nas oitavas. "Naquele jogo eu já era um doente maluco pela minha seleção. E o Brasil jogou muito melhor, mandou quatro bolas na trave, mas a Argentina venceu aquele jogo impossível."

"Eu estava tão nervoso, nunca sofri tanto numa partida de futebol. O estádio tinha 80% de brasileiros, 10% de italianos torcendo para o Brasil e o resto de argentinos. Quando o Caniggia marcou, a dez minutos do final, eu desmaiei. Acordei depois do fim do jogo, e representantes da AFA [Associação do Futebol Argentino] foram me visitar na enfermaria. Eles me levaram ao vestiário", lembra Ordás, que tinha 17 anos.

"Apresentaram-me a Caniggia dizendo que eu havia desmaiado com o gol dele. Pedi um abraço e disse que ele representava 32 milhões de argentinos. De alguma forma, ele se sensibilizou, abriu a mochila e me deu a camiseta cheia de suor que havia utilizado em campo. E essa foi a primeira."

Marcelo Ordás, criador do museu Legends, e o ex-jogador alemão Lothar Matthäus, em Madri - Divulgação

Nos mais de 30 anos passados desde Caniggia, Ordás conseguiu convencer centenas de jogadores a ceder sua "armadura", como ele chama, para o projeto de um museu da maior das paixões humanas. Muitos venderam. E grande parte entregou o uniforme de outros ídolos, pois, após os jogos, haviam trocado de camisa.

Foi assim que o capitão alemão de 1986, Lothar Matthäus, deu a Ordás aquela que ele considera a mais importante relíquia de sua coleção: a roupa que Maradona usou para vencer, contra Matthäus, a final daquela Copa.

Argentino como é, Ordás dá um belo drible para dizer quem foi o maior jogador de todos os tempos: "Não vi Pelé em campo. Então, dentre os que vi, é Maradona." E o Messi? "Bom, Maradona foi o maior jogador do século 20. E Messi, do século 21." E assim segue o futebol.

Legends: Home of Football

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