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Deputado admite sondagem,
mas nega ter trocado voto
por dinheiro

[Reportagem publicada em 13 de maio de 1997]


da enviada especial a Rio Branco e da Sucursal de Brasília

A Folha tentou localizar o deputado Ronivon Santiago (PFL-AC) durante toda a tarde de ontem. Em seu gabinete, os assessores disseram que ele estava viajando, mas não informaram para onde.

Às 15h45, a Folha conversou com o assessor do deputado José Rebouças, que disse ser seu chefe de gabinete. Rebouças afirmou que a conversa gravada só podia ser "uma brincadeira".

Informou ainda que a Presidência da República tem um "ofício do deputado Santiago afiançando insofismável apoio às reformas constitucionais". "Achamos que o país está muito atrasado. O ofício engloba todas as reformas, inclusive a reeleição", disse.

"A Presidência da República era com quem poderíamos negociar, mas, como existe o ofício, a denúncia não tem sentido", afirmou Rebouças.

O assessor também fez acusações à Folha. Disse que "escuta telefônica é coisa de direita, antidemocrática" e que "a privacidade do cidadão é inviolável". Rebouças se disse surpreso com o fato de o jornal estar "se prestando a esse trabalho".

Às 17h45, a Folha informou, em detalhes, ao secretário parlamentar do deputado, Jorge Motta, o teor da reportagem. Motta disse que Rebouças já tinha entrado em contato com o deputado.

Às 18h45, a reportagem esteve no apartamento do parlamentar, na Asa Norte, em Brasília. Ninguém atendeu e o porteiro informou que o deputado estava fora desde o final de semana.

Às 18h45, o secretário parlamentar, Jorge Motta, informou que tinha entrado, pessoalmente, em contato com o deputado Ronivon. "Vários jornalistas ligaram à procura dele. O deputado vai ligar para a Folha", disse Motta, o que não havia ocorrido até o fechamento desta edição.

Chicão Brígido
O deputado federal licenciado Francisco (Chicão) Brígido (PMDB-AC) negou ontem que tenha recebido dinheiro para votar a favor da reeleição, mas admitiu ter sido sondado com esse objetivo.

"No momento em que discutíamos a reeleição, o deputado Ronivon Santiago (PFL-AC) ligou para a minha casa e disse que o governador (Orleir Cameli-AC) queria conversar comigo para pedir o meu voto a favor. Disse ainda que o governador estava disposto a ajudar", declarou Brígido.

"É difícil você saber (o que ele estaria oferecendo). Respondi que não discutiria política nesse nível, mas que receberia o governador porque meu gabinete recebia qualquer pessoa." Segundo ele, todos os deputados sabiam que Ronivon Santiago agia como intermediário do governador do Acre pedindo votos pela reeleição.

O deputado, que desde a última quarta-feira ocupa a Secretaria Especial de Representação Política e Cidadania de Rio Branco, declarou ter mudado seu voto pelos "interesses" do Acre.

"Eu era a favor da reeleição só para os próximos governantes porque, para quem tem projetos políticos maiores, a reeleição era um tiro no pé. Mas o governador e o prefeito Mauri Sérgio (PMDB-AC) me procuraram dizendo que os interesses do Estado estavam em jogo, que poderíamos sofrer represálias e que meu voto não resolveria nada."

Brígido foi eleito vice-prefeito nas eleições municipais do ano passado e renunciou ao cargo para poder manter seu mandato como deputado federal. Na terça-feira passada disse ter pedido licença da Câmara dos Deputados para assumir a secretaria.

Zila Bezerra
A deputada Zila Bezerra (PFL-AC) disse que a denúncia envolvendo seu nome com a negociação de votos "não tem fundamento". A deputada afirmou que estava disposta a votar contra a emenda, por estar insatisfeita com o governo.

Acabou mudando seu voto na última hora, porque foi recebida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto e expôs suas queixas.

Zila queixava-se de que o governo não determinava a criação de duas áreas de livre comércio no Acre, nos municípios de Brasiléia e Cruzeiro do Sul, apesar de já haver lei determinando a criação, de sua autoria. Até o dia da votação da emenda, seu interlocutor era o ministro do Planejamento, Antonio Kandir. Por intermédio de Kandir, a deputada mandou um recado a FHC: votaria contra, se não fosse recebida por ele.

No dia da votação, a ex-deputada Rose de Freitas levou a Zila um convite do presidente para que ela fosse ao Palácio do Planalto, onde revelou sua queixa. Até hoje as áreas não saíram do papel.

Quanto à conversa telefônica na qual o deputado Ronivon Santiago (PFL-AC) diz que os deputados acreanos receberam R$ 200 mil para aprovar a reeleição, Zila diz não ter "fundamento".

A deputada afirmou que Ronivon Santiago é "doido" e "extremamente brincalhão". Quanto aos deputados citados por ele _Osmir Lima e João Maia_, classificou-os como "sérios".

Osmir Lima
O deputado Osmir Lima (PFL-AC), citado pelo deputado Ronivon Santiago (PFL-AC), em conversa telefônica, declarou que a afirmação "só pode ter sido uma brincadeira de mau gosto".

Lima disse que vai propor processo contra Santiago ou qualquer outra pessoa que insistir na versão da troca do voto por dinheiro. "Não tenho nenhuma participação nessa história", afirmou.

Lima disse ter tentado localizar Santiago ontem, mas não conseguiu encontrá-lo.

João Maia
O deputado federal João Maia também negou que tenha recebido pagamento. Disse ter votado a favor da reeleição por convicção. Ele admitiu ter feito exigências para seu Estado em troca do voto.

 Textos citados

Deputado diz que vendeu seu voto a favor da reeleição por R$ 200 mil
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Reprodução da Primeira Página de 13/5/1987, com furo sobre licitação da ferrovia Norte-Sul
Fac-símile da capa de 13/5/ 1997, com texto sobre venda de votos na emenda da reeleição

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