Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Organizadores festejam Olimpíadas de Paris, que tiveram falhas pontuais

Para presidente do COI, Jogos foram 'mais sustentáveis, mais jovens, mais inclusivos'

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Saint-Denis (França)

"Você pode dizer que somos sonhadores, mas não somos os únicos." Sim, Thomas Bach, o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), parafraseou "Imagine", de John Lennon, ao fazer um balanço dos Jogos de Paris. "Muita gente está sonhando nossos sonhos conosco, e os atletas transformaram esse sonho em realidade", prosseguiu Bach.

Se vivo fosse, o irreverente Beatle provavelmente detestaria ouvir sua letra na boca do líder de uma das entidades esportivas mais poderosas do mundo. Goste-se ou não da citação, sob vários critérios esta edição dos Jogos pode ser considerada um grande êxito. Eventuais falhas de organização foram amplamente superadas pela qualidade do espetáculo que os parisienses puseram de pé.

Salvo incidente de última hora, a ameaça terrorista não se concretizou. Estádios frequentemente lotados, mesmo em eliminatórias secundárias de esportes menos populares, renderam excelentes imagens para a televisão e uma receita indispensável para bancar a festa.

Público acompanha cerimônia de abertura dos Jogos
Público acompanha cerimônia de abertura dos Jogos - Hannah McKay - 26.jul.2024/Reuters

"Ainda estamos triturando os números, mas podemos dizer que foram os Jogos mais acompanhados da história olímpica", disse Bach. Mais da metade da população mundial, segundo ele, assistiu às competições. Nas redes sociais, foram mais de 12 bilhões de engajamentos, o dobro dos Jogos de Tóquio, há três anos.

Espectadores do mundo inteiro ficaram maravilhados com os cenários das competições, que aproveitaram ao máximo a beleza singular da capital francesa, como o vôlei de praia na Torre Eiffel; a equitação em Versalhes; o skate na praça de La Concorde; e a esgrima no Grand Palais.

O presidente do comitê organizador, Tony Estanguet, disse ao Journal du Dimanche que os locais de competições ficaram "mais bonitos na vida real" do que nas simulações de computador. "Fui surpreendido pelo fervor, pela maneira como os franceses assumiram para si os Jogos."

Nem tudo funcionou, evidentemente. Choveu na cerimônia de abertura, prejudicando o grandioso espetáculo às margens do rio Sena —mas a meteorologia é um fator imponderável. A qualidade da água do rio Sena, onde algumas provas de natação foram disputadas, estava limítrofe —e os organizadores não fizeram muita questão de dar ampla divulgação aos resultados das análises bacteriológicas.

Muitos atletas reclamaram da Vila Olímpica —faltou carne, faltaram ovos, faltou ar condicionado para todos. O comércio local perdeu receita devido ao esquema de segurança tão rigoroso que deixou sitiada grande parte de Paris. Era o preço a pagar em um mundo inseguro, alegaram os organizadores.

Esses problemas ocuparam bastante espaço na mídia durante os Jogos, mas nenhum deles a ponto de ofuscar o evento.

"Estes Jogos são uma história de amor. São exatamente os Jogos que imaginamos: mais sustentáveis, mais jovens, mais inclusivos", disse Bach.

Do ponto de vista da sustentabilidade, a narrativa oficial também é de êxito. Afirma-se que foi cumprido o objetivo de reduzir pela metade a pegada de carbono dos Jogos, em relação a Tóquio: de 3,5 milhões para 1,75 milhão de toneladas de CO2 equivalente.

Ainda há muito a ser feito, porém. Tanto que, em artigo na revista britânica The Economist, o historiador do esporte David Goldblatt defendeu simplesmente a extinção dos Jogos Olímpicos, por considerá-los insustentáveis em um mundo transformado pela ação humana.

A Folha questionou Bach sobre isso na semana passada. "Se você medir toda atividade humana só em relação à pegada de carbono, todos nós vamos ter que parar de respirar", respondeu o presidente do COI.

"Não é assim que se aborda a redução da pegada. Se você olhar a mensagem destes Jogos, que uniram o mundo inteiro em uma competição pacífica, nós [o movimento olímpico] somos os únicos capazes de fazer isso. Dizer que não é suficiente uma redução de 50% da pegada de carbono, seis anos à frente [das metas] do Acordo de Paris, é uma interpretação errada dos valores humanos."

A próxima sede olímpica, Los Angeles, nos EUA, terá o grande desafio de organizar Jogos que rivalizem com Paris. Para Bach, seria um erro se os americanos tentassem imitar as inovações dos franceses.

"Se Los Angeles tentar copiar a Torre Eiffel, seria a receita para o fracasso", definiu o presidente do COI. "Cada sede tem que ser autêntica."

Ele citou, porém, alguns aspectos em que 2028 pode aprender algo com 2024. A Maratona para Todos, em que pessoas comuns puderam correr o mesmo percurso dos atletas de elite, é um exemplo.

Outra ideia que deu certo em Paris já está garantida em Los Angeles. Se neste ano foi preciso erguer do zero apenas uma sede olímpica (a piscina para saltos ornamentais, nado sincronizado e polo aquático), daqui a quatro anos nem isso será necessário, serão usados apenas ginásios e estádios já existentes.

O que quer que ocorra em Los Angeles, outro líder estará à frente do COI. Depois de 11 anos como presidente, o alemão Bach, 70, anunciou neste sábado (10) que não tentará um novo mandato no ano que vem.

"Como resultado de profundas deliberações e extensas discussões, também com minha família, cheguei à conclusão de que não devo ter meu mandato estendido", afirmou. "A fim de preservar a credibilidade do COI, todos nós, e em especial eu, como seu presidente, precisamos respeitar os elevados padrões de boa governança que estabelecemos para nós mesmos."

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