Primeira boxeadora brasileira a subir num pódio olímpico, Adriana Araújo vendeu num leilão sua medalha de bronze conquistada nos Jogos de Londres-2012.
Pelo plano original, usaria o dinheiro para abrir um restaurante em Salvador. Mas mudou de ideia, quer continuar a viver do boxe e prepara a abertura de uma academia.
A atleta diz que não se arrepende. Mas confessa que, quando entregou o prêmio ao comprador, sentiu mais do que tinha imaginado num primeiro momento. "Por mais que seja só um símbolo, quando eu realmente vi [a medalha] saindo da minha mão, tive um sentimento que até eu mesma não sabia. Eu achava que não ia sentir, mas senti", contou à Folha.
"Mas a gente muitas vezes precisa usar a razão para poder almejar um futuro mais próspero, um futuro melhor", ponderou a boxeadora. "Eu continuo tendo isso [a conquista] comigo, o marco que eu fiz pro esporte brasileiro está gravado na história, e não vai ser a medalha olímpica que vai tirar. A vida continua, e vamos fazer novas histórias, novas coisas, agora de outra forma."
Depois da conquista em Londres (na categoria até 60 kg), Adriana foi eliminada na primeira luta nas Olimpíadas do Rio-2016. Não disputou os Jogos de Tóquio em 2021. Em 2022, queixando-se da falta de estrutura para treinar e de que tinha "contas para pagar", anunciou que deixaria o boxe pelo projeto de abrir um restaurante no bairro soteropolitano de Brotas, onde nasceu e cresceu.
Em abril passado, divulgou que leiloaria sua medalha para empregar o dinheiro no plano. Teria sido fogo de palha? Bravata para chamar a atenção de suas dificuldades financeiras? Ela agora revela que vendeu mesmo o cobiçado prêmio olímpico, mas não diz a quem nem por quanto. Foi por algo em torno de R$ 150 mil, valor ventilado na época do anúncio? "É... deixa quieto. Vocês [jornalistas] são muito curiosos."
Independentemente de como o empregou, Adriana comenta que precisava do dinheiro. "Sem sombra de dúvida, né. O dinheiro sempre é bem-vindo, se a gente está com dificuldade ou não, é sempre bom ter uma garantia em nossas mãos. Mas com certeza veio sim em melhor hora para mim."
A lutadora afirma que desistiu da ideia original depois de constatar que "a parte de empreendimento de restaurante é bastante complexa". "Eu não tenho nenhum conhecimento na área, a não ser apenas saber fazer uma comidinha. Então não vou pegar um valor alto, fazer um investimento, para em meses não ter um retorno."
Ao mesmo tempo, a medalhista olímpica conta que foi procurada pela empresa de apostas Superbet Brasil, que teria lhe proposto patrocinar um empreendimento de boxe em São Paulo com o nome dela, provavelmente na zona sul da capital.
"Preferi ficar na minha própria área, dar continuidade, agora como empreendedora, e abrir um centro de luta, ou então um estúdio, o Adriana Araújo. Estou indo praí em agosto. Eu tenho uma imagem que eu criei no boxe. Espero poder revelar novas Adrianas. São Paulo é um lugar muito bom para trabalhar com luta", disse.
A atleta de 42 anos conta que também adiou a aposentadoria dos ringues. Em abril, viajou ao Canadá para enfrentar Melinda Watpool: perdeu por pontos, mas diz que o resultado foi injusto –derrubou duas vezes a canadense no último round. Tem treinado, recebido convites e pretende lutar mais pelo menos duas vezes neste ano.
Enquanto isso, vai torcendo pelos colegas brasileiros em Paris. Conhece Bia Ferreira desde quando a atual campeã mundial profissional e esperança de medalha para o Brasil era uma iniciante e ela, Adriana, já era uma campeã. Primeiro na academia Champion, no bairro de Cidade Nova, periferia de Salvador, uma escola de campeões liderada pelo ex-lutador e treinador Luiz Dórea.
Depois na preparação para as Olimpíadas do Rio-2016, quando Bia participou de um projeto que a pôs em contato com os atletas do time brasileiro. "Bia é fora da curva, uma menina bastante determinada, que dispensa comentários. Com certeza vai ser campeã olímpica, abrindo novas portas também para outras."
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