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Após papel em 'Travessia', Danielle Olimpia recebe desabafos sobre abusos

Atriz interpretou Karina, adolescente chantageada por pedófilo

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Ana Paula Franzoia
São Paulo

Um mês depois do fim da novela da Rede Globo "Travessia", a história de uma das personagens continua repercutindo para além da ficção. A atriz Danielle Olimpia, 25, que interpretou Karina —uma adolescente chantageada por um pedófilo—, tornou-se uma referência para pessoas que querem desabafar sobre violências sexuais que elas próprias sofreram.

"Quase todos os dias eu recebo mensagens ou sou parada por pessoas contando episódios de abuso. Elas sentem-se seguras para falar sobre o assunto comigo", conta Danielle. "Acredito que a novela tenha sido um marco, pois muitos perceberam que foram ou são vítimas de violência sexual, que não precisam sentir culpa ou vergonha por isso e que devem pedir ajuda".

Para interpretar o papel, a atriz paulista assistiu a documentários, leu reportagens e livros sobre o tema —e se impressionou com as estatísticas, como a de que mais de 40% dos casos nem chegam a ser encaminhados ao Conselho Tutelar, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em maio passado. "Incorporei reações, gestos e sentimentos de muitas das mulheres retratadas nestas obras, como a automutilação", explica ela.

Felizmente, ela própria nunca sentiu na pele nada próximo ao que a personagem vivenciou. "Meus pais são ótimos e muito próximos de nós. Sempre tivemos um papo bem aberto, eles sempre souberam que a informação é fundamental e nos aconselhavam a evitar algumas situações que poderiam ter algum tipo de risco, como não sentar no colo de adultos, não aceitar nada de estranhos, não deixar ninguém tocar nosso corpo".

Criança fez denúncia após a novela

A história de Karina serviu para alertar muitos pais e mães de que o perigo não está só nas ruas, já que o abuso pode acontecer pelo celular, tablet, games e computadores e é tão violento e danoso quanto qualquer ataque físico.

Um dos episódios que emocionaram a atriz foi o relatado por uma menina com cerca de 8 anos. "Ela me contou que estava sendo abusada dentro de casa e tinha muito medo. Mas viu na novela o número disponível para fazer denúncias [100]. Ela tentou ligar de casa, mas como não conseguia, resolveu comentar com a professora, que denunciou o abusador", lembra.

O Disque 100 recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa.

Para Danielle, é preciso acabar com o tabu em torno do tema para que as vítimas se sintam seguras de denunciar. "É uma violência muitas vezes praticada por amigos e familiares e que causa muita vergonha e medo, por isso muitos não contam a ninguém. É preciso levar o assunto para o âmbito social, envolver escola, sociedade e Estado. Daí a importância do tema estar na televisão, na mídia, ser foco de campanhas", afirma.


A DIMENSÃO DO PROBLEMA

61,3% dos estupros registrados no Brasil são contra menores de 13 anos

4 meninas de menos de 13 anos são estupradas por hora no Brasil

82% dos abusadores são conhecidos da vítima

76,5% dos casos acontecem dentro de casa

85,5% das vítimas são do sexo feminino

4 a 8 anos é a faixa etária da maioria dos meninos vítimas de violência sexual

10 a 14 anos é a faixa etária da maioria das meninas vítimas dessa violência

10% dos casos são denunciados, segundo estimativas

A causa 'Da Repressão à Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes' tem o apoio do Instituto Liberta, parceiro da plataforma Social+.

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