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Ex-diretora da CBF diz ter descoberto câmeras escondidas na sede da entidade

Luísa Rosa disse ao Ministério Público que aparelhos de escuta e imagem estavam no teto do restaurante; entidade não comentou

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São Paulo

Ex-diretora de patrimônio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a arquiteta Luísa Rosa disse em depoimento ao Ministério Público do Trabalho ter descoberto um aparato de espionagem instalado de forma camuflada no teto do restaurante da sede da entidade, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Sede da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro - Ricardo Borges/Folhapress

O local, no quarto andar do prédio, é frequentado diariamente pela diretoria da CBF, funcionários e visitantes. Os equipamentos teriam sido notados no início deste ano durante reforma do local, que tinha problemas de infiltração.

"Durante a reforma, [a ex-diretora] descobriu que havia câmeras e escutas instaladas de maneira clandestina no restaurante do quarto andar", diz relato das declarações dela ao promotor Fabio Luiz Iglessia em 17 de agosto deste ano, obtido pela Folha.

O depoimento ocorreu no contexto de acusações de assédio moral e sexual feitas pela ex-diretora contra a CBF, que foram reveladas em junho deste ano pelo site Globoesporte.com.

Primeira diretora mulher da história da entidade, Rosa foi anunciada para o cargo com pompa pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, em abril de 2022, como prova de seu compromisso com a diversidade.

Câmera no teto do restaurante da CBF disfarçada de detector de fumaça, segundo relato de ex-diretora
Câmera no teto do restaurante da CBF disfarçada de detector de fumaça, segundo relato de ex-diretora - Reprodução

Responsável por supervisionar todas as obras físicas da sede e de instalações externas, ela ficou na função por apenas 15 meses.

A ex-diretora não detalhou ao MPT o aparato de espionagem que diz ter descoberto, mas a Folha teve acesso a outros informações e a fotos da suposta estrutura de arapongagem.

Seriam, segundo a descrição de Rosa, cinco câmeras no teto, disfarçadas como se fossem detectores de fumaça. Os aparelhos foram percebidos pela equipe da então diretora pouco após o Carnaval, durante as obras contra infiltração. Teriam sido instalados durante as férias de janeiro por pessoas ligadas a Ednaldo.

Para comprovar que não eram detectores, membros da equipe da ex-diretora chegaram a espirrar sprays em direção a eles, que não apitaram.

Além disso, haveria uma espécie de sala de controle no gabinete do próprio presidente da CBF, semelhante às existentes em guaritas de condomínios, com uma tela mostrando todas as câmeras.

Tela para monitoramento de câmeras na sala do presidente da CBF, segundo relato de ex-diretora
Tela para monitoramento de câmeras na sala do presidente da CBF, segundo relato de ex-diretora - Folhapress

Procurada, a ex-diretora não quis se manifestar, uma vez que o caso corre em sigilo.

Já a assessoria de comunicação da CBF também disse que não se pronunciaria.

No depoimento ao MPT, a ex-diretora reafirma as acusações de assédio moral, citando Ednaldo.

Ela diz ter sido desautorizada pelo presidente da CBF na contratação de empresas para fazer as obras contra infiltração e aponta interferência de Arnoldo Nazareth, assessor próximo dele, que queria emplacar outra firma para o serviço.

Rosa afirma ainda que teve seus poderes esvaziados, o que a levou a um quadro de depressão e à necessidade de se licenciar por oito dias. Também relata episódios de assédio sexual.

"Durante o almoço na mesa principal ouvia sempre comentários sobre mulheres, trabalhos de prostitutas com referência às partes de seus corpos", relata o depoimento. Ela diz que pensou em pedir para receber vale refeição para poder almoçar em outros locais.

Além disso, afirmou que "recebia mensagens de outros diretores e funcionários dizendo que estava bonita e elegante".

A entidade vive um momento de ebulição, que ameaça a própria sobrevivência de Ednaldo no cargo.

Nesta quinta-feira (7), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro julga uma ação questionando o formato de escolha do ex-presidente Rogério Caboclo, em 2017, com a alegação de que a votação deu peso desproporcional às federações.

Caboclo deixou o cargo em 2021, após denúncias de assédio sexual, e foi substituído por Ednaldo.

Caso a eleição do ex-presidente seja considerada irregular, o atual também seria afetado.

O grupo de Ednaldo acusa dois de seus antecessores, Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, de estarem por trás da ação e tentarem um golpe contra ele.

Os maus resultados da seleção brasileira neste ano e a indefinição sobre o novo técnico também ajudam a criar um clima de rejeição ao presidente da entidade.

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