Trocas intergeracionais no trabalho beneficiam a todos

Compartilhamento depende de disposição para o diálogo e para a escuta

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Eduardo Danilo Schmitz

Doutor em educação pela UFRGS e mestre em envelhecimento humano pela UPF. É pesquisador dos temas e das relações entre envelhecimento, trabalho e educação.

Em consonância com o cenário do envelhecimento populacional, o mercado de trabalho tem uma presença cada vez maior de trabalhadores maduros.

Uma parcela significativa dos idosos chega a essa fase da vida com boa saúde e ávidos por seguir em atividade laboral. Para eles, o trabalho não significa apenas uma fonte de renda, mas também de realização e de manutenção de uma rede de relações. Como consequência, temos atualmente uma diversidade etária sem precedentes no ambiente de trabalho.

No entanto, a complexidade das relações humanas transforma essa convivência intergeracional em um grande desafio, pois emergem diversas tensões vinculadas a preconceitos, visões de mundo e valores.

Os idosos aprenderam a viver em um mundo diferente do atual, onde o trabalho era menos dependente das tecnologias, menos acelerado e não globalizado. Hoje essas pessoas convivem com jovens que nasceram no mundo digital, marcado pela velocidade das informações e pelo questionamento de paradigmas. O que poucos percebem, contudo, é que estamos diante de uma grande oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento para todos.

ilustração de escritório com pessoas de idades diferentes subindo uma escada
Cooperação entre gerações pode fortalecer empresas em tempos de crise - Catarina Pignato

De um lado, os trabalhadores maduros são conhecedores de histórias, capazes de olhar para o presente e para o futuro com uma noção ampliada e trazem consigo o desejo de deixar um legado. Tal riqueza guarda um potencial singular para o desenvolvimento dos mais jovens, pois as histórias de superação de dificuldades podem despertar novos modos de ser e fazer, aprimorando capacidades críticas. Ajudam também a desenvolver aptidões para ler o mundo e aprender coletivamente, fomentando o pertencimento, a colaboração e a criatividade, e fornecendo às equipes um repertório cultural maior para criar as inovações que o futuro requer.

Há, simultaneamente, jovens precisando de mentoria, mas também possuidores de conhecimentos importantes para compartilhar.

Para que ocorra, esse compartilhamento depende de um ambiente propício, assim como da disposição para o diálogo, do exercício da escuta, do esforço honesto por entender o outro na sua forma de pensar o mundo, da edificação de pontes por meio das quais seja possível a colaboração e cooperação mútuas. As trocas intergeracionais podem quebrar barreiras, minimizar os julgamentos e promover um ambiente mais inclusivo, disseminando valores de colaboração e solidariedade, o que é particularmente salutar para o trabalho em equipe.

Trata-se ainda de uma grande oportunidade de aprender sobre envelhecimento, essa que é a maior conquista do nosso século e, ao mesmo tempo, uma experiência desafiadora para o ser humano, pois denuncia a nossa temporalidade, despertando profundos dilemas existenciais.

Contudo, na convivência com idosos é possível descobrir muitas belezas dessa fase da vida, refletir sobre a finitude e, sobretudo, questionar os valores que nos orientam.

Assim, esse convívio dos diferentes pode desvelar o que temos de melhor na existência humana: a essência do cuidado, da interdependência e da solidariedade.

SEÇÃO DISCUTE QUESTÕES DA LONGEVIDADE

A seção Como Chegar Bem aos 100 é dedicada à longevidade e integra os projetos ligados ao centenário da Folha, celebrado neste ano de 2021. A curadoria da série é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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