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Precisamos avançar na inserção de idosos em ações de aprendizagem continuada

População idosa é sub-representada em programas de educação para adultos

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Daniela Vieira

Professora do depto. de administração da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), analista de políticas do Instituto Internacional para Educação Superior da Unesco e coordenadora da área de aprendizagem ao longo da vida do Centro Internacional da Longevidade (ILC) no Brasil.

Pessoas de todas as idades (incluindo os idosos) devem ter a oportunidade de aprender de maneira continuada. Contudo, ainda prevalece a visão de que a aprendizagem é algo temporário, restrita a um período específico da vida, geralmente o dos estudos formais e limitado aos mais jovens.

senhora branca idosa, de cabelos cursos muito brancos, está sentada em uma cadeira tocando guitarra e sorrindo
A professora aposentada Auzinda Americo da Silva, 90, toca guitarra em sua casa, na cidade de Porto Ferreira, a 230 km da capital paulista - Gabo Morales - 17.fev.2011/Folhapress

Não à toa, perguntamos aos jovens estudantes: “O que você aprendeu na aula hoje?”. Mas não perguntamos, por exemplo, o que eles aprenderam em uma viagem ou no trabalho.

Tais perguntas são ainda menos frequentes aos nossos cidadãos seniores, o que demonstra a necessidade de incorporar, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional, o elemento contínuo da aprendizagem em nossas vidas.

De acordo com o quarto Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos (Grale 4, na sigla em inglês), da Unesco, lançado em 2019, em quase um terço dos países, menos de 5% dos adultos participam de programas de aprendizagem.

Os idosos estão particularmente sub-representados nos programas de educação de adultos e, com frequência, encontram-se privados de acesso a oportunidades de aprendizagem. Precisamos avançar muito na inserção do público idoso em ações de aprendizagem continuada.

Já há um entendimento claro de que a aprendizagem ao longo da vida é um dos elementos estruturantes do envelhecimento ativo. O Marco Político do Envelhecimento Ativo, lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, inclui em sua definição o pilar do aprendizado ao longo da vida. Portanto, não podemos falar em envelhecer com qualidade sem falar em aprender continuamente.

Os benefícios incluem oportunidades para aprender sobre eles mesmos; para garantir um nível mais alto de saúde; para ter acesso a iniciativas mais amplas a fim de participar integralmente da sociedade; e para adquirir conhecimentos com o objetivo de ter plena vivência da cidadania.

Importante também frisar que aprender de forma contínua é elemento central para a competitividade dos países que estão vendo a longevidade da sua população crescer de modo sem precedentes.

Com aposentadorias tardias, os trabalhadores idosos precisam de mais oportunidades para continuar trabalhando, o que implica ter acesso a aprendizagem continuada voltada à aquisição de habilidades que caminhem junto com o ambiente profissional acelerado e dinâmico em que nos encontramos.

Caso contrário, corremos o risco de ter idosos a fim de continuarem ativos no mercado de trabalho com competências desatualizadas, deixando-os com poucas chances de encontrar e/ou manter um emprego —o que também representa uma perda econômica para seus países.

Tenhamos em mente que a velhice não pode se tornar um impedimento ao ato de aprender. Envelhecer e seguir aprendendo se complementam e devem caminhar juntos. À medida que envelhecemos e acumulamos repertório, aprender de maneira continuada torna-se essencial para uma longevidade ativa, com qualidade.

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