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Brasil precisa cuidar melhor dos idosos que vivem em instituições

Pandemia tornou evidente vulnerabilidade dos idosos, especialmente em asilos e casas de repouso

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Karla Giacomin

Geriatra, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e vice-presidente do Centro Internacional da Longevidade (ILC) no Brasil ​

Os pilares do envelhecimento ativo incluem saúde, aprendizagem ao longo da vida, participação e segurança. Aspiramos os três primeiros, mas temos dificuldade em lidar com o último, a necessidade de proteger e cuidar dos mais frágeis.

três senhoras idosas sentadas em roda sorrindo para a câmera
Moradores do Lar Vicentino, que abriga 40 idosos e, devido à pandemia do coronavírus, suspendeu visitas ao residentes - Karime Xavier - 30.mar.2020/Folhapress

Em todo o mundo, a pandemia da Covid-19 tornou evidente a vulnerabilidade das pessoas idosas, especialmente as institucionalizadas. Eram pessoas até então invisíveis para o Estado e para a sociedade.

No Brasil, fala-se em “instituição de longa permanência para idosos” (ILPI), mas se você perguntar a alguém como ou onde encontrar uma ILPI, o olhar de perplexidade será a reação mais provável.

O que seria uma ILPI? Os nomes mais conhecidos são asilo, lar, hotel ou clínica geriátrica, casa de repouso, residencial para idosos, entre outras variantes. Infelizmente, não sabemos quantas instituições existem, onde estão, quanto custa o cuidado, quem cuida e como.

Em 8 de abril, quando havia registro de 822 mortes por Covid-19 no Brasil, surgiu o movimento chamado Frente Nacional de Fortalecimento às ILPI (frentenacionalilpi.com.br), ao qual rapidamente se juntaram mais de 1.200 voluntários de todo o país.

Essa frente tem produzido e divulgado, de forma gratuita e por meio virtual, orientações baseadas em evidências científicas, voltadas para a prevenção e o cuidado da Covid em ILPI. Já contabiliza mais de 130 mil acessos a documentos e vídeos de capacitação.

O movimento trabalha para superar a visão preconceituosa fortemente presente na sociedade e nas leis brasileiras, que ligam negligência e abandono à institucionalização.

A Constituição, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso determinam que uma pessoa idosa somente poderá residir em uma instituição depois de ter esgotado todas as outras possibilidades de cuidado –que só existem no papel— e de fortalecimento de vínculos sociofamiliares –que muitas vezes já não existem.

Assim, quando uma pessoa idosa frágil e vulnerável precisa de cuidado, ela acaba se tornando uma questão da vida privada, pois o Estado permanece omisso e a sociedade se mantém distanciada. Resta, então, a cada família tentar cuidar dessa pessoa, conforme seus recursos ou a falta deles.

Por isso, a frente tem defendido a necessidade urgente de uma política de Estado, que seja abrangente e adequada, e que ofereça cuidados continuados no domicílio ou na instituição. A ideia é apoiar as pessoas –idosas ou não— que precisam de cuidados, mas que não têm família ou que a família não pode ou não consegue oferecer os cuidados necessários.

Essa iniciativa tem o apoio do Centro Internacional de Longevidade - Brasil, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e de outras entidades nacionais e internacionais, inclusive a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Afinal, a vida de toda pessoa idosa importa.

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