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14 de Fevereiro de 2001
  De Hitler à China
 

Não deveria haver grande surpresa na acusação, contida em livro de um jornalista inglês que acaba de ser mundialmente lançado, de que a portentosa IBM contribuiu com a sua tecnologia para tornar mais maciça a matança de judeus pelo regime nazista alemão.

Hoje, passados tantos anos e implantado um certo ambiente, digamos, politicamente correto, pode ser fácil para as empresas tratarem de limpar suas imagens e retificarem pecados do passado, seja esse ou não o caso da IBM. Mas certamente foi o de inúmeras outras grifes lustrosas do mundo dos negócios.

Mas o fato é que o comportamento político correto é antes uma exceção do que uma regra entre as companhias, grandes, pequenas ou médias.

O que as move, acima de tudo, é o lucro, em qualquer circunstância. Parece acaciano dizer tal coisa, mas o discurso politicamente correto e socialmente responsável tem sido repetido com tanta ênfase ultimamente que obscurece até constatações tão elementares.

É só tirar o foco de Hitler e do nazismo para ver que comportamentos politicamente incorretos _ou, mais precisamente, comportamentos bárbaros_ são comuns no mundo empresarial.

Não se conhece, por exemplo, nenhuma grande empresa que tenha parado de fazer negócios com o Chile quando o regime militar chefiado pelo hoje prisioneiro general Augusto Pinochet promoveu o banho de sangue hoje conhecido. Muito ao contrário: financiaram a desestabilização do regime constitucional de Salvador Allende.

Vale idêntico raciocínio para governos igualmente monstruosos, como o de Mobutu, no antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo), ou o dos generais argentinos no período 1976/1983.

Se se quiser chegar mais ao presente, é só prestar atenção ao mais recente relatório da consultoria AT Kearney sobre investimento externo direto no planeta. A China desbancou o Reino Unido como segunda destinação favorita dos investimentos, na opinião dos executivos-chefes de mil das maiores companhias do planeta.

A China pode não ser precisamente a Alemanha nazista, mas seu recorde em matéria de direitos humanos está muito, mas muitíssimo longe, de ser elogiável.

Não importa. Importa, para o empresariado, o retorno dos investimentos. Se daqui a 50 anos alguém publicar um livro contando como ajudaram a matar dissidentes, o tempo já terá esmaecido os fatos e os lucros já terão sido devidamente embolsados.



Leia colunas anteriores:
06/02/2001 - A nova fuga dos judeus
27/12/2000 - Política, economia e nuvens
20/12/2000 - O que é bom para os EUA...
13/12/2000 - As donas do mundo
06/12/2000 - Previsões, ora as previsões

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