Descrição de chapéu Copa do Mundo

Dez anos após Copa, estádios enfrentam problemas e buscam novas fontes de renda

Arenas que receberam Mundial realizado no Brasil, em 2014, ainda trabalham para ser viáveis

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Recife, São Paulo, Salvador, Curitiba, Manaus e Porto Alegre

Dez anos após a Copa do Mundo de 2014, estádios construídos ou reformados para o torneio enfrentam um cenário que passa por gargalos estruturais, contratos rompidos, tentativas de redução de despesas e uma busca incessante por alternativas para manter a viabilidade financeira de suas operações.

As alternativas passam pela expansão de atividades para além do futebol e pela venda dos direitos sobre os nomes das arenas para empresas privadas, além do reforço do vínculo com os clubes.

O cenário é mais crítico em praças com menor tradição no futebol. Em Manaus, por exemplo, a Arena da Amazônia chegou a ter a sua energia cortada por falta de pagamento das contas.

Área externa da Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife
Área externa da Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife - Arthur de Souza/Divulgação/Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco

No Nordeste, um dos estádios que buscam sair da adversidade é a Arena Pernambuco. Em maio de 2023, ele gerava um prejuízo de cerca de R$ 400 mil por mês aos cofres do governo de Pernambuco.

O governo administra o local desde 2016, quando rompeu o contrato com a Odebrecht. Desde então, pelo rompimento unilateral, arca com um pagamento mensal de R$ 3 milhões, por 15 anos, à construtora, atualmente chamada de Novonor.

Na época, o governador Paulo Câmara (PSB) prometeu abrir uma nova concessão à iniciativa privada, o que não se concretizou. Marcos Nunes, diretor da arena na gestão Raquel Lyra (PSDB), agora afirma que o objetivo é que o estádio se mantenha público.

Sem detalhar valores, ele afirma que o estádio teve uma redução de despesas da ordem de 25% e um crescimento nas receitas de aproximadamente 220% no ano passado em relação a 2022.

Uma das principais queixas do estádio é a localização, a 18 quilômetros de distância do centro do Recife. Atualmente, o Retrô e o Sport —temporariamente, durante reforma da Ilha do Retiro— jogam no local. O espaço ainda recebe eventos como jogos escolares, passeios turísticos e eventos políticos.

Outro estádio que mudou de mãos foi o Mané Garrincha, agora chamado de Arena BRB Mané Garrincha, em Brasília, o mais caro entre as 12 sedes da Copa de 2014. A arena custou cerca de R$ 2,5 bilhões, em valores atuais, corrigidos pela inflação.

Em 2020, o governo federal repassou a administração do estádio para a iniciativa privada, mediante o pagamento de outorga no valor de R$ 150 milhões e repasse de 5% do faturamento líquido, além de investimentos previstos da ordem de R$ 700 milhões durante os 35 anos da concessão.

Além de partidas do Campeonato Brasiliense, o estádio recebe, esporadicamente, jogos de times do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O futebol, contudo, está bem longe de ser a principal fonte de receita para a arena no Distrito Federal, representando menos de 10% do total, segundo Richard Dubois, CEO da Arena BRB. "Mudamos profundamente o perfil de utilização do ativo", afirmou.

Shows de grandes artistas —entre eles Paul McCartney, Beyoncé e Shakira— e eventos como a Campus Party e a Casa Cor correspondem à maior parte da receita. O recorde de público foi um show da dupla sertaneja Jorge e Mateus, em 2016, com cerca de 80 mil pessoas.

O espaço também se transformou em um centro comercial, com aproximadamente 50 empresas com escritórios e 18 restaurantes que recebem cerca de 70 mil pessoas por mês. Segundo Dubois, a intenção é fazer, em até um ano, o lançamento de um shopping center. O executivo não abre os dados financeiros relativos à operação da arena. "Ainda não é o que a gente gostaria, mas é rentável."

No Norte, a Arena da Amazônia convive com dívidas. Em janeiro de 2023, teve a luz cortada pela empresa de energia do Amazonas, por falta de pagamento de contas. A dívida era de R$ 39 milhões, segundo informação da concessionária de energia. O governo do estado afirmou, na ocasião, que negociava o pagamento desde o ano anterior.

Em 2024, o cenário melhorou após o acesso do Amazonas à Série B do Campeonato Brasileiro, que garantiu mais jogos. Apesar disso, a arena ainda sente falta de um calendário de eventos fora do futebol.

Na Arena Pantanal, em Cuiabá, a maioria dos jogos é feita pelo Cuiabá, que está na Série A do Brasileiro. O time é responsável pelo gramado do estádio, enquanto o governo estadual fica com a parte da manutenção geral.

O desafio, porém, é atrair grandes públicos. Em 2024, a média do Cuiabá em jogos é de 2.772 torcedores por partida.

Dois estádios venderam, em 2024, os direitos de uso do seu nome. A Arena das Dunas, em Natal, e a Fonte Nova, em Salvador, assinaram contratos com a empresa Casa de Apostas.

O contrato do estádio de Natal, com valor estabelecido em R$ 6 milhões (média de R$ 1,2 milhão por ano), será válido até abril de 2029. Já o acordo da Fonte Nova tem duração de quatro anos, com ganho de R$ 13 milhões por ano.

A Fonte Nova é gerida por um consórcio privado e recebe partidas do Bahia, além de shows e eventos corporativos. Nos jogos de futebol, a média de público foi de 33.439 torcedores em 2023.

O contrato com a Fonte Nova Participações, formado pelas empresas Novonor e Metha (antiga OAS), para construção e gestão do estádio prevê o pagamento de contraprestação pelo governo baiano. Em 2023, foram R$ 119 milhões repassados para o consórcio.

Um dos principais gargalos apontados pelos torcedores é o sistema de venda de ingressos online. A Fonte Nova informou que está constantemente empenhada em reforçar sua estrutura digital para aperfeiçoar a experiência "desde a aquisição do ingresso até o final da partida".

Na Arena Castelão, em Fortaleza, o principal ponto de críticas é o gramado, em razão do alto número de jogos do Ceará e do Fortaleza. O governo do Ceará informou que faz manutenções periódicas no terreno.

O estádio público tem capacidade para 63.900 mil pessoas e teve uma média 31.501 torcedores por jogo em 2023. O Castelão também abrigou shows na área do estacionamento.

No Paraná, a passagem da Copa foi marcada pelo debate sobre injeção de dinheiro público em um estádio privado, a Arena da Baixada, do Athletico Paranaense.

A reforma, que também gerou desapropriações de imóveis da região, custou mais do que o previsto e acabou em briga judicial entre as três partes envolvidas no financiamento da obra: governo do Paraná, prefeitura de Curitiba e o time. A solução para o impasse ocorreu apenas no ano passado, com pactuação de dívida entre os entes.

Ao longo da década, o Athletico venceu alguns de seus principais títulos. Levou a Copa Sul-Americana em 2018 e 2021 e triunfou na Copa do Brasil em 2019, despontando como uma das principais forças do futebol nacional. Assim como outros estádios brasileiros, a Arena da Baixada também se tornou um espaço para shows.

Em 2023, segundo o demonstrativo financeiro divulgado pelo clube, as receitas obtidas diretamente pelo uso do estádio chegaram a R$ 77 milhões.

Em Belo Horizonte, o Mineirão, palco do 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa, recebeu 29 finais de competições desde 2013 e será sede da Copa do Mundo feminina em 2027. De acordo com a gestora do estádio, entre 2013 e 2023 foram realizados mais de mil eventos, com um público total de quase 5 milhões de pessoas.

Sede da abertura do Mundial de 2014, o estádio do Corinthians, na zona leste da capital paulista, teve em 2023 a melhor média de público entre as 12 arenas da Copa, com 38.265 pessoas por jogo. Desde a sua inauguração, são cerca de 40 partidas por ano no local, com uma média de público em cada um dos anos semelhante à registrado na temporada passada.

Apesar do sucesso nas arquibancadas e dos títulos que o time paulista conquistou na arena, a dívida pela construção do estádio agravou a difícil situação financeira do Corinthians. O clube deve cerca de R$ 700 milhões à Caixa Econômica Federal pelo financiamento da obra. Atualmente, a diretoria negocia com o banco um novo fluxo de pagamento, uma vez que não tem conseguido honrar as parcelas do empréstimo.

Reformado para a Copa, o Beira-Rio, em Porto Alegre, foi a obra mais barata entre os estádios do torneio. Seu custo final, em valores atuais, foi de R$ 460 milhões. Dez anos após a competição, porém, o local terá de passar por uma nova reforma devido às enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul.

De acordo com as primeiras estimativas do Internacional, dono do estádio, o prejuízo inicial é de R$ 35 milhões, valor que também inclui reparos no CT Parque Gigante. O orçamento ainda deve sofrer mudanças à medida que o clube conseguir calcular todos os impactos causados pela tragédia ambiental.

Já o Maracanã, palco da final de duas Copas do Mundo, em 2014 e 1950, passou por diversas reformas desde sua inauguração, há mais de sete décadas. Os custos para os preparativos do último Mundial fizeram do local o segundo mais caro, com um gasto de R$ 2,11 bilhões, em valores atuais.

A obra ficou marcada como uma das fontes de corrupção do suposto esquema de propina do ex-governador Sérgio Cabral —ele nega.

Atualmente, depois de anos em busca de um modelo de gestão, o local foi concedido à dupla Flamengo e Fluminense, vencedora de uma licitação para fazer a administração do local. Para o futuro, porém, paira a ameaça de possível esvaziamento de eventos com a construção e reforma de estádios no Rio de Janeiro.

Dos 12 estádios que sediaram o Mundial de 2014, apenas os de Natal e Curitiba não terão jogos do Mundial das mulheres.

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