Descrição de chapéu mudança climática

Trabalho de catadores deveria estar em debate climático, diz pesquisa

Pimp My Carroça e Cataki traçam perfil da categoria e indicam que profissionais precisam ser remunerados por serviços ambientais

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São Paulo

Catadores de materiais recicláveis são em sua maioria pardos e pretos, lidam com situações discriminatórias e não são remunerados pelo impacto de seus serviços ambientais. Essas foram algumas das conclusões de pesquisa feita com profissionais autônomos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

O objetivo do Pimp My Carroça e do Cataki, movimentos sociais que atuam em benefício de catadores em todo o país, com a pesquisa lançada hoje (22), é munir sociedade, empresas e governos de informações sobre o perfil e as condições em que vivem estes trabalhadores.

Catadores de recicláveis trabalham em média dez horas por dia, segundo pesquisa Pimp My Carroça e Cataki
Catadores de recicláveis são majoritariamente pretos e pardos e trabalham em média dez horas por dia - Divulgação/Pimp My Carroça

"Ainda que 90% de todo o material reciclado no Brasil seja coletado pelos catadores, a categoria segue na informalidade e invisível às políticas sociais", diz o grafiteiro Mundano, idealizador do Pimp My Carroça.

Na média das três cidades, 51% dos catadores se identificam como pardos e 25% como pretos. A maior parte (44,5%) tem entre 40 e 59 anos e 30% entraram na catação devido ao desemprego e outras situações de vulnerabilidade.

"A maioria [das pessoas] olha para o catador como que a última opção que o cara tinha era essa", diz um dos 421 entrevistados na pesquisa organizada pela consultoria Plano CDE em abril de 2022.

No olhar da sociedade, não é uma escolha, mas uma falta de opção. Não é o mesmo olhar que nós temos como profissional. É um serviço digno."

Pimp My Carroça e Cataki atuam para tirar profissionais da invisibilidade
Pimp My Carroça e Cataki atuam para tirar profissionais da invisibilidade - Divulgação/Pimp My Carroça

Em um recorte com usuários do aplicativo Cataki, que conecta catadores a geradores de resíduos, observou-se que trabalhadores que usam carroça coletam, em média, 340 quilos de recicláveis todos os dias.

Por mês, são 7,5 toneladas de materiais recicláveis recolhidos em um serviço ambiental não reconhecido e não remunerado por municípios.

"Assim como é necessário atribuir um valor à floresta em pé, aos rios limpos, às diversas fontes de emissão e captura de gases de efeito estufa, também é preciso fazê-lo em relação ao trabalho dos catadores", afirma Carlos Thadeu de Oliveira, coordenador de advocacy do Pimp My Carroça.

"Se queremos cidades sustentáveis e mitigação das mudanças climáticas, os catadores estão no centro dessa discussão."

Constrangimentos

Metade dos usuários do Cataki admitiu ter sido impedida de entrar em estabelecimentos comerciais para recolher resíduos. Outros 67% foram vítimas de preconceito por ser catador e 63% afirmaram terem sido vigiados de perto por seguranças.

"Tem uma metade que bate palma, mas tem outra metade que, se tivesse metralhadora, já teria me matado", afirmou uma catadora entrevistada.

Catadores de recicláveis usam sacolas, carrinhos de mercado, carroças ou automóveis para coletar resíduos
Catadores de recicláveis usam sacolas, carrinhos de mercado, carroças ou automóveis para coletar resíduos - Divulgação/Pimp My Carroça

A jornada de trabalho gira em torno de dez horas diárias por ruas esburacadas, ladeiras e longas distâncias até a venda dos recicláveis.

Pessoas em situação de rua costumam usar sacolas plásticas para recolher latinhas e outros materiais de valor. Os instrumentos evoluem para carrinho de mercado, carroça, bicicleta e veículo motorizado, que representa aumento de renda e qualidade de vida.

Autoestima e renda

A pesquisa apontou que catadores que utilizam o Cataki e se envolvem com ações dos movimentos têm mais autoestima e sensação de reconhecimento.

Em média, 83% afirmaram ter mais orgulho da profissão por conta do trabalho com o aplicativo.

Para mais da metade deles (57%), houve aumento da renda depois de terem começado a atender por meio do aplicativo. Mais de 75% dos usuários do app tem renda familiar superior a R$ 1.000, contra 32% daqueles que não utilizam a tecnologia.

Em 2020, a organização criou a campanha Renda Mínima pros Catadores na Pandemia e foi um dos destaques no Prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19.

Uma agenda de todos

O movimento lista uma série de recomendações à sociedade civil e ao poder público para melhorar as condições de trabalho dos catadores.

Profissionais têm jornada de dez horas diárias e enfrentam ladeiras e longas distâncias para reciclar materiais nas grandes cidades
Profissionais têm jornada de dez horas diárias e enfrentam ladeiras e longas distâncias para reciclar materiais nas grandes cidades - Divulgação/Pimp My Carroça

Entre eles, acesso a EPIs, incentivo à remuneração por serviços ambientais e investimento em infraestrutura e espaços para manejo dos recicláveis.

Empresas também são convocadas a se engajar na causa e repensar o ciclo de seus produtos.

"Se as empresas quiserem garantir o cumprimento de suas pautas ESG, é necessário pensar no catador autônomo como parte central do processo de logística reversa", diz Letícia Tavares, diretora executiva do Pimp my Carroça.

"A categoria está resolvendo uma parte importante do problema delas."

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