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Amir Labaki
labaki@uol.com.br
  30 de novembro
  Menos é mais
  Amsterdã - Uma praga que atingiu o cinema de ficção no ocaso dos anos 90 chega agora aos documentários. É o fetiche da longa duração. A tendência que marcou o Oscar do ano passado e Cannes 2000 acompanha nesses dias o principal festival internacional de documentários, o de Amsterdã, na Holanda.

Os parâmetros, claro, não são os mesmos para ficção e não-ficção. Noventa minutos é em geral o piso de duração dos primeiros e o teto dos segundos, nas sessões comerciais tradicionais. No caso do documentário, estes limites são historicamente mais frouxos, dada, por exemplo, a importância fundamental da produção não-ficcional de curta-metragem. Para ficarmos apenas entre nós, a série Brasilianas de Humberto Mauro, "Aruanda" de Linduarte Noronha, "Di" de Glauber e "Ilha das Flores" de Jorge Furtado são - lembre-se - curtas.

O argumento foi bem brandido aqui pelo crítico e historiador holandês Hans Schoots numa cerimônia no início da semana. Era o lançamento por Schoots da versão em inglês de sua obrigatória biografia de Joris Ivens (Living Dangerously -A Biography of Joris Ivens, Amsterdam University Press, info@aup.uva.nl). Ao invés dos agradecimentos de praxe, Schoots utilizou a própria obra de Ivens para alfinetar o inchaço do documentário recente. "Ivens rodou 72 filmes. 46 eram curtas. Entre eles, alguns dos mais importantes, como "Chuva" e "A Ponte"", lembrou o biógrafo. "Nenhum dos filmes concorrentes no festival é um curta".

De fato, um único dos 27 concorrentes ao prêmio Joris Ivens de melhor filme neste ano tem menos de uma hora. Quatro beiram as duas horas. A questão, sabe-se, é mais relativa do que absoluta. Há filmes cuja complexidade estrutural ou curva expositiva exige longas durações -a prova está no cinema essencial de Marcel Ophuls (Hotel Terminus) e Johan van der Keuken (Amsterdam Global Village).

Nada parecido apareceu pelas telas de Amsterdã. O comentário mais corrente é o da monotonia e repetitividade da maior parte dos concorrentes -em todas as categorias (há disputas ainda para video e filmes de estreantes. Os vencedores serão conhecidos na noite de hoje).

O estigma da produção televisiva explica parte dos excessos. O limite de 52 minutos tornou-se norma para obras realizadas em parceria com TVs -virtualmente toda a produção européia contemporânea, rumo que o Brasil tarda em seguir. Com isso, documentários com menos de uma hora de duração passaram a ser discriminados como obras menos criativas ou autorais dada a formatação em sintonia com a televisão.

É uma hiper-simplificação. Claro que há uma distinção entre documentários e especiais jornalísticos, filmes autônomos e mini-séries. Não vejo, porém, como discutir a estatura estética e cinematográfica de "Notícias de Uma Guerra Particular" (1999), de João Moreira Salles e Kátia Lund, para ficar num exemplo nacional recente, ou do clássico "Primary" (1961), rodado pelos irmãos Maysles durante a campanha presidencial de JFK, para lembrar um
dentre os tantos clássicos do "cinema-direto" cuja vitrine preferencial também foi a televisiva. Ambos, aliás, têm menos de uma hora de duração.

O documentarismo internacional teria muito a ganhar recuperando a concisão de um Ivens, um Álvarez, um Grierson, um Cavalcanti. Resta torcer para que os realizadores brasileiros saibam evitar o estigma do "longa pelo longa" neste momento de retomada de produção.

A mensagem de Amsterdã é clara: nem sempre tamanho é documento.




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