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Daniel Guanaes

Cristão, Medina ajuda a transformar a imagem do surfe

Entre os evangélicos, a visibilidade que o atleta dá à sua espiritualidade também é motivo de identificação

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Daniel Guanaes

PhD em teologia pela Universidade de Aberdeen, é pastor presbiteriano e psicólogo

Gabriel Medina conquistou medalha de bronze no surfe olímpico. Sua participação nos Jogos de Paris ajuda a consolidar uma imagem nova do surfe no Brasil, que também atrai evangélicos.

Medina é ativo nas redes sociais. Sua vida é observada por mais de treze milhões de seguidores –número que tende a aumentar depois das Olimpíadas. Quem o acompanha aprende sobre cuidado com a sua alimentação, prática de atividades físicas, apoio a pautas ambientais e sobre a seriedade com a qual ele encara a sua carreira.

Entre os evangélicos, a visibilidade que o atleta dá à sua espiritualidade também é motivo de identificação e de transformação da imagem que o surfe já carregou. Há muitos cristãos que surfam. O esporte tem tudo a ver com os valores da sua religião.

Um surfista está realizando uma manobra em uma onda. Ele usa uma camisa azul e shorts escuros, enquanto se equilibra em uma prancha de surf azul. A água está espumando ao redor dele, e o céu parece nublado ao fundo.
Gabriel Medina surfa onda durante disputa da medalha de bronze nas Olimpíadas de Paris-2024

Quando comecei a surfar, na década de 1990, havia um estigma sobre o esporte. Eu era um adolescente cristão que pegava onda. Para muitas pessoas, isso era coisa de quem não queria saber de estudos, não tinha planos para o futuro e gostava de fumar maconha. Preconceito de quem não conhecia o surfe.

Por causa do surfe, muita gente passa a ter mais consciência da sua responsabilidade no cuidado da Terra. Um exemplo é o trabalho da organização Surfistas de Cristo, fundada em 1970 na Austrália. Ela está presente no Brasil e em outros 37 países promovendo campanhas para manter as praias limpas, preservar as vegetações rasteiras, denunciar esgotos a céu aberto.

O surfe me ajudou a ter um estilo de vida oposto ao do estereótipo que o esporte carregava há trinta anos. Cultivei o hábito de acordar cedo, porque queria estar na água com quando o sol nascesse. Estudava para passar de ano sem precisar de provas finais, porque quanto antes eu estivesse de férias mais dias livres eu teria para surfar. Nas conversas com os meus amigos, falávamos sobre carreiras que pudessem bancar as viagens que planejávamos.

Na faculdade de psicologia, lia artigos que mostravam como esportes praticados em contato com a natureza eram benéficos à saúde mental. Eu sabia disso por experiência. Mesmo nos dias de ondas ruins, estar dentro da água fazia bem.

O surfe ajuda até no cultivo da espiritualidade. Perdi a conta do número de vezes que o mar foi palco das minhas meditações. Quando surfo sozinho, não tem lugar melhor para fazer oração.

Minha história com o surfe não é a exceção da regra. O estereótipo construído no passado é que era fruto de preconceito e ignorância.

É nesse sentido que a medalha de Gabriel Medina representa uma conquista coletiva dos amantes do esporte. Ele não é a única figura pública a quebrar o antigo estigma do surfista. Mas talvez seja quem mais contribui para a transformação da imagem do surfe no país.

O bronze do surfista nos Jogos de Paris vai além de uma conquista pessoal. Cada onda surfada por Medina ajuda a deixar para trás a antiga imagem do esporte.

Sigo apaixonado pelo surfe. Pratico sempre que posso, e o recomendo tanto no consultório, quando no púlpito da igreja. Todo mundo deveria experimentar pelo menos uma vez na vida a sensação de deslizar pela parede de uma onda.

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