Descrição de chapéu Rio

Flamengo e Vasco negociam construção e reforma de estádios

Rubro-Negro quer comprar terreno da Caixa na região central do Rio, e projeto de lei do Executivo prevê reforma de São Januário

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Rio de Janeiro

Flamengo e Vasco negociam com a prefeitura do Rio de Janeiro a autorização de obras e se seus planos se concretizarem poderão ter estádios separados por poucos quilômetros.

O Flamengo deseja comprar um terreno na altura do viaduto do Gasômetro, em São Cristóvão. Já o Vasco aguarda avançar na Câmara do Rio um projeto de lei de ampliação da capacidade de São Januário. Gasômetro e São Januário estão a cerca de 3 km um do outro.

Gramado verde e ao fundo arquibancada. A arquibancada é predominantemente preta, mas setores brancos formam a palavra 'Vasco'. O céu está nublado e é cinza
Arquibancada e tribunas de São Januário antes de jogo. Projeto de lei prevê ampliação da capacidade do estádio de 97 anos - Leandro Amorim/Vasco

Em ano de eleições municipais, políticos abraçaram os dois projetos de olho no eleitorado das torcidas.

O Flamengo não fala abertamente sobre a negociação e jamais apresentou publicamente um projeto de estádio —não se sabe, por exemplo, quanto de capacidade a arena teria—, mas busca a ajuda do prefeito Eduardo Paes (PSD) para viabilizar a compra. O terreno tem 86.592 m² e é de propriedade do fundo de investimento mobiliário do Porto Maravilha, gerido pela Caixa.

A prefeitura comprou parte do terreno da Caixa para a construção do terminal Gentileza, conexão entre ônibus, VLT e BRT, inaugurado em março. O estádio, se construído, ficará diante do maior eixo de transporte da cidade.

Vista aérea da cidade. Ao centro está um terminal de ônibus, com ônibus estacionados e estações cobertas. Ao lado do terminal há vias para automóveis que trafegam na mão e contramão. No fundo da fotografia é possível ver parte da baía de Guanabara
Vista aérea do terminal Gentileza, em São Cristóvão. Local integra ônibus, VLT e BRT - Marcelo Piu/Prefeitura do Rio de Janeiro

Mas o desejo do Flamengo tem obstáculos. O preço do terreno é um deles, pois o fundo da Caixa pede mais de R$ 2.000 por metro quadrado. A Caixa afirmou em nota que os ativos do fundo estão disponíveis e que dialoga com o mercado, mas não comentou o interesse do Flamengo.

Outro obstáculo é a possibilidade de o estádio prejudicar a mobilidade da cidade. O terreno fica no principal entroncamento do Rio, com entradas e saídas da avenida Brasil e da ponte Rio-Niterói, vias que conectam a capital fluminense com outros municípios e estados. Há ainda a contaminação do solo com níveis altos de metais pesados.

Documento da Caixa detalha terreno do Gasômetro; parte foi adquirida pela prefeitura para construir o terminal Gentileza - Reprodução/Caixa Econômica Federal

Em reunião recente com o Paes, o Flamengo apresentou a ideia de ceder o potencial construtivo da sede da Gávea, localizada, na verdade, na Lagoa, para reduzir o custo do terreno do Gasômetro. O deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ) se considera um padrinho político da ideia e diz que deseja fazer a "Cidade do Flamengo" na região próxima ao porto.

"Existe uma vocação de entretenimento ali. Poderíamos criar potencial de turismo fazendo uma espécie de distrito do futebol, com um polo de museus. Teríamos um triângulo onde estão também o Maracanã e São Januário", afirmou o deputado, cotado para ser vice na chapa de Paes, que vai disputar a reeleição em outubro.

Ex-presidente do Flamengo entre 2013 a 2018, o deputado federal Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ) associa a pressa do clube em adquirir o terreno ao ano eleitoral. Bandeira de Mello é oposição ao grupo de Rodolfo Landim no Flamengo. A eleição no clube acontece em dezembro.

"Enquanto estive na presidência do Flamengo chegamos a avaliar este terreno e havia dificuldades. É preciso que haja um estudo sério, estruturado, com transparência. O que eu acho que não faz sentido é fazer algo às pressas para ganhar uma eleição ou forçar a criação de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol)", afirma o parlamentar, que durante a gestão avaliou também a viabilidade de áreas em Manguinhos e Barra da Tijuca.

Em paralelo, Flamengo e Vasco batalham na licitação para concessão do Maracanã. Flamengo e Fluminense, atuais permissionários, apresentaram proposta que concorre com a parceria entre Vasco e a construtora WTorre.

Torcida do Flamengo no Maracanã, em partida pelo Campeonato Carioca. Clube é permissionário do estádio com o Fluminense - Paula Reis/Flamengo

O Vasco também aguarda a aprovação do projeto de lei para reformar São Januário, inaugurado em 1927. O Executivo enviou à Câmara do Rio uma autorização de operação urbana consorciada.

O clube, que teria direito de erguer construções no terreno onde está o estádio, vende este potencial não utilizado para investidores em outras regiões, como Barra e avenida Brasil.

Com o dinheiro, a reforma do estádio e do entorno são viabilizadas. As intervenções serão acompanhadas por um conselho consultivo formado por dirigentes do Vasco, vereador, representantes da prefeitura e de associações de moradores.

O projeto prevê a ampliação da capacidade de São Januário de 22 mil para 47 mil . Cadeiras vão ser trocadas, camarotes serão ampliados e as marquises reformadas.

O projeto arquitetônico prevê a preservação da fachada e da tribuna, onde o ex-presidente da República Getúlio Vargas discursou em cinco eventos do dia 1° de maio. O Vasco deseja ainda a construção de uma ligação de pedestres de São Januário até a estação de BRT Vasco da Gama, na avenida Brasil.

O projeto está com tramitação atrasada na Câmara do Rio. O texto precisa ser analisado por 17 comissões até entrar na pauta de votação, em dois turnos.

O vereador Pedro Duarte (Novo) é a favor da reforma de São Januário, mas pede alterações no texto. Para Duarte, é preciso mudar o trecho que vincula a liberação do potencial construtivo ao avanço da obra: o Vasco só poderia receber 50% da venda, por exemplo, se tiver com 40% da reforma concluída.

"Se uma empresa quisesse comprar metade do potencial de uma vez para lançar um grande condomínio, o Vasco não poderia fazer a transferência. Isso atrapalharia as obras e o fluxo de caixa do clube. O modelo de governança não pode dificultar o fluxo."

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