Comemoramos
esta semana a independência do país. Como sempre,
desfiles, discursos e bandeiras hasteadas simbolizam o orgulho
nacional, cercados de um clima de formalismo oficial e desinteresse
privado _ ruas cheias de militares, palanques apinhados
de políticos e praias lotadas.
O
que me incomoda, porém, nas festividades não
é a formalidade oficial e o desinteresse dos cidadãos,
o que coloca em evidência o fato de que não
temos tanto assim orgulho de nossa independência.
Nem de nossa nação. E, vamos reconhecer, com
certa dose de razão, tão longe ainda de alcançar
um maior padrão social, apesar de tantas possibilidades
e riquezas.
Incomoda o próprio conceito de independência.
Não existe independência de um país
sem a independência dos cidadãos _ assim como
não poderia existir democracia junto com escravidão.
Ninguém que observe as estatísticas sociais
brasileira pode deixar de considerar que , aos poucos, vamos
melhorando; basta notar como cai o índice de mortalidade
infantil, sobe a expectativa de vida, cresce o número
de eleitores e progridem as matrículas escolares.
Pelas mesmas estatísticas, vemos como são
avassaladores, neste começo de milênio, os
vários níveis de analfabetismo: aquele mais
rudimentar, quando o indivíduo nada lê ou escreve;
o funcional, quando se lê, mas não se entende;
e o mais recente, o digital, a impossibilidade de usufruir
da era da informação.
Se juntarmos essas três categorias, vemos que a imensa
maioria da população não conseguiu
equipar-se para um grau básico de autonomia e independência,
por falta de educação.
A comemoração do Dia da Independência
é, assim, no mínimo incompleta.
Leia
colunas anteriores
29/08/2000 - Os
alunos de administração estão despreparados
22/08/2000 - O
cotidiano das pequenas irritações e selvagerias
15/08/2000 - Insegurança
privada
08/08/2000 - Paulo Renato anuncia
amanhã faculdades que devem ser fechadas
1º/08/2000 - Cada
um por si e Deus por todos