Descrição de chapéu yanomami

'O que vimos em Roraima é mais complexo do que se vê na TV', diz Preto Zezé

Cufa, Frente Nacional Antirracista e Unegro Brasil levam diagnóstico a ministros em Brasília, após dias em campo com os yanomamis

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São Paulo

Sete dias depois de acompanhar de perto a situação dos yanomamis em Roraima, lideranças da Cufa - Central Única das Favelas, da Frente Nacional Antirracista e da Unegro - União de Negros e Negras pela Igualdade se reuniram nesta semana com ministros em Brasília. O objetivo era apresentar diagnósticos e propostas para minimizar a tragédia humanitária.

A comitiva dialogou com Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Camilo Santana (Educação), Marina Silva (Meio Ambiente), Nisia Trindade (Saúde), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Simone Tebet (Planejamento), Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).

Simone Tebet, ministra do Planejamento, ouve diagnóstico de entidades sociais sobre a situação dos yanomamis
Simone Tebet, ministra do Planejamento, ouve diagnóstico de entidades sociais sobre situação dos yanomamis - Divulgação

Também foram recebidos por Ricardo Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena (Sesai), e Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

O diagnóstico apresentou detalhes sobre o quadro de extrema vulnerabilidade entre os yanomamis e outros grupos étnicos e sugestões para embasar políticas públicas na região.

"O que vimos no território e relatamos aos ministros é mais complexo do que se vê na TV", diz Preto Zezé, presidente nacional da Cufa e membro da comitiva.

"Na prática, vemos dificuldades de acesso, dinâmicas internas de cada grupo, tensões e limites do território e a alimentação específica dos indígenas."

O relatório com vídeos e fotos das visitas às aldeias aponta para uma grave crise alimentar, de saúde e de acesso à água limpa.

Para Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena, o documento ajuda a 'descortinar' a situação dos yanomamis. "A sociedade civil organizada tem exercido papel fundamental nessa crise e ajudou a gerar comoção internacional."

Em suas ações emergenciais, a Cufa instalou quatro galpões para recepção de doações de cestas, sendo um específico para alimentação tradicional indígena. Mais de 60 toneladas de alimentos foram entregues.

Em diálogo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Cufa e a Frente Nacional Antirracista vão reformar o polo de saúde de Surucucu, uma das regiões mais impactadas.

Lideranças da Central Única das Favelas apoiam distribuição de alimentos em comunidades indígenas
Lideranças da Central Única das Favelas apoiam distribuição de alimentos em comunidades indígenas de Roraima - Divulgação

A campanha "Favelas com Yanomamis" já arrecadou R$ 1 milhão dos R$ 3 milhões pretendidos para iniciar as obras em 1º de março.

"Chamamos empresários, trabalhadores, toda gente do povo a somar fileiras na campanha, pois além dos yanomamis, presenciamos outra grave crise com a imigração venezuelana, que ameaça colapsar Boa Vista", diz Edson França, presidente nacional da Unegro.

Em parceria com a startup Água Camelo, a Cufa tem distribuído kits para filtragem de água em comunidades ribeirinhas e em postos da Funai.

E também atacou outras urgências, como a doação de chinelos para evitar contato de crianças com água contaminada e de redes e máquina de lavar roupas para espaços de saúde.

"Vimos profissionais de saúde levando roupas de cama dos hospitais para lavar em casa", conta Preto Zezé.

"Mesmo tendo dinheiro, o poder público tem uma burocracia a vencer como, por exemplo, para adquirir redes ou chinelos, e é importante trabalharmos de forma integrada com entidades", afirma Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

Outra demanda apresentada foi a necessidade da implantação de escolas indígenas que, segundo as instituições, foi abraçada pelo ministro Camilo Santana.

"Esses dias têm sido importantes tanto pelo trabalho realizado na floresta, nas campanhas de arrecadação, ou mesmo pelos desdobramentos políticos que precisam avançar", diz Preto Zezé. "Do contrário, estaríamos apenas espalhando fumaça."

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