ANDRÉ
TARCHIANI SAVAZONI
repórter da Folha Online
Uma
das principais homenageadas da 16ª Bienal Internacional do
Livro, grande escritora e com 14 livros publicados, Lygia Fagundes
Telles diz ser incansável e perfeccionista.
"Sou uma escritora muito insatisfeita",
disse à Folha Online.
Durante
mais de duas horas, a escritora distribuiu autógrafos no
estante da Editora Rocco na noite de sábado (29). Ela lança
nesta Bienal o livro de contos "Invenção e Memória"
(editora Rocco, 128 páginas, R$ 15).
A
escritora mostrou estar próxima do público. Esbanjando
simpatia e bom humor, Lygia cativou ainda mais o público.
A cada pessoa que chegava com seu livro debaixo do braço,
ela perguntava o nome completo, a origem das famílias, se
eles gostavam do seu trabalho etc.
Lygia
estreou na literatura em 1954 e carrega em seu currículo
14 livros. Além da sessão
de autógrafos, a escritora participou do Salão de
Idéias, onde discutiu e analisou a paz e a igualdade entre
os povos ao lado do bispo de Dili (capital do Timor Leste), Ximenes
Belo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1996.
Além
disso, na segunda-feira (1º de maio) estará de volta
à Bienal para receber uma homenagem mais oficial, quando
será tema de um debate no Salão de Idéias.
Novo
trabalho
Tranquila
e de fala mansa, Lygia disse que não sabe onde começam
e terminam suas memórias, tema do seu novo lançamento,
"Invenção e Memória"..
"Não
sei se algumas dessas personagens são eu mesma ou se inventei
essa menina", afirmou.
Lygia
se disse muito contente por ser homenageada neste ano, principalmente
por receber o "prêmio" ainda em vida. Citou Tomás
Antônio Gonzaga, poeta da Inconfidência Mineira: "as
glórias que vêm tarde já vêm frias."
Para
ela, "escrever é uma busca constante da inatingível
perfeição". Logo
após encerrar a sessão de autógrafos, Lygia
Fagundes Telles conversou com a Folha Online. Confira trechos da
entrevista:
Folha
Online - A senhora é o grande destaque da Bienal deste ano,
a "Dama da Bienal". O que acha disso?
Lygia
Fagundes Telles -
Eu acho que as pessoas devem ser homenageadas enquanto estão
vivas. Como estamos próximos da data da morte de Tiradentes,
me lembro de um poema de Tomás Antônio Gonzaga, o poeta
da Inconfidência Mineira: "As glórias que vêm
tarde já vêm frias". Fiquei contente com a escolha
e a aceitei muito emocionada.
Folha
Online - A senhora é exigente com seu trabalho? Já
se refez da surpresa da homenagem?
Lygia
-
Não paro muito para ficar curtindo essas coisas. Sou uma
escritora muito insatisfeita. Quando escrevo, volto diversas vezes,
refaço o texto até cansar. Tenho uma vontade artesanal
de dar o melhor possível. Às vezes chego até
a ser insegura. Para mim, escrever é uma busca constante
da inatingível perfeição. Agora, quando a Rocco
reeditou todos os meu livros, pedi ao editor para fazer uma revisão
das minhas obras e foi uma grande alegria porque havia muita coisa
para corrigir. O que acontece é que muitas vezes nossos textos
passam pela mão de revisores e eles acabam fazendo algumas
"contribuições" para os nossos trabalhos
(risos). Fiz algumas mudanças superficiais e corrigi alguns
deslizes gráficos. Fiquei muito contente.
Folha
Online - Em seu novo livro, "Invenção e Memória",
onde começam e onde terminam essas memórias?
Lygia
-
Ah, eu não consigo separar a memória da invenção,
do imaginário. Não sei se algumas dessas personagens
são eu mesma ou se inventei essa menina. O livro retrata
minha infância e adolescência. Gostei muito de fazer
essa mistura de realidade e ficção.
Folha
Online - Há um conto em seu novo livro, "Dia de Dizer
Não". É difícil falar não?
Lygia
-
Hoje em dia estou tomando mais cuidado com isso. O problema é
que os invasores não são do espaço, mas sim
terrestres, que invadem seu espaço, a sua privacidade. O
ser humano não está mais respeitando o próximo.
Temos que viver como Jesus Cristo, em toda sua sabedoria que nos
mostrou, tendo amor ao próximo. Atualmente, o que vemos,
infelizmente, é ódio ao próximo.
Folha
Online - A senhora estava há mais de duas horas dando autógrafos
e continua com este sorriso no rosto. Não se cansa nunca?
Lygia
- Tenho
muito bom humor e esse é o meu lema de vida. O autor que
mais gosto é Carlos Drummond de Andrade, que sempre estava
feliz, que escrevia com felicidade. O dia que eu perder o bom humor
é porque chegou a hora de morrer (risos).
Confira
a bibliografia de Lygia Fagundes Telles:
1954 Ciranda de Pedra (romance)
1963 Verão no Aquário (romance)
1972 Antes do Baile Verde (contos)
1973 As Meninas (romance)
1977 Seminário dos ratos (contos)
1980 A Disciplina do Amor (miniaturas)
1981 Mistérios (contos)
1984 Os Melhores Contos de Lygia Fagundes Teles (contos)
1987 Venha Ver o Pôr-do-Sol (contos)
1989 As Horas Nuas (romance)
1991 A Estrutura da Bolha de Sabão (contos)
1993 Capitu, roteiro do romance Dom Casmurro (parceria com
Paulo Emilio Salles Gomes)
1996 A Noite Escura e Mais Eu (contos)
1997 Oito Contos de Amor (contos)
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