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Como chegar bem aos 100

Revolução da longevidade é a maior conquista nos últimos cem anos

Antes privilégio de poucos, envelhecer é hoje oportunidade para a maioria

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Alexandre Kalache

Médico gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR)​

Rio de Janeiro

A expectativa de vida de um brasileiro nascido há cem anos era de 35 anos. Em 2021, chegará a 77 anos. São 42 anos mais de vida, não de velhice.

Envelhecer para os nossos antepassados era o privilégio de poucos, hoje uma oportunidade para a maioria.

mulher branca idosa usa óculos com enormes aros pretos e veste roupa estilosa de couro preto e plumas
A americana Iris Apfel é empresária, designer e ícone da moda aos 97 anos. Com o seu marido, Carl, ela tem viajado o mundo em busca de tecidos e peças de roupa e artesanato. Sua vida e estilo podem ser conhecidos no documentário "Iris", de Albert Maysles - Wikipedia/RFI

É a revolução da longevidade, a maior conquista da sociedade em nível global nos últimos cem anos, exatamente os anos de vida que a Folha vai completar em fevereiro de 2021.

Antes de 2040, chegaremos a 80 anos de expectativa ao nascer. Em 2050, estaremos entre os 64 países com mais de 30% da população 60+, o que terá implicações para todos os setores da sociedade.

No entanto, o que deveria ser celebrado é lamentado por tantos. Como se a outra única alternativa, morrer cedo, fosse preferível.

Mas não basta apenas envelhecer. É preciso fazê-lo com qualidade. Para tanto, é necessária uma sinergia do esforço individual com políticas públicas que o reforcem. Por exemplo, fazer com que estilos de vida mais saudáveis sejam também mais acessíveis, fáceis e baratos.

Vale para saúde assim como para os outros pilares do envelhecimento ativo, conforme promulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2002, durante minha gestão como diretor do departamento encarregado do envelhecimento.

Esses outros pilares são aprendizagem ao longo da vida, participação e segurança/proteção. Por meio deles, podemos acumular os capitais essenciais para envelhecer bem, como saúde, conhecimento, capital social e financeiro.

Além deles, é preciso ter um propósito, o que nos faz começar o dia convictos de que faremos uma diferença positiva para nós e para a sociedade.

Tais capitais nos permitem criar resiliência. Uma vida mais longa pressupõe perdas —de recursos financeiros, de status, de pessoas queridas. Se tivermos reservas internas, transformamos as perdas em oportunidades para superação.

Quantos mais indivíduos resilientes em uma sociedade, mais essa sociedade se torna resiliente, gerando um ciclo virtuoso.

Ao longo dos próximos cinco meses, ocuparemos este espaço com um texto por semana. Refletiremos sobre os mais diversos temas que contribuem para o envelhecimento com qualidade de vida —ou que, à sua falta, o impedem. Discutiremos os pilares do envelhecimento ativo e dois fatores que o influenciam frontalmente, gênero e cultura.

Abordaremos aspectos como trabalho, cuidado, o enfoque “amigo do idoso”, moradia, finitude, luto, instituições de longa permanência, raça e etnia, e direito das pessoas idosas e como assegurá-los.

Permeando as discussões, enfatizaremos questões que a pandemia deixou tão evidentes, como as desigualdades sociais e o preconceito contra as pessoas idosas —que chamamos de idadismo em analogia ao que é o racismo e o sexismo.

Bem-vindos à longevidade.

Folha lança seção sobre longevidade

A partir deste domingo (27), a Folha começa a publicar a seção Como Chegar Bem aos 100, dedicada à longevidade. A série integra os projetos ligados ao centenário do jornal, a ser celebrado em fevereiro de 2021.

A curadoria da seção é do médico Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde). Ele também vai assinar alguns dos textos.

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