Descrição de chapéu Futebol americano

Fãs brasileiros que viam NFL quando nem passava no Brasil celebram jogo em SP

Grupo de pioneiros ajudou a construir a relação da liga de futebol americano com o país

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São Paulo

Antes dos sinais de TV por assinatura serem codificados, algumas pessoas eram capazes de ajustar suas antenas parabólicas para captar os sinais de satélite de canais estrangeiros. Foi assim, no início dos anos de 1980, que alguns brasileiros tiveram os seus primeiros contatos com a NFL (National Football League, a liga profissional de futebol americano).

Flávio Daemon, 60, se lembra bem dessa época. Ele já era funcionário público e trabalhava em uma cidade no interior do Amazonas quando passou a acompanhar a competição, que realiza nesta sexta-feira (6), na arena do Corinthians, seu primeiro jogo oficial no Brasil.

"Os sinais de satélite eram abertos até para o uso militar, principalmente em lugares que tinham bases das tropas americanas em outros países, para que eles pudessem acompanhar os jogos", recorda-se. "Com a ajuda de um amigo engenheiro, eu também passei a ter acesso a esses sinais e foi quando comecei a ter interesse pela NFL."

Flávio não estava sozinho, mas não era fácil encontrar por aqui outros fanáticos pela liga. Até porque, com exceção de um breve período em que a TV Tupi exibiu jogos em 1969, somente no começo dos anos 1990 a competição passou a ter uma transmissão regular.

Grupo de fãs reunido em Amparo para acompanhar jogos da NFL
Grupo de fãs reunido em Amparo para acompanhar jogos da NFL - Arquivo pessoal

Por iniciativa de Luciano do Valle (1947-2014), a TV Bandeirantes exibiu jogos entre 1994 e 1998, na grade do "Show do Esporte", programa comandado pelo narrador nas manhãs e tardes de domingo. As partidas, no entanto, eram exibidas em formato de compactos gravados.

Embora insuficiente para quem já era fã, essas transmissões atraíram novos públicos, como o empresário Kleber Ancona. Em 1998, ele vibrou com a vitória do Denver Broncos sobre o Green Bay Packers no Super Bowl. "Fiquei feliz, mas foi estranho, porque não tinha com quem compartilhar a alegria", ele conta.

No ano seguinte, decidido a não ver mais os jogos sozinho, ele torceu para que o Broncos voltasse à final e, assim, ele tivesse a chance de reunir amigos para ver o jogo. "Nos Estados Unidos, o país todo vê a final. Até quem não acompanha o campeonato vê o Super Bowl. Eu quis fazer o mesmo aqui."

Numa época em que não havia redes sociais, foi por meio do antigo Yahoo! Grupos, um gerenciador de listas de discussões lançado em 1998 e descontinuado em 2019, que encontrou outros fãs e promoveu a primeira Super Bowl Party no país, em seu sítio, na cidade de Amparo (SP).

"A gente chamava de Amparo Bowl e começou a ficar famoso", lembra Kleber. "A gente chegou a reunir em alguns anos mais de 200 pessoas, o que para o futebol americano por aqui naquela época era muito. Vinha gente do Rio, de Minas, de vários lugares."

No começo dos anos 2000, o grupo foi responsável pela fundação da ABFA (Associação Brasileira dos Torcedores de Futebol Americano). Em pouco tempo, a entidade passou a ser reconhecida por emissoras de TV e até pela própria NFL.

"Através da ABFA, eu e o Rodrigo Gaspar, outro fanático, conseguimos nos credenciar como imprensa para ver um draft em Nova York", conta Kleber, sobre o evento no qual as equipes selecionam novos jogadores.

O empresário se orgulha da influência que o grupo atingiu na época. "Quando a DirecTV chegou no Brasil [em 1996], eles trouxeram um pacote com todos os jogos da NFL. Depois, quando eles precisavam reduzir para dois jogos por rodada, quem escolhia as partidas era a ABFA. Era nosso grupo que dava dicas para a DirecTV."

O esforço para se conectar com a competição atualmente é bem menor. O leque de opções com exibição do campeonato inclui TV aberta e fechada, além de plataformas de streaming.

Imagem aérea de um campo de futebol americano, com grama verde bem cuidada. As linhas do campo estão claramente visíveis, e há marcas de end zone em ambas as extremidades. O logotipo 'EAGL' está presente em uma das extremidades do campo. O estádio ao redor parece vazio.
Arena do Corinthians recebe pintura no gramado para partida na NFL - Leonardo Benessatto/Reuters

"Essa garotada de hoje, que acompanha futebol americano há dez anos, pegou uma situação confortável", observa o advogado Álvaro Jorge. "Quando nós começamos a acompanhar a NFL, era um investimento altíssimo para assinar a TV a cabo pela DirecTV, comprar os equipamentos, instalá-los e ainda pagar uma mensalidade para ver alguns jogos", ele lembra.

Além disso, a própria liga percebeu o potencial do mercado brasileiro e trouxe um jogo oficial para o país pela primeira vez. Nesta sexta-feira (6), Green Bay Packers e Philadelphia Eagles vão se enfrentar na Neo Química Arena, em Itaquera, às 21h15 (de Brasília), pela rodada de abertura da nova temporada.

Para quem não for ao estádio, há diversas opções de transmissão ao vivo: RedeTV! (TV aberta), ESPN (TV fechada), Disney+ (streaming), NFL Game Pass (DAZN / streaming) e CazéTV (Youtube e Prime Video).

Vai ser por meio de uma dessas opções que Flávio Daemon, Kleber Ancona e Alvaro Jorge, que cultivam uma amizade há mais de 30 anos, conectados sobretudo pela paixão pela modalidade, vão assistir ao jogo em Itaquera. Por questões de trabalho ou de agenda, eles não vão ao estádio. Mas, mesmo de longe, eles sentem que ajudaram a construir o cenário atual da NFL no Brasil.

Se há 30 anos o Brasil era quase insignificante para a liga, hoje são mais de 36 milhões de torcedores por aqui, de acordo com dados da própria organização, segundo a qual "nove milhões são fanáticos", como o grupo de pioneiros se reuniu pela paixão pelo esporte.

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