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'Mapas ajudam a acelerar processos contra desmatamento'

Ana Carolina Haliuc, do Ministério Público do Amazonas, usa dados do Mapbiomas, finalista do Empreendedor Social 2022 na categoria Inovação em Meio Ambiente

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São Paulo

A procuradora da República no Amazonas Ana Carolina Haliuc Bragança, 36, não tem dúvida: o MapBiomas mudou a forma do Ministério Público Federal trabalhar e pensar alternativas para conter o desmatamento da Amazônia.

A base de dados criada em rede, por mais de 70 organizações, monitora o uso da terra e da água nos biomas brasileiros. A iniciativa é liderada por Tasso Azevedo, que chegou à final do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Inovação em Meio Ambiente.

"Sou procuradora da República e sempre procurei enfrentar desafios no meu trabalho. Antes de chegar ao Amazonas, onde estou há cinco anos, eu trabalhava em Cáceres (MT), na fronteira com a Bolívia, no combate ao tráfico de drogas.

Era um trabalho muito duro, mas nunca fui ameaçada, porque sempre tratei com respeito todos os envolvidos na ação.

mulher branca de olhos claros, cabelos enrolados e blusa azul em fundo verde
Ana Carolina Haliuc Bragança é procuradora da República no Amazonas - José Elias Bragança Neto

Era tão difícil quanto é para o Judiciário atuar contra os mecanismos sociais que impulsionam o desmatamento.

Trabalho com o MapBiomas desde 2018 e faço todos os dias consultas aos mapas para embasar laudos dos processos em andamento, porque na Amazônia, em especial, as movimentações jurídicas são iniciadas por órgãos como Ibama e ICMBio ou até por comunidades, que noticiam garimpo ou desmatamento em áreas federais.

O mais comum é que, neste último, a denúncia venha pouco instruída ou atraso. Então uso coordenadas geográficas para ver se a área ou CAR (Cadastro Ambiental Rural) teve alerta de incêndio e desmatamento recente. E até se a área existe. Isso me permite melhorar a condição comprobatória.

Eu sou grata ao Tasso Azevedo pelo MapBiomas. Os processos demoravam cinco meses para serem construídos, até que todas as respostas chegassem dos ofícios que expedia a diferentes órgãos.

Agora, em um mês, consigo embasar os processos com dados do CAR e do MapBiomas. No primeiro, eu identifico propriedade e possível autoria e no segundo tenho a materialidade do dano, a partir do alerta de desmatamento e o apontamento da área em que ele ocorre.

Claro que a peça jurídica cível ou criminal exige mais elementos. Mas ganha celeridade e materialidade com o MapBiomas. Assim, eu consigo municiar em média 200, 300 procedimentos por ano. Muitas vezes, mais de um por dia. E isso ajuda na tentativa de desestimular o desmatamento.

Só que o Estado de Direito no Amazonas é diferente do do Sudeste. Para começar, o AM é maior que a Colômbia e tem 18 procuradores da República, 4 para o desmatamento. SC, por exemplo, tem 40.

Então Judiciário e MapBiomas são só duas peças do quebra-cabeça. No AM, a lei é vista como inimiga da geração de renda. A participação do estado é pequena ante os mecanismos sociais que estimulam o desmatamento.

É preciso mais ministérios, Executivo e Judiciário na Amazônia. E alternativas para a geração de renda.

Me deixa angustiada ver o quanto o desmatamento cresceu desde 2018. Hoje, além do arco conhecido de desmatamento, ele está ferindo o coração da Amazônia, para dentro de áreas da BR-319. A rota do desmatamento está sendo trilhada. E só o direito não dá conta de conter isso. É chocante."

Conheça os demais finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social 2022 na plataforma Social+.

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