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'Podemos usar o que a gente quiser': Duda enaltece shorts e top na conquista do ouro olímpico

Brasileiras foram as primeiras campeãs olímpicas a optarem pelo traje no lugar do biquíni

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São Paulo

Além de recolocar o Brasil no lugar mais alto do pódio no vôlei de praia feminino nas Olimpíadas após 28 anos, a dupla Ana Patrícia e Duda também fez história por outro motivo.

Em oito edições dos Jogos desde a inclusão da modalidade no programa olímpico, as brasileiras foram as primeiras campeãs a optarem pelo uso de shorts e top, em vez do biquíni mais comum no esporte. O biquíni inclusive era item obrigatório até Pequim-2008.

"Entendemos que podemos usar o que a gente quiser. E acho que foi muito importante para o empoderamento feminino. E depois que tomamos essa decisão foi tão divertido, a gente se sentiu livre. Falamos: ‘cara, que massa isso, eu posso ser como eu quiser em um ambiente que eu adoro jogar e me sentir confortável’", afirmou Duda à Folha nesta terça-feira (13) em São Paulo, logo após chegar de Paris.

"Acho que essa junção de poder ser o que eu quiser e usar o que faz eu me sentir melhor foi muito legal e já era para ter acontecido. É uma coisa que nem precisava ser pauta, porque já deveria ter isso, mas precisou uma mulher falar: ‘olha, eu quero usar porque eu tenho momentos, como toda mulher, em que não me sinto confortável com o corpo’, e deu certo", acrescentou a sergipana de São Cristóvão.

Duas atletas brasileiras posam para a foto, cada uma segurando uma medalha. A atleta à esquerda usa um agasalho azul escuro com detalhes em amarelo e exibe uma medalha dourada. A atleta à direita veste um agasalho branco com detalhes em verde e amarelo, segurando uma medalha prateada. Ambas sorriem e estão em um ambiente com parede de concreto ao fundo.
Duda e Ana Patrícia com a medalha de ouro conquistada nos Jogos de Paris - Marcelo Maragni/Red Bull

Ana Patrícia, por sua vez, destacou a importância da busca pela paridade de gênero em Paris, e recordou das dificuldades que passou no início de sua trajetória por ser mulher.

"A gente sabe das batalhas que já travamos no passado e que ainda vamos travar pelo nosso espaço, e eu acho muito importante essa representatividade, para que as pessoas entendam, incentivem. Eu tive uma infância onde se tinha muito preconceito com mulheres que praticavam esportes, então hoje ocupar o espaço que a gente está ocupando tem um valor imensurável, para além da conquista de uma medalha. É esse legado que fica para outras mulheres."

A mineira de Espinosa enalteceu também a importância do trabalho mental ao longo do último ciclo olímpico, após as duras críticas que recebeu por causa da eliminação em Tóquio-2020 nas quartas de final, ao lado de Rebecca Cavalcante.

Duda (à esq.) e Ana Patrícia após vitória na final sobre a dupla canadense; até Pequim-2008, as atletas do vôlei de praia tinham que usar biquini na parte de baixo - Esa Alexander - 9.ago.24/Reuters

"O pós-Tóquio foi muito traumático para mim pelas críticas, ofensas e até ameaças. Mas, ao mesmo tempo que aquilo foi um trauma, acredito que também foi uma situação que eu precisava passar, para ter esse amadurecimento e para entender a importância do trabalho mental, da psicologia", afirmou Ana Patrícia.

"Nesse ciclo foi uma coisa que a gente valorizou muito, trabalhou muito com a nossa psicóloga Bianca Andrade de várias formas, falando sobre as coisas que a gente precisava falar, e também aprendendo algumas ferramentas para lidar com os vários momentos de dificuldade que enfrentamos", acrescentou a campeã olímpica.

Ela afirmou ainda que, considerando o nível elevado em que se encontra o vôlei de praia atualmente, "o jogo é 99% emocional", razão pela qual a força mental ganha ainda mais importância para determinar as duplas que vão mais longe na competição. "Acho que a maior dificuldade é lidar com a pressão ali dentro, com o favoritismo. É o que acaba sugando um pouco mais a energia da gente."

Duda afirmou também que a conquista olímpica, que veio a se somar ao título mundial, Pan-Americano e à liderança do ranking, deve contribuir para que a dupla jogue de forma mais leve a partir de agora. "Acho que não vai tirar nossa responsabilidade, mas tira um peso de termos que ganhar os campeonatos. Vamos entrar mais leves, mas com motivação e com vontade de continuar o legado", disse ela.

Ana Patrícia acrescentou que o ouro na capital francesa ajuda a acabar com os questionamentos que vieram após o Brasil voltar sem pódios de Tóquio-2020, pela primeira vez desde a inclusão do vôlei de praia no programa olímpico, em Atlanta-1996. "É bom a gente estar nesse lugar de novo para reafirmar que somos uma potência e que a gente sempre vai brigar para estar entre os melhores."

Ana Patrícia disse ainda que espera que a trajetória traçada pela dupla sirva de inspiração para outras meninas que acompanharam a campanha em Paris-2024 e passaram a se interessar pela prática esportiva.

"Espero que a gente deixe esse legado de que tudo é possível e a gente torce muito para que mais oportunidades cheguem até essas meninas e que elas acreditem muito e trilhem o caminho delas com pessoas que acreditam nelas, tanto quanto elas mesmas. Eu já estive nesse lugar, de ser uma criança que olha para outras pessoas e se inspira e é uma honra a gente estar nesse lugar agora."

A dupla campeã olímpica afirmou também que, quando chegarem em suas respectivas casas, vão querer aproveitar para relaxar e aproveitar o momento com a família.

"Abraçar a família, deitar na minha cama que eu deito desde criança, respirar um pouco, ver meus cachorros, minhas sobrinhas, aproveitar, sem pensar em ter que comer regradamente. Ser a Eduarda, sem ter de ser a Duda do esporte", afirmou Duda. "Aproveitar a vida, aproveitar um pouco de tudo que a gente teve de abdicar", emendou Ana Patrícia.

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