Descrição de chapéu Causas do Ano

Quem faz as políticas alimentares nunca passou fome, diz chef da quebrada

Edson Leite, Gisela Solymos e Daniela Canella participaram de live sobre alimentação

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São Paulo

Por que o brasileiro está comendo pior? A pergunta, que orientou um bate-papo ao vivo na TV Folha nesta segunda-feira (16), foi respondida de várias maneiras ao longo de uma hora de conversa transmitida pelo YouTube.

Preço, falta de informação, o apelo de alimentos ultraprocessados e até o horário das feiras livres foram alguns aspectos explorados pelos convidados do Papo de Responsa, promovido pelo projeto "Fome de quê? Soluções que inspiram", a atual Causa do Ano da Folha Social+.

A iniciativa, que traz a temática da insegurança alimentar para todas as plataformas do jornal, conta com o apoio da VR e da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

A empreendedora social Gisela Solymos, que trabalha há mais de 30 anos com o enfrentamento à desnutrição infanto-juvenil, relatou como o perfil de crianças de famílias vulneráveis foi mudando.

"A gente está vendo essa coexistência de desnutrição e obesidade. A desnutrição diminuiu, mas não desapareceu. E hoje a gente tem também o sobrepeso entre essas crianças."

Cofundadora do Cren (Centro de Recuperação e Educação Nutricional), Solymos contou sobre um projeto do qual participa atualmente em uma cidade rural de Alagoas. Entre as crianças atendidas, todas de famílias de baixa renda, houve mais casos de sobrepeso do que de desnutrição.

Daniela Canella, professora do Instituto de Nutrição da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), trouxe dados de um estudo recente coordenado por ela que avaliou 10 mil produtos vendidos em supermercados. Entre os ultraprocessados, mais de 97% tinham excesso de gordura, açúcar ou sódio.

Canella também destacou a influência do ambiente nas escolhas alimentares. "Ter acesso a alimentos saudáveis perto de casa é muito importante", disse.

Como exemplo, ela citou que as feiras livres estão muito mais presentes nos bairros de maior renda. "E mesmo quando elas estão em outros bairros, elas funcionam das 7h às 12h, em horário em que as pessoas estão trabalhando."

O chef Edson Leite, fundador da empresa social Gastronomia Periférica, ressaltou que comprar produtos saudáveis muitas vezes não é uma escolha para famílias de baixa renda.

"Se eu não posso escolher o que eu vou comer, eu como aquilo que está à minha disposição. E aquilo que está à disposição, no caso da mãe preta periférica, é o ultraprocessado, porque é mais barato que um pacote de feijão, de arroz", afirmou.

Leite, que oferece cursos gratuitos de gastronomia para moradoras da periferia, lembrou também da falta de tempo que permeia a vida dessas mulheres. "Se eu sou uma mãe que demora duas horas para ir pro trabalho e duas horas para voltar, quando é que eu vou cozinhar?"

Para o chef, cada pessoa deve buscar o autocuidado e escolher alimentos frescos, mas a responsabilidade não é apenas individual.

"A política pública é excludente por quê? Porque é feita por homens brancos, ricos, formados fora da periferia. Quem está sentado na cadeira da Secretaria de Educação nunca estudou numa escola pública da periferia. Quem faz as políticas alimentares nas grandes cidades nunca passou fome."

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