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Série relembra como seleção feminina de vôlei se livrou do estigma de amarelona

"As Bicampeãs" conta a história da conquista das duas medalhas de ouro do país na modalidade

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São Paulo

Há 20 anos, a seleção brasileira feminina de vôlei viveu uma de suas maiores frustrações, na derrota para a Rússia, na semifinal dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Na ocasião, a equipe do Brasil teve cinco oportunidades para fechar o quarto set e vencer a partida, mas acabou eliminada de virada.

A fracasso, somado aos vice-campeonatos no Mundial, dois anos depois, para as mesmas russas, e no Pan, no Rio de Janeiro, em 2007, para Cuba, ambas no tie-break, rendeu um rótulo que assombrou as jogadoras brasileiras por muito tempo, taxadas amarelonas.

Pairava sob as atletas diversas críticas, que muitas vezes cruzavam a linha da análise técnica do esporte e apelavam para questões de gênero, sob a alegação de que as mulheres não teriam equilíbrio emocional para lidar com momentos decisivos.

Foi sob essa pressão que elas disputaram os Jogos de Pequim-2008, quando seis atletas perceberam que juntas poderiam mudar o rumo da modalidade, além de usar o esporte como um símbolo de resiliência.

Um grupo de jogadoras da seleção brasileira de vôlei celebra uma vitória, segurando a bandeira do Brasil. Elas estão vestidas com uniformes amarelos e verdes, sorrindo e demonstrando alegria. Algumas jogadoras estão levantando as mãos, enquanto outras seguram a bandeira. O ambiente parece ser uma quadra de vôlei, com público ao fundo.
Jogadoras da seleção brasileira feminina de vôlei comemoram a conquista do ouro em Pequim-2008 - Caio Guatelli/Folhapress

O pano de fundo da campanha que levou o Brasil à conquista de seu primeiro ouro no vôlei feminino há 16 anos, assim como a confirmação da transformação da modalidade nos Jogos de Londres-2012, palco do bicampeonato, são o fio condutor da série "As Bicampeãs", lançada pelo Sportv e disponível no Globoplay, sobre as duas campanhas históricas.

Projeto da Hunter Filmes com coprodução do Sportv, a narrativa é dividida em quatro episódios e segue de forma cronológica as transformações pelas quais a equipe brasileira passou para superar as críticas, além do preconceito de gênero.

"Não se discutia a qualidade esportiva, as decisões esportivas, as decisões do técnico, a qualidade das atletas, a tática, as jogadas, nada disso. Dizia-se que a derrota era porque eram mulheres, porque por serem mulheres era inerente que seriam menos resilientes, menos fortes emocionalmente", diz Eduardo Hunter Moura, diretor da série e responsável pela ideia original.

A obra acompanha, sobretudo, a trajetória de Sheilla Castro, Fabi Alvim, Fabiana Claudino, Jaqueline Carvalho, Paula Pequeno e Thaisa Daher, as únicas presentes nas duas conquistas, ambas sob comando de José Roberto Guimarães.

A pedido da produção da série, elas se reuniram novamente para recontar seus reforços dentro e fora de quadra, como as renúncias que tiveram de fazer, pelo sonho de buscar a medalha olímpica e, ao mesmo tempo, dar uma prova da força feminina.

"Nunca foi uma questão de gênero. Era questão de resultado", lembrou Para Paula Pequeno, 42, ponteira daquela equipe. "Talvez a gente precisasse passar por aquilo. Talvez a gente precisasse tomar algumas porradas da vida, ter algumas decepções e frustrações para nos tornamos o que nós nos tornamos."

Logo no primeiro episódio, a ex-ponteira lembra que precisou abrir mão de estar com sua família, seus amigos e da sua vida social para ter uma vida de entrega total ao esporte. "Coloquei meu casamento de 21 anos à prova muitas vezes", ela cita na obra.

À Folha, embora não diga que não se arrepende de nenhuma de suas escolhas, ela lamenta não ter sido tão presente na infância de sua filha, Mel Pequeno, durante aquele período.

"Hoje eu sinto muita saudade de quando ela era pequenininha porque passou rápido. Ela nasceu quando, eu estava no auge, viajava muito, treinava muito", lembra Paula, que se consola no apoio que recebe da própria Mel. "Ela já me disse várias vezes: 'mamãe, você só tinha aquela época para fazer tudo isso e eu entendo completamente'."

Para Paula, apesar de a série não citar os Jogos Olímpicos de Paris, o primeiro da história que buscou a equidade de gênero na distribuição das vagas para cada uma das modalidades, a série foi lançada em um momento ideal para reforçar o debate sobre o papel das mulheres no esporte.

"Nossa geração deixou um legado muito importante para o esporte feminino. A mulher pode disputar o que ela quiser, ela tem condições de ganhar o que ela quiser", disse Paula.

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