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Instituto de Djamila Ribeiro oferece educação antirracista e acolhe mulheres

Espaço Feminismos Plurais completa sete meses em SP com biblioteca de autores negros, terapia e apoio jurídico gratuitos

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São Paulo

Retratos, livros e frases de autores negros e negras estampam desde a entrada até o banheiro do Espaço Feminismos Plurais. A casa era um sonho antigo da filósofa e colunista da Folha Djamila Ribeiro.

Em uma esquina de Moema, em São Paulo, onde foi fundado há sete meses, o espaço conjuga acolhimento com educação antirracista e feminista. São pilares da trajetória de Djamila, que buscou inspiração na antiga Casa de Cultura da Mulher Negra, de Santos, onde foi criada, para lançar seu próprio instituto.

Djamila Ribeiro lidera instituto com proposta de educação feminista e antirracista
Djamila Ribeiro lidera instituto com proposta de educação feminista e antirracista - Divulgação/Rodrigo Trevisan

"Esse espaço foi o que me trouxe mais alegria neste ano", diz a filósofa. "Venho de um lugar de mulheres sofridas, que não tiveram como se cuidar, então aqui é uma cura para mim também."

Desde que lançou a coleção Feminismos Plurais, em 2017, que tem "Lugar de Fala" como livro de abertura, e uma plataforma de streaming sobre o tema, em 2020, Djamila buscava um espaço físico para "juntar tudo" e atender mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Além de uma biblioteca e de uma sala para eventos literários e artísticos, a casa conta com atendimento psicológico e odontológico e suporte jurídico. Tudo gratuito e mantido por doações de pessoas e empresas.

"Difundir o pensamento desses autores antirracistas é fundamental, mas como pessoa negra, não posso negligenciar nossa dimensão psicológica", afirma.

Djamila Ribeiro abre lançamento de livro no Espaço Feminismos Plurais, em Moema (SP)
Djamila Ribeiro abre lançamento de livro no Espaço Feminismos Plurais, em Moema (SP) - Divulgação/Rodrigo Trevisan

Em uma sala no piso superior, são realizadas sessões de terapia. Em parceria com a Casa Rosangela Rigo, por exemplo, são atendidas mulheres que sofreram violência doméstica. Elas levam seus filhos, que também são acolhidos no espaço durante as sessões.

Em frente, a Biblioteca Toni Morrison oferece consultas e empréstimos de livros de ficção, teoria racial crítica, teoria feminista, livros infantis, entre outros temas.

Diversos exemplares foram doados pelas editoras Fósforo, Cia das Letras e Ubu, além da coleção Feminismos Plurais e do selo Sueli Carneiro.

"Pesquiso quilombismo no ambiente digital e estava com bloqueio para escrever", diz Jayme Filho, 37, frequentador do espaço. "Usei a biblioteca em uma tarde e foi suficiente para desenrolar. Encontro aqui coisas invisíveis que fazem a diferença."

Jayme Filho usa a Biblioteca Toni Morrison dentro do Espaço Feminismos Plurais, em Moema (SP)
Jayme Filho busca inspiração na Biblioteca Toni Morrison dentro do Espaço Feminismos Plurais - Divulgação

No andar inferior, a sala Lélia Gonzalez é palco para lançamentos de livros. O espaço fica cheio quando Djamila convoca sua rede para prestigiar os escritores.

"Publicamos 25 livros nos últimos quatro anos e quebramos a lógica de que eles são para pessoas supostamente inteligentes", afirma a filósofa.

"São livros baratos e com linguagem didática, para que os leitores se sintam parte da conversa. Não gosto de ativismo arrogante."

Márcia Carvalho, 64, frequenta todos os lançamentos e as rodas de conversa às segundas-feiras. São debatidos assuntos como empreendedorismo, injúria racial e direitos da mulher gestante, em parceria com a LBS Advogados.

Ela diz se sentir acolhida, pois "em outros coletivos, pessoas mais velhas muitas vezes não são bem recebidas".

Márcia Carvalho é frequentadora das rodas de conversa do Espaço Feminismos Plurais
Márcia Carvalho é frequentadora das rodas de conversa do Espaço Feminismos Plurais - Divulgação

"Não fui incentivada a ler e racismo era um assunto proibido na família, então estar aqui é uma reconexão com minha história."

Tese também defendida por Jayme Filho. "Esse espaço é antirracista pelo simples fato de existir em um lugar nobre de São Paulo e trazer o tema à pauta de forma acessível."

Aliás, ter um instituto localizado em Moema —onde o imóvel foi cedido pelo empresário Maurício Rocha— foi alvo de críticas.

"Ouvimos que a casa era bonita demais. Por que mulheres negras não merecem um espaço como esse na zona sul?", diz Djamila Ribeiro.

Em alusão à sua recente coluna na Folha, em que questiona o uso da expressão "pessoas que menstruam", a filósofa afirma que "ainda se incomodam ao ver uma pessoa negra, de pele retinta, que ousa discordar e não pede desculpas".

"Sou intelectual, qual é o incômodo?", avalia.

O Espaço Feminismos Plurais pretende ser referência em produção de conhecimento sobre racismo e feminismo e apoio a mulheres vulneráveis.

"Nosso trabalho não substitui políticas públicas, mas São Paulo ainda tem carências no acolhimento de pessoas negras", afirma Djamila.

Serviço

Espaço Feminismos Plurais
Endereço: Alameda dos Tupiniquins, 343, Moema - São Paulo
Horários: De segunda à sexta das 9h às 17h (recesso de 20 de dezembro a 4 de janeiro)
Atendimento psicológico e jurídico: inscrições gratuitas pelo email espacofeminismosplurais@gmail.com

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