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  19 de fevereiro de 2001
  Os EUA ainda vêem um México amarelo
 

Há barreiras que a globalização e a integração comercial demoram para tirar da cabeça das pessoas. Talvez nunca saiam. Há anos, o México se esforça para reduzir a visão deturpada e negativa que os norte-americanos têm de seus vizinhos ao Sul.

O Nafta ajudou a desfazê-la, assim como milhões de dólares gastos pelo ex-presidente Carlos Salinas (aquele que foi dormir neoliberal e acordou bandido) para divulgar o melhor da cultura mexicana em museus de Nova York, Chicago e Los Angeles.

Mas essa visão permanece até nas tentativas mais realistas e esforçadas dos norte-americanos para caracterizar seus laços com os mexicanos.

No festejado "Traffic", filme que trata do problema das drogas com uma franqueza acima da normal, foram usados filtros amarelos e ambientes poeirentos para todas as cenas abaixo do Rio Grande.

Os mexicanos que aparecem na fita são sujos e até o gabinete de uma alta autoridade na capital mexicana, longe da fronteira, é anárquico, bagunçado.

Diferentemente, as imagens gravadas nos EUA são límpidas. É verdade que o filme trata todos, mexicanos e norte-americanos, como hipócritas, mas fica claro que os primeiros são hipócritas insalubres e os segundos, hipócritas com higiene.

O efeito é lindo, plasticamente falando, mas incomoda. Sei que estou sendo chato. Sei que cidades mexicanas na fronteira com os EUA, como Tijuana ou Ciudad Juarez, realmente têm aparência poeirenta. Mas bastaria filmá-las como são, sem o empurrão do filtro.

Há coisas piores em cartaz, como o filme "The Mexican", com Brad Pitt e Julia Roberts, em que o mesmo México poeirento é revisitado de uma forma ainda mais torta e imbecil.

Esses filmes são lançados num momento em que fica mais clara a real intenção dos EUA com as zonas de livre comércio. A conversa de "uma só América", usada com frequência pelo presidente George W. Bush, é falsa. Os norte-americanos querem comércio livre e fronteiras fechadas. O presidente mexicano Vicente Fox já percebeu isso. Ao menos em público, parece pressionar os EUA a abrir sua fronteira para mexicanos em busca de emprego.

Fox não se contenta com uma zona de livre comércio. Acha que ela só faz sentido se for uma etapa para a integração total entre os dois países. Com isso, o presidente mexicano expõe a principal hipocrisia do discurso "fraterno" de Washington.

O dilema dos brasileiros é mais simples. O Brasil ao menos tem a sorte de ficar longe dos EUA.


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