II - Lançamentos
"Sou uma escritora insatisfeita",
diz Lygia Fagundes Telles
 
 
 
Caio Guatelli - 19.04.2000/Folha Imagem
 
   
  A escritora Lygia Fagundes Telles, a "Dama da Bienal", em sua casa

 

ANDRÉ TARCHIANI SAVAZONI
repórter da Folha Online

Uma das principais homenageadas da 16ª Bienal Internacional do Livro, grande escritora e com 14 livros publicados, Lygia Fagundes Telles diz ser incansável e perfeccionista.

"Sou uma escritora muito insatisfeita", disse à Folha Online.

Durante mais de duas horas, a escritora distribuiu autógrafos no estante da Editora Rocco na noite de sábado (29). Ela lança nesta Bienal o livro de contos "Invenção e Memória" (editora Rocco, 128 páginas, R$ 15).

A escritora mostrou estar próxima do público. Esbanjando simpatia e bom humor, Lygia cativou ainda mais o público. A cada pessoa que chegava com seu livro debaixo do braço, ela perguntava o nome completo, a origem das famílias, se eles gostavam do seu trabalho etc.

Lygia estreou na literatura em 1954 e carrega em seu currículo 14 livros. Além da sessão de autógrafos, a escritora participou do Salão de Idéias, onde discutiu e analisou a paz e a igualdade entre os povos ao lado do bispo de Dili (capital do Timor Leste), Ximenes Belo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1996.

Além disso, na segunda-feira (1º de maio) estará de volta à Bienal para receber uma homenagem mais oficial, quando será tema de um debate no Salão de Idéias.

Novo trabalho

Tranquila e de fala mansa, Lygia disse que não sabe onde começam e terminam suas memórias, tema do seu novo lançamento, "Invenção e Memória".. "Não sei se algumas dessas personagens são eu mesma ou se inventei essa menina", afirmou.

Lygia se disse muito contente por ser homenageada neste ano, principalmente por receber o "prêmio" ainda em vida. Citou Tomás Antônio Gonzaga, poeta da Inconfidência Mineira: "as glórias que vêm tarde já vêm frias."

Para ela, "escrever é uma busca constante da inatingível perfeição". Logo após encerrar a sessão de autógrafos, Lygia Fagundes Telles conversou com a Folha Online. Confira trechos da entrevista:

Folha Online - A senhora é o grande destaque da Bienal deste ano, a "Dama da Bienal". O que acha disso?

Lygia Fagundes Telles - Eu acho que as pessoas devem ser homenageadas enquanto estão vivas. Como estamos próximos da data da morte de Tiradentes, me lembro de um poema de Tomás Antônio Gonzaga, o poeta da Inconfidência Mineira: "As glórias que vêm tarde já vêm frias". Fiquei contente com a escolha e a aceitei muito emocionada.

Folha Online - A senhora é exigente com seu trabalho? Já se refez da surpresa da homenagem?

Lygia - Não paro muito para ficar curtindo essas coisas. Sou uma escritora muito insatisfeita. Quando escrevo, volto diversas vezes, refaço o texto até cansar. Tenho uma vontade artesanal de dar o melhor possível. Às vezes chego até a ser insegura. Para mim, escrever é uma busca constante da inatingível perfeição. Agora, quando a Rocco reeditou todos os meu livros, pedi ao editor para fazer uma revisão das minhas obras e foi uma grande alegria porque havia muita coisa para corrigir. O que acontece é que muitas vezes nossos textos passam pela mão de revisores e eles acabam fazendo algumas "contribuições" para os nossos trabalhos (risos). Fiz algumas mudanças superficiais e corrigi alguns deslizes gráficos. Fiquei muito contente.

Folha Online - Em seu novo livro, "Invenção e Memória", onde começam e onde terminam essas memórias?

Lygia - Ah, eu não consigo separar a memória da invenção, do imaginário. Não sei se algumas dessas personagens são eu mesma ou se inventei essa menina. O livro retrata minha infância e adolescência. Gostei muito de fazer essa mistura de realidade e ficção.

Folha Online - Há um conto em seu novo livro, "Dia de Dizer Não". É difícil falar não?

Lygia - Hoje em dia estou tomando mais cuidado com isso. O problema é que os invasores não são do espaço, mas sim terrestres, que invadem seu espaço, a sua privacidade. O ser humano não está mais respeitando o próximo. Temos que viver como Jesus Cristo, em toda sua sabedoria que nos mostrou, tendo amor ao próximo. Atualmente, o que vemos, infelizmente, é ódio ao próximo.

Folha Online - A senhora estava há mais de duas horas dando autógrafos e continua com este sorriso no rosto. Não se cansa nunca?

Lygia - Tenho muito bom humor e esse é o meu lema de vida. O autor que mais gosto é Carlos Drummond de Andrade, que sempre estava feliz, que escrevia com felicidade. O dia que eu perder o bom humor é porque chegou a hora de morrer (risos).

Confira a bibliografia de Lygia Fagundes Telles:

1954 Ciranda de Pedra (romance)
1963 Verão no Aquário (romance)
1972 Antes do Baile Verde (contos)
1973 As Meninas (romance)
1977 Seminário dos ratos (contos)
1980 A Disciplina do Amor (miniaturas)
1981 Mistérios (contos)
1984 Os Melhores Contos de Lygia Fagundes Teles (contos)
1987 Venha Ver o Pôr-do-Sol (contos)
1989 As Horas Nuas (romance)
1991 A Estrutura da Bolha de Sabão (contos)
1993 Capitu, roteiro do romance Dom Casmurro (parceria com Paulo Emilio Salles Gomes)
1996 A Noite Escura e Mais Eu (contos)
1997 Oito Contos de Amor (contos)

 


 
 

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