Descrição de chapéu saneamento

Jovem baiana cria startup para impulsionar reciclagem no país a partir do NE

Saville Alves fundou a Solos, finalista do Empreendedor Social na categoria Inclusão Social e Produtiva, e conecta empresas, governos e catadores por lixo zero em eventos como Carnaval

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A Solos promove a inclusão produtiva de catadores por meio de uma estratégia de lixo zero em grandes eventos Renato Stockler/Folhapress

Salvador (BA)

Finalista

  • Organização Solos
  • Empreendedora Saville Alves
  • Site https://www.alimentesolos.com.br

Saville Alves, 31, quer ser uma espécie de Ivete Sangalo do empreendedorismo social no país. A exemplo da cantora que mora na Praia do Forte, no litoral norte de Salvador, a fundadora da startup Solos atua Brasil afora a partir da Bahia.

"A minha escolha é empreender daqui", diz a soteropolitana. Há cinco anos, comanda um negócio de impacto que cria soluções de logística reversa para empresas, marcas e poder público em projetos e serviços que potencializam coleta seletiva e reciclagem.

Saville Alves fundou a Solos, em Salvador (BA), como negócio de impacto que cria soluções de logística reversa para empresas, marcas e poder público - Renato Stockler/Folhapress

Com ações em seis estados, três no Nordeste (Bahia, Ceará e Pernambuco), dois no Sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro) e um no Sul (Rio Grande do Sul), para início de conversa é preciso lidar com grandes desafios logísticos.

"Tenho que pensar como faço a logística e o transporte de uma massa reciclada do Ceará até Santa Catarina com valor econômico competitivo", exemplifica.

Além do fato de atuar em um mercado dominado por homens. "Conforme vamos adentrando camadas desse mundo masculino, aí tem o fato de eu ser mulher, de eu ser nordestina", pontua a jovem branca, "nascida numa cidade preta como Salvador".

Na Solos, dos 15 trabalhadores, 12 são mulheres. Saville destaca que 60% dos catadores são do sexo feminino.

Mulheres que em projetos puxados pela Solos, como o Re-Ciclo, no Ceará, veem a renda passar dos R$ 300 para R$ 1.700 —já que conseguem vender não só alumínio, mas vidro, plástico e papelão, a preços acima do mercado.

Resultados que alimentam o propósito de uma jovem que aos 20 anos acumulava 10 prêmios de empreendedorismo.

"Essa força que tenho veio das mulheres, que, como minha mãe e minhas tias, sempre estiveram me educando e me fazendo sentir especial", diz Saville, filha única de um casal de classe média alta e que se assume lésbica.

Graduada em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia, ela morou em Madri, passou por grandes empresas, como Oi e Braskem, e foi voluntária na ONG Teto.

"O lixo é simbólico de todas as vulnerabilidades. Toda cidade suja é uma cidade pobre. Foi isso que me sensibilizou quando comecei a ir para a periferia como voluntária", diz ela.

"Como mulher LGBT e nordestina, fundei a startup no Nordeste com a missão de superar de maneira coletiva os desafios da economia circular."

Rompia ali outro tabu, já que, diz o Report Female Founders, só 4,7% das startups foram fundadas por mulheres e só 2,41% do investimento destinados a elas chegam ao Nordeste.

O lixo é simbólico de todas as vulnerabilidades. Toda cidade suja é uma cidade pobre.

Saville Alves

fundadora da Solos

"Isso significa que, como os negócios definem o comportamento e a mentalidade numa sociedade capitalista como a nossa, estão perpetuando a visão machista, branca e elitizada."

Mais do que regionalismo, Saville atua no Nordeste por ser o segundo maior gerador de lixo do Brasil e a menor renda per capita por catador.

"Entrei até num programa que se chama Pró Líderes, para formar lideranças, e o meu papel lá é conseguir trazer atrativos e investimentos para o Nordeste", diz, frente às disparidades regionais.

O sucesso de Saville e da Solos começou a ser traçado com a meta de lixo zero no Carnaval de Salvador —que foi estendida ao Réveillon e às festas típicas do Nordeste.

Cooperativas de reciclagem são uma das parceiras da Solos, que atua em grandes eventos como o Carnaval de Salvador (BA), com estratégia de lixo zero - Renato Stockler/Folhapress

E a triangulação envolvendo gestão pública, grandes empresas (como Ambev, Heineken e Braskem) e catadores rendeu reputação e frutos.

Foram mil toneladas de materiais coletadas e destinadas à reciclagem, gerando renda de R$ 2,5 milhões para cerca de 5.000 catadores autônomos e 25 cooperativas, beneficiadas com melhorias de estrutura.

Ao atrair empresas, cooperativas, gestores públicos e lideranças do movimento nacional de catadores, Saville buscar unir parceiros para um ganha-ganha em todos os aspectos.

Ela sabe que o ponto comum entre o Hub Salvador, o moderno prédio em que Solos está instalada, e as ruas decadentes que são vistas a partir dele, no bairro do Comércio, é o lixo.

"Lixo é aquilo que ninguém quis. Ninguém entende que é seu. Acha que jogar para fora vai resolver", diz Saville.

Além da questão cultural, há uma extrema desigualdade quando se olha para o setor de reciclagem no Brasil.

"Já pensou quão injusta é a cadeia produtiva em que, numa ponta, está uma pessoa que ganha R$ 300 por mês, sem moradia fixa, assistência médica e educação formal, e, na outra, está uma multinacional que fatura bilhões por ano?", indaga.

A Solos, ela faz questão de lembrar, é um palíndromo, ou seja, uma palavra que pode ser lida, indiferentemente, da esquerda para a direita e vice-versa.

"Justamente porque a gente quer dar essa noção de circularidade", explica ela. "Assim", completa, "fazemos a vida de todos melhor: dos catadores às tartarugas marinhas".

Para isso, inovou ao adotar o uso de sistemas inteligentes, que envolvem de veículos elétricos (caso de Fortaleza), lastreamento do material coletado (o que permite que empresas apresentem ao governo federal a efetividade do reaproveitamento de seus produtos) e até a reciclagem porta a porta, além de ações educativas para mudar comportamentos.

"A Solos é um parceiro de primeira hora, porque tem pensamento e ações voltados aos catadores. E não é só no financiamento, é estrutural mesmo. Constrói com a gente, assessora juridicamente. É importante do ponto de vista ambiental, social e financeiro", avalia Genivaldo Nascimento, o Tico, diretor da Cooperguary, cooperativa localizada em Periperi, subúrbio de Salvador.

Parcerias exitosas e uma trajetória que levaram Saville a ser eleita pela Forbes em 2022 uma das 20 mulheres mais inovadoras do país.

Solos em números

  • 35 mil pessoas impactadas em projetos de inclusão produtiva e educação ambiental
  • 800 toneladas de lixo reciclados, 100 delas só no Carnaval-23, gerando R$ 736.330 para cooperativas e catadores
  • R$ 2,5 milhões em renda gerada para 5.000 catadores em seis estados desde 2019
  • R$ 1.200/R$ 1.700 é a renda do catador, que ganhava R$ 150/R$ 300, no Programa Re-Ciclo de Fortaleza
  • Brasil é o 4º maior produtor de lixo do mundo e recicla só 4% das 80 milhões de toneladas geradas por ano

Conheça os demais finalistas na plataforma Folha Social+. Vote e, se possível, doe para esta iniciativa na Escolha do Leitor até 20 de outubro em folha.com/escolhadoleitor2023.

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