Editor durão, Kirjner trabalhou na Folha por quase 3 décadas

Jornalista gaúcho era rigoroso em relação à qualidade dos textos

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São Paulo

Ruivo, magro, alto, sisudo e elegante (sempre de terno e gravata), o gaúcho Simão Kirjner Sobrinho (1923-2000) fez parte, por quase 30 anos, de uma Redação da Folha que há muito não existe mais.

"Naquele tempo, o tempo do Nabantino [José Nabantino Ramos, dono do jornal de 1945 a 1962], todo mundo, como ele [Kirjner], usava terno e gravata, alguns iam ao jornal de chapéu. Na Redação, havia um lugar destinado a pendurar os chapéus e a deixar os guarda-chuvas", lembra Bernardo Lerer, 80, que trabalhou no jornal em dois períodos, de 1961 a 1963 e de 1977 a 1978.

Registro de emprego do jornalista Simão Kirjner Sobrinho de 28out1978 com foto PB de um homem branco com 55 anos, usa cabelo curto penteado para o lado e óculos. Usa terno, camisa e gravata.
Registro de emprego do jornalista Simão Kirjner Sobrinho - Reprodução

"Eu sou judeu e o Simão também era, morávamos no bairro do Bom Retiro. Havia um instinto comunitário, e o Simão me acolheu. Eu era foca [termo para se referir a jornalistas novatos], e ele ajudava os focas", afirma Lerer.

"Naquele tempo, sem nenhuma razão específica, havia poucos judeus na Redação. Éramos eu, Noé Gertel, que escrevia sobre cinema, Julio Abramczyk, sobre medicina, Isaac Jardanovski, sobre engenharia, urbanismo e arquitetura, e o Simão, que era editor de Cidades [atualmente Cotidiano]."

Segundo Lerer, Kirjner era rigoroso em relação à qualidade dos textos. "Quando o Simão mandava refazer um parágrafo, eu refazia e pronto, pois ele sabia o que estava falando. A gente tinha respeito profissional por ele."

Entre os momentos marcantes do trabalho com Kirjner lembrados por Lerer, destaca-se o dia 25 de agosto de 1961. "Na renúncia do Jânio [Quadros, então presidente do Brasil], todos os jornais soltaram uma edição extra, e o Simão participou daquela edição, assim como eu. O telefone tocou, era um colega de Brasília passando a carta de renúncia do Jânio. Tomei a iniciativa de falar em voz alta para que um outro colega também anotasse e nós fôssemos fiéis ao que estava sendo ditado."

Mario Chimanovitch, 76, jornalista há 53 anos, foi repórter investigativo. Cobriu conflitos no Oriente Médio e na África. Além de repórter da Folha, foi um dos secretários do Notícias Populares, jornal que circulou entre 1963 e 2001.

"Simão, judeu como eu, me despertou para o jornalismo. Éramos amigos do Bom Retiro e, às vezes, eu o acompanhava até o prédio da Folha, via aquele movimento e ficava fascinado. Ele conseguiu para mim um emprego em Esporte, com o Aroldo Chiorino, que era editor", conta Chimanovitch.

"O Simão editou a Ilustrada, a primeira página do jornal e criou o suplemento agrícola", lembra Chimanovitch. Segundo o amigo, Kirjner era extremamente rigoroso com a apuração dos fatos e não era uma pessoa fácil. "Ele era daqueles gaúchos meio invocados, durões. Não ria muito e nos cobrava bastante durante o fechamento. Mas era um grande profissional."

Para o cartunista Mauricio de Sousa, que começou a vida profissional como repórter policial, Kirjner foi um dos profissionais que o orientou na escrita jornalística.

"Quando cheguei à Folha, ele foi um dos caras que me disse que não dava para escrever como eu fazia, como um escritor. Era preciso ser direto."

Segundo o pai da Turma da Mônica, o conselho o ajudou, posteriormente, a criar textos enxutos que coubessem dentro dos balões dos quadrinhos. "Com o Simão e outros editores da Folha, aprendi a respeitar as perguntas básicas: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por que?, para mostrar o que de fato estava acontecendo", disse o cartunista.

Simão Kirjner Sobrinho (1923-2000)

Nasceu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e ingressou no Grupo Folha em 1949. Até 1978, ano em que se desligou da empresa, o jornalista exerceu cargos de confiança, como editor da primeira página.

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