Thaisa, bicampeã olímpica de vôlei, prepara sua volta aos Jogos em busca do tri

Maior pontuadora da história da Superliga, atleta se recuperou de lesão gravíssima e retornou à seleção como grande referência

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São Paulo

Os meses posteriores à derrota para a China nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, marcaram o fim da geração mais vitoriosa do vôlei feminino do Brasil e o início do maior desafio da carreira de Thaisa Daher, central bicampeã olímpica —em Pequim-2008 e Londres-2012.

Ela sofreu uma grave lesão no joelho esquerdo defendendo o Eczacibasi, endinheirado clube turco. A recuperação foi longa, assim como a lista dos que decretaram ser inevitável sua aposentadoria.

Thaisa voltou às quadras em 2018, acompanhada por um protuberante suporte metálico sustentando sua articulação. Naquele ano, escreveu uma carta anunciando sua despedida da seleção.

Thaisa em partida contra a Argentina, pela Copa do Mundo de 2023 - Philip Fong - 16.set.23/AFP

Durante as temporadas seguintes, foi campeã e MVP (jogadora mais valiosa, na sigla em inglês) nacional pelo Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte. O desempenho fez muitos sonharem em vê-la vestindo novamente a amarelinha. Isso ocorreu na última temporada, quando aceitou convocação de José Roberto Guimarães.

Hoje, aos 36 anos, "mama Daher", como é chamada pela comunidade do vôlei, prepara sua volta aos Jogos, em Paris, no qual buscará o tricampeonato nunca alcançado por uma mulher brasileira. Enquanto isso, faz história. Há um mês, ela se tornou a maior pontuadora da Superliga, com 5.000 acertos.

À Folha, Thaisa fala sobre sua representatividade no esporte e expectativas para a próxima disputa olímpica. A seleção obteve sua vaga com uma vitória sobre o Japão, no torneio pré-olímpico da modalidade, mas não fez uma grande campanha na última Liga das Nações, parando na China, nas quartas de final. Ainda assim, a veterana bota fé no tri.

O que significou para você a marca de 5.000 pontos na Superliga?
Fiquei muito feliz. É um marco da minha trajetória. Com certeza, esse aí fica para a história. Pena que brasileiro tem a memória tão curta, então daqui a pouco ninguém nem lembra mais, mas para mim ficará para sempre.

Acho que é um legado que eu deixo, principalmente como central. É muito comum uma oposto pontuar muito, porque recebe muita bola, joga o jogo inteiro. Central joga menos, quase metade do jogo. Então, para mim, realmente foi um número muito significativo, e me sinto honrada.

Como analisa o nível atual da principal competição do país?
Acredito que esteja muito mais equilibrada, comparando a anos passados. Gostaria muito que tivesse maior quantidade de grandes jogadoras brasileiras por aqui, que a gente não precisasse sair e jogar outras ligas. Para isso, porém, teria que ter mais patrocínios. Esse é o problema.

O que ainda motiva uma bicampeã olímpica?
O atleta de alta performance com mentalidade campeã sempre quer se desafiar. Sempre fui assim. Enquanto estiver jogando bem, forte e motivada, continuarei buscando desafios.

Sou bicampeã olímpica, mas tudo conquistado fica no passado. Foi lindo, sou grata, mas não sou o tipo de pessoa que fica sentada em cima disso. Quero sempre algo mais, por isso estou na seleção. Vou buscar outro ouro.

Sua última participação nos Jogos foi no Rio, em 2016. Aquela Thaisa é muito diferente da atual?
Muito, muito, muito diferente. Eu me vejo hoje muito mais centrada, emocionalmente muito mais estabilizada. Aprendi muita coisa trabalhando a minha parte mental, meu emocional, até por acontecer a lesão também.

Acho que a lesão me mudou completamente como pessoa. Sinto que hoje sou mais forte e estou mais preparada fisicamente, apesar de ter uma dor aqui e outra ali. Toda essa experiência ruim me fez crescer.

A seleção brasileira chega com chances de título a Paris?
Acredito que a gente tenha chances, sim, se todas chegarem bem, fortes, preparadas fisicamente, sem nenhuma lesão. Temos um time que dá para ser muito homogêneo e equilibrado, com um jogo coletivo muito forte.

Diferentemente de outras seleções, nosso jogo não é apoiado em uma atacante que pontue muito, temos um jogo muito bem distribuído entre todas. É a nossa maior qualidade. Se isso funcionar, estaremos bem e poderemos derrotar qualquer adversário.

Comparado aos anteriores, o que o plantel atual tem de especial?
Não gosto de comparar. Ninguém se compara a ninguém. Cada um tem o seu brilho, é especial da sua forma.

Esse grupo tem muito a evoluir, porque é jovem, tem muito a aprender, principalmente em relação à experiência de jogo. Mas tenho uma expectativa boa, vejo as meninas treinando e se dedicando, querendo muito. Não é fácil estar ali e não falta empenho.

Hoje, você se enxerga como a grande referência do vôlei brasileiro?
Sim, acredito que esteja deixando um legado muito bacana. Ouço muito que sou inspiração das pessoas. Fico muito feliz porque isso faz valer a pena todo o esforço, todos os anos nessa luta, buscando o melhor, querendo evoluir a cada dia.

A vida de atleta é complicada. A gente abdica de muita coisa, muita coisa mesmo. Não temos uma vida normal, de pessoa normal. Eu, por exemplo, venho dedicando a minha vida ao voleibol há 23 anos. Demanda muito, principalmente fora de quadra.


Thaisa Daher de Menezes, 36

Nascida no Rio de Janeiro em 15 de maio de 1987, a central de 1,96 m é bicampeã olímpica (Pequim-2008 e Londres-2012) e já defendeu os times Tijuca Tênis Clube, Minas, Rio de Janeiro, Osasco, Eczacibasi (TUR) e Barueri.

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