Descrição de chapéu Olimpíadas

Conheça os locais de provas das Olimpíadas de Paris

Apenas uma estrutura fixa foi construída para o evento, que aproveitará locais antigos e temporários

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Ponte Alexandre III, sob as águas do rio Sena, em Paris

Ponte Alexandre III, sob as águas do rio Sena, em Paris - Bertrand Guay - 21.ago.23/AFP

São Paulo

A cada quatro anos, quando chegam os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, um desfile de bugigangas arquitetônicas, como estádios, arenas, velódromos, além de obras de infraestrutura, é construído, muitas vezes, a toque de caixa, nas cidades-sede para recepcionar fãs de esportes do mundo todo.

Cada vez que isso ocorre surgem também as questões sobre o legado dos Jogos e o impacto ambiental dessas construções. Que utilidades terão essas estruturas quando terminarem as suas poucas semanas de glória? As respostas vão desde as instalações apodrecidas deixadas por Atenas em 2004 a obras inacabadas no Rio de Janeiro oito anos —e duas Olimpíadas— depois de a cidade receber o megaevento.

Paris, por enquanto, promete ser diferente. A maior parte das competições será realizada em estruturas existentes, como o Stade de France, originalmente construído para a Copa do Mundo de 1998, ou locais temporários, erguidos em frente a cenários icônicos.

A Torre Eiffel, por exemplo, será o pano de fundo da arena de vôlei de praia e do futebol para cegos, a Place de la Concorde abrigará pistas de ciclismo e skate, e a cerimônia de abertura será realizada no rio Sena, após polêmica sobre a limpeza da água, além de provas do triatlo e da maratona aquática.

Ao adotar esse formato, abdicando de uma série de novas estruturas, os organizadores afirmam que vão limitar em até 95% a pegada de carbono gerada por atividades ligadas à construção civil. Além disso, os locais foram escolhidos devido a suas conexões com o transporte público coletivo, outra forma de ajudar a reduzir as emissões.

A especialista em ecologia desportiva Madeleine Orr, professora assistente de Ecologia do Esporte na Universidade de Toronto, no Canadá, e ex-professora da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, concorda que essa é uma boa medida para que a Olimpíada possa ser mais sustentáveis em comparação com edições anteriores. No entanto, aponta que há outros aspectos a se considerar.

"Os locais são apenas uma pequena parte do plano de sustentabilidade dos Jogos, e devemos também considerar como as pessoas viajam para Paris, como se deslocarão por lá, onde ficarão hospedadas e o quanto vão consumir", explica à Folha a especialista, que estuda o impacto das alterações climáticas no esporte.

Para ela, os grandes eventos são insustentáveis por natureza. Não existe, de acordo com a professora, uma forma de organizar um megaevento com centenas de milhares de turistas e apelidá-lo de sustentável sem considerar o que ele vai representar para o turismo, o consumo, além dos desperdícios.

"A melhor coisa que poderia ser feita para transformar estes eventos em eventos sustentáveis seria torná-los eventos menores, menos turistas e com uma grande maioria de ingressos para os residentes locais", diz Madeleine. "Isso reduziria as viagens e o consumo, mas garantiria que os atletas pudessem desfrutar de um local lotado e com muita torcida."

A opinião da especialista está alinhada com um estudo divulgado pela revista Nature, em 2021, no qual os pesquisadores elencam três formas de tornar as Olimpíadas e Paralimpíadas mais sustentáveis.

"Reduzir o tamanho do evento, alternar cada uma das edições entre as mesmas cidades e implementar padrões independentes de sustentabilidade", recomendaram os autores do estudo.

Mesmo sem adotar esses critérios da forma como são descritos pelo estudo, os organizadores dos Jogos de Paris afirmam que esta edição vai emitir cerca de 1,6 milhão de toneladas de dióxido de carbono, algo que representaria uma queda em comparação com a média de 3,5 milhões de toneladas de Londres 2012 e Rio 2016.

Não está claro, porém, se o polêmico projeto do Centro Aquático Olímpico entrará na conta dos franceses.

A única instalação permanente construída para os Jogos corre o risco de justamente levar o rótulo de um "grande desperdício". O espaço sofreu várias alterações em seu projeto inicial e saltou de um custo estimado há sete anos de 70 milhões de euros (R$ 250 milhões na cotação da época) para 175 milhões (R$ 956 milhões na cotação atual).

A estrutura, no entanto, não vai mais receber as provas olímpicas de natação por ser pequeno demais para um evento como os Jogos. A modalidade, agora, será realizada na Arena La Défense, inaugurado em 2017.

O cálculo dos organizadores para as emissões é dividido, sobretudo, em viagens, construção e operações, incluindo alojamento para os atletas e visitantes, segurança e refeições.

Também há a promessa de que a eletricidade virá de fontes renováveis sempre que possível. Os menus de baixo carbono para o público vão oferecer pratos com menos carne.

De forma inédita, a França proibiu a utilização de plásticos de uso único durante os Jogos. Para substituí-los, serão distribuídos copos reutilizáveis ao público e aos atletas. Patrocinadora oficial da Olimpíada, a Coca-Cola distribuirá seus produtos em garrafas de vidro reutilizáveis que serão reaproveitadas após os Jogos.

"Um grande evento como esse pode dar exemplos do que é possível ser feito na nossa sociedade como um todo e, inclusive, gerar demanda para negócios alinhados com os princípios da economia circular", diz Victoria Almeida, gerente da rede de empresas da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Um estudo recente da fundação filantrópica mostrou que uma mudança para modelos reutilizáveis pode reduzir em mais de 20% o total de plásticos que vazam para os oceanos anualmente até 2040.

Além dessas medidas, porém, para atingir seu objetivo sustentável, Paris terá de recorrer à compensação carbônica, o que implica em investir em projetos como de reflorestação ou preservação.

"Não se trata de uma estratégia de redução das emissões e a redução das emissões é a tarefa mais urgente", afirma Madeleine Orr. "Neste caso, dependerá dos projetos de compensação selecionados: são verificados, permanentes, adicionais e incluem captura e armazenamento de carbono a longo prazo? Se não, provavelmente não é suficiente", alerta.

Henrique Pereira, COO e cofundador WayCarbon, acrescenta que deve-se considerar também elementos mais amplos em eventos da magnitude dos Jogos Olímpicos, como o aumento de voos e dos demais meios de transporte para passageiros internacionais e o pico de demanda de energia durante o evento.

"Entender que qualquer evento está inserido em um contexto mais amplo de emissões é fundamental para garantir que não há risco de greenwashing nos compromissos e resultados de descarbonização", afirma.

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